Luciano Gonçalves, presidente do Conselho de Arbitragem, disse que «aqui ninguém rebenta com ninguém». Frase seguramente contributiva para a concórdia entre os agentes do futebol.
No meio de turbulência severa, de queixas e acusações, de insultos e ameaças, o presidente do Conselho de Arbitragem e o diretor técnico para a arbitragem, respetivamente Luciano Gonçalves e Duarte Gomes, subiram ao palco para defender os árbitros, partilhar pontos de vista e inquietações de quem apita e quase sempre é incompreendido pelos adeptos, reconhecer erros e prometer consequências para quem falha — a famosa jarra deixou de existir para castigar e passa a utilizar-se (nada como um eufemismo) a gestão profilática, que também assegurará a responsabilização do erro.
Foi, no fundo, inaugurada forma de comunicar que se saúda e, depois de quase 31 minutos pedagógicos e introdutórios, responderam a perguntas de jornalistas. A atualidade, nomeadamente o que se passou recentemente na Luz ou no Dragão, dominou, depois, aquele momento mediático. Talvez não fosse o tempo e o espaço certos para falar de lances em concreto, apesar da transparência defendida e de haver programas específicos na televisão para analisá-los. Mas é incompreensível que tenha sido perdido oportunidade para lidar de forma adulta, clara e objetiva com o que se passou no último fim de semana, em particular o lance de penálti de que se queixa o Benfica, uma vez que sobre esse foi questionado Duarte Gomes.
Faço, desde já, uma declaração de interesses. Duarte Gomes colaborou com A BOLA nove anos e não consigo contar as vezes, por terem sido tantas, que com ele trabalhei diretamente — só consigo dizer o melhor de Duarte Gomes e não encontro alguém mais qualificado para desempenhar as funções de diretor técnico ou até outras com ainda maiores responsabilidades.
Isso não me poderá impedir, no entanto, de entender, no mínimo, que foi um erro ter afirmado que desconhecia as declarações de Rui Costa depois do jogo com o Casa Pia. Prestou-se à interpretação de que preferiu enfiar a cabeça na areia a enfrentar um assunto incómodo, quando ali estava para ser transparente. Porque se devemos considerar os erros dos árbitros à luz da visibilidade, do timing, do impacto desportivo, faltou a especial sensibilidade para considerar a circunstância e os efeitos de o presidente do Benfica ter afirmado, entre outras coisas, que «assim se decidem campeonatos», referindo-se aos recentes lances na Luz e nos Açores, neste caso no jogo entre o Sporting e o Santa Clara. O que está em causa é, justamente, a visibilidade, o timing e o impacto desportivo do que se passou em Lisboa e em Ponta Delgada. E já que teve o cuidado de dizer que o caso em concreto não diz respeito a aplicação de lei, mas a conjunto de premissas em determinado sentido, poderia também ter revelado se, na opinião dele, António Silva cometeu ou não penálti.
Ao lado, Luciano Gonçalves — autor nessa conferência de Imprensa da frase «aqui ninguém rebenta com ninguém», seguramente contributiva e convocatória para a concórdia entre os agentes do futebol — prometeu «gerir Gustavo Sousa [sim, enganou-se no nome] como qualquer outro árbitro». Seja lá o que isso for.
Logo depois dessa pergunta sobre as declarações de Rui Costa, quem liderava a gestão da conferência de Imprensa, anunciou que por terem passado já 45 minutos se iria «tentar fechar isto ao máximo», ou seja, acabar rapidamente com mais questões.
Esta nova forma de comunicar, que mais uma vez se saúda, está longe de ser um produto acabado, e só poderá funcionar desde que não fiquem perguntas por fazer, ou melhor, respostas por dar. O caminho depressa pode ser atalhado. Assim todos queiram.
Nuno Paralvas, in a Bola

Whiskas saquetas.
ResponderEliminarDuarte Gomes até pode ser um homem bom, mas padece de um mal comum a quase toda a gente neste burgo: defende a sua classe, mais que qualquer outra coisa.
Duarte Gomes deveria estar ao serviço do futebol. Mas não está. Está ao serviço dos árbitros. Isso é patente em todo o seu discurso - tanto nas novas funções como, já o era, n’ A Bola.
A rábula da interpretação é infinita.
Uma bola bate no peito de um defesa e sobra para o braço? O International Board afirma que não é pênalti. A avaliação é factual.
Mas não em Portugal. Não para Duarte Gomes. Não para Luciano.
A rábula da interpretação - inútil neste caso concreto - não é usada porque defende ou agride o Benfica. É usada porque defende o árbitro.
O árbitro falha? Leva um afastamento profilático.
O assistente, árbitro principal, VAR e AVAR (e AVAR extra) da Taça de Portugal erram TODOS clamorosamente num lance indesculpável, inaceitável, grave e com consequências enormes?
Nada acontece. Já todos os CULPADOS estão no ativo. Nunca se ouviu um pedido de desculpas ou uma admissão de responsabilidade de ninguém. O máximo terá sido a expressão “fizemos o nosso luto”… que continua sem ser compreendida por ninguém. Que vestem de preto, sabemos nós.
Nada mudará enquanto não existir exigência dentro do próprio edifício da arbitragem, e real admissão das suas responsabilidades, com as necessárias consequências. Exoneração dos árbitros com erros gravosos.
E a.utilização de árbitros estrangeiros em Portugal. Já.