quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

BENFICA: O VALIOSO ESFORÇO



 O Benfica continua o seu caminho, procurando estabilizar o seu rendimento em casa, desta vez sem grande brilho, mas com a humildade e esforço de uma equipa solidária que não pode perder pontos. O Famalicão mostrou o porquê da sua invencibilidade enquanto visitante, mostrando-se um incómodo e personalizado adversário, complicando e muito a vitória benfiquista.

A ausência de Barreiro, titular e influente nos últimos jogos, abria espaço para o irrequieto Prestianni, obrigando a um ajuste coletivo. Até ver sem Lukebakio, as alas estão abertas a três muito jovens candidatos. O irreverente argentino conseguiu a preferência de Mourinho, ganhando a corrida a Schjelderup e Rodrigo Rêgo. Passado o jogo, a escolha provou ser amplamente justificada, acabando Prestianni por ser considerado, justamente, o homem do jogo. A cada oportunidade de que dispõe agradece com o seu talento e dinâmica atacante, mas ainda mais com o seu esforço de campo inteiro, prestando uma ajuda preciosa ao seu colega de ala.
Quanto jogo, foi equilibrado, tático, muito físico e difícil, mas com um justo vencedor. No final, ficam os desejados pontos, a baliza a salvo e a confiança que cresce. Agora é festejar o Natal, com um olho na ceia, mas já com o outro no Bom Jesus de Braga.
VISITANTES
É sabido o défice existente entre as nossas equipas médias no confronto com os três mais poderosos clubes, colecionadores de troféus. A tendência normal das equipas mais modestas nas visitas aos grandes é, muitas vezes, para além de cerrar fileiras e rezar aos céus, prescindir do seu ponta de lança por um jogador mais móvel e rápido. Tirar o avançado titular é quase uma regra, embora, na realidade, represente mais um reforço moral para a crença do mister do que, na prática, algo efetivamente melhor.
Entre o conseguir atacar e manter a estrutura habitual, escolhe-se o recuo, a surpresa e a teoria da velocidade. Compreensível, mas artificial e normalmente sem resultados positivos. A esta manobra tática não aderiu o Famalicão na visita à Luz, revelando-se um valoroso e capacitado visitante. O Famalicão é dos bons e bem estruturados projetos que existem no nosso futebol. A deteção e retenção surpreendente dos seus melhores jogadores, como Sorriso e, especialmente, Gustavo Sá, é bem prova disso.
O MUNDO DA BOLA
O Benfica tem estruturado o seu processo evolutivo partindo de uma base sólida defensiva, condição obrigatória para uma equipa que quer vencer sempre. Lá na frente, a lesão de Lukebakio, um ala já experimentado, que desde logo sobressaiu pelas suas caraterísticas, obrigou Mourinho a otimizar os recursos existentes, adaptando o seu sistema aos jogadores disponíveis. Em vez de uma unidade que sobressai e que faz recair sobre si as atenções defensivas do adversário, o Benfica passou a impor o seu coletivismo crescente. O lance individual deu lugar às combinações e ao melhor entendimento entre os jogadores.
Assim, a equipa tem evoluído de acordo com as caraterísticas das suas melhores unidades, prescindindo de alas de raiz a favor da versatilidade dos seus médios. O defesa Dedic, outra bela escolha do clube, tem atenuado a falta de extremos com a sua velocidade e gosto pelo ataque. Do lado contrário, Dahl, menos ofensivo, tem ainda assim lutado para se manter sólido atrás e atrevido à frente quando se trata de atacar. Claro que os treinadores agradecem quando os plantéis são compostos por atletas que individualmente façam a diferença. Ter dois concorrentes para cada posição é também quase uma norma instituída.
Ao contrário, ter gente a mais normalmente cria problemas e complica a construção do treino diário. Contra estas contas ainda existem os contratempos que as lesões sempre provocam e que baralham as escolhas. No que toca a caraterísticas, ter jogadores rápidos ou que dominem o espaço aéreo são recursos de ordem física que aumentam os argumentos disponíveis e fortalecem as opções às quais os treinadores recorrem.
Por último, a versatilidade de alguns jogadores permite os necessários arranjos quando necessário. No Benfica, Aursnes e Sudakov têm sido opções valiosas, sendo exemplos de quem joga bem e de absoluta disponibilidade onde quer que sejam colocados. Não falta complexidade ao cativante mundo da bola.
EU RESOLVO
Lukebakio foi, durante algum tempo, a grande aposta para desmobilizar as defesas que já defrontaram o Benfica. Ao mesmo tempo, essa visibilidade despertou também nos adversários a necessidade de reforçar a marcação ao extremo belga do Benfica, o que aumentou as suas dificuldades. Os jogadores que assumem o confronto com o adversário direto são normalmente, além de talentosos, seguros de si e confiantes.
Esta preponderância individual de alguns jogadores fez-me regressar, como acontece por vezes, ao meu tempo de jogador e a um jogo pela Seleção na Áustria. Paulo Futre era uma das nossas referências atacantes. Já eu, como sucedia em jogos mais difíceis, era mais um para correr e ajudar no meio-campo. O Paulo, além da sua reconhecida qualidade, foi dos jogadores mais confiantes, de longe, com quem joguei. Não esqueço que, quando chegou o intervalo e já no vestiário, com o resultado ainda em branco, pediu para falar. Mais convicto era impossível: «Eu estou bem! Passem-me a bola que eu resolvo.» A verdade é que o marcador não se alterou, mas ficou um episódio especial de um personagem raro.
Rui Águas, in a Bola

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