Goleadas, poucas surpresas, alguma emoção mas fundamentalmente uma soma de partidas de futebol que agrada a poucos e prejudica muitos. De ano para ano os jogos de qualificação das seleções para Europeus e Mundiais vão perdendo interesse porque há cada vez mais vagas (veja-se o caso do Mundial 2026 que terá pela primeira vez 48 equipas), tornando a passagem às fases finais meros atos burocráticos quer para as seleções mais cotadas como para as de classe média.
É um modelo que não favorece as próprias equipas nacionais: os selecionadores não têm tempo para trabalhar e evoluir conceitos, limitando-se a reforçar laços com um grupo que tende a ser fechado porque já vem de trás e não permite experimentalismos devido às janelas de oportunidade muito curtas.
Para os grandes clubes (aqueles que fazem mover a roda) é ainda pior. Os treinadores veem partir os seus melhores jogadores, ficam com plantéis reduzidos e por esse motivo sem tempo, espaço e recursos humanos para reforçar metodologias.
Para os futebolistas também são mais os prejuízos que benefícios: desgaste entre viagens, mudanças abruptas de métodos de treino e, em alguns casos, lesões inoportunas. Veja-se a guerra entre a federação espanhola e o Barcelona por causa de Lamine Yamal: tendo o extremo uma daquelas lesões que podem arrastar-se no tempo (pubalgia), esta teria sido a terceira data FIFA em que o esquerdino iria jogar por La Roja com limitações (e está à vista que as tem desde há muito tempo). E como quem lhe paga o ordenado é o clube, a balança pendeu para o azul grená.
Estamos curiosos para perceber os planos da UEFA relativamente à calendarização das próximas qualificações, mas é desejável que termine este modelo de paragens nas competições nacionais em setembro, outubro e novembro. Quebra os ciclos e o tempo de cada data FIFA é demasiado curto para que algo verdadeiramente construtivo se faça.
Será muito mais benéfico criar uma pausa maior e concentrar os interesses das seleções em janelas temporais mais longas e adequadas – preparar dois jogos em menos de uma semana com dois ou três treinos no total não beneficia ninguém. Nem o público (aquele que não vai ao estádio), que tem uma tendência para se desligar temporariamente do fenómeno do futebol a não ser que algo verdadeiramente inesperado aconteça – e todos sabemos que a quebra do interesse tem um preço.
É por isso que agora podemos dizer que entramos numa espécie de nova época. Serão cinco meses sem datas FIFA (à exceção dos play-off) que poderá beneficiar os que já têm uma base de trabalho sólida mas também quem pretende criar algo de novo.
No caso dos três grandes portugueses parece claro que José Mourinho parte de trás em comparação aos homólogos Francesco Farioli e Rui Borges, mas será precisamente nos próximos três a cinco meses, apesar dos muitos jogos para várias competições, que o sucessor de Bruno Lage no Benfica terá oportunidade de construir algo com verdadeira substância e não apenas, como tinha vindo a fazer até à data, uma gestão mental e manifestação de intenções táticas – o que é muito diferente da sistematização das mesmas, caso contrário todos seriam treinadores.
Fernando Urbano, in a Bola

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