quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

SOPA DA PEDRA

 


Mais uma final ultrapassada em Moreira de Cónegos, mostrando uma equipa do Benfica cada vez mais forte e segura de si. Vitória convincente, iniciada por um primeiro período equilibrado, frente a um adversário demasiado orgulhoso da sua posse de bola. Disse-o Mourinho, e eu concordo, que o atual perfil do jogo benfiquista está de acordo com os jogadores que tem à sua disposição.

Foi assim que nasceu a famosa sopa da pedra, ali para os lados de Almeirim, conjugando de uma maneira inteligente os ingredientes disponíveis. Do pouco se pode fazer muito, com um cozinheiro de talento. Mourinho tem valorizado a maior solidez da equipa e a respetiva evolução, realçando a crescente valia da força coletiva para um trajeto vencedor.
O primeiro golo do Benfica é um bom exemplo desta realidade. Na falta do rasgo individual que Lukebakio vinha dando, aconteceu uma combinação simples, mas perfeita, de Ausrnes e Tomás Araújo a que Pavlidis deu o melhor seguimento, lançando a vitória. A vantagem do Benfica acabaria por ser alargada pela pressão alta exercida, mas também, muito, pela ingenuidade alheia. Mostrar a personalidade de uma equipa com bola não tem de ser levado ao extremo.
De final em final, em poucos dias. Agora em Faro em estádio mítico, e logo depois a receção a um Famalicão incómodo, um dos projetos nacionais mais estáveis.
Nada obriga a nada
No que às opções dos treinadores diz respeito, nada obriga a nada. Cada jogo é algo de novo e as escolhas devem ter a lógica e a intuição do treinador e não aquilo que pode parecer mais previsível ou justo, na ótica dos jogadores e também dos observadores. Mourinho tem consolidado o seu onze com poucas variações, aumentando a consistência da equipa.
Surpreendeu com um par de alterações contra o Nápoles, tendo em conta o poderio e as características específicas do adversário, escolhendo a maior velocidade dos substitutos que lançou. As apostas corresponderam e contribuíram para a decisiva vitória europeia. O jogo seguinte, igualmente importante, tinha um cenário diferente. Pavlidis regressou porque está num nível superior a Ivanovic.
No entanto, o avançado croata, de características diferentes, ganhou créditos e justificou a entrada. Em relação a Tomás Araújo, a velocidade é um argumento que o diferencia, principalmente para um central de equipa grande. António Silva e Tomás Araújo são defesas de qualidade que, embora jovens, são já donos de um trajeto respeitável. Ambos com a qualidade de passe que um clube grande exige, mas ainda sem rendimento no cabeceamento ofensivo, algo importante que a estatura de ambos justificaria e que é ainda possível acrescentar.
Ivanovic
No rescaldo da importante vitória diante do Nápoles, voltei a procurar os vídeos de Ivanovic, algo que já tinha feito quando se falava da sua contratação. É sempre interessante verificar o que a famosa confiança acrescenta, inspira e fortalece os jogadores, em diferentes momentos. É algo precioso, que se perde ou recupera, conforme o rendimento que um avançado vai conseguindo.
Já internacional pela Croácia, atual décima seleção do Mundo, Ivanovic é um atacante forte e rápido, com boa capacidade no apoio frontal e receção. A finalização é normalmente eficaz, também com o pé esquerdo, o não dominante. A impulsão é boa, embora do cabeceamento não haja ainda grandes registos. Facilmente se conclui que aquilo que as pessoas têm assistido do jovem reforço está ainda longe do que garantidamente veremos no futuro.
Convém lembrar os entendidos que é a primeira época de Ivanovic num grande clube e num outro país. Não esquecer também que ainda há pouco festejou apenas 22 anos (!). A propósito desta juventude, não resisto a viajar ao meu passado e à mesma fase etária. Como era diferente a minha realidade... Nesse tempo o meu palco era pelado e a minha divisão era a terceira nacional. Amador e estudante nessa fase, estava longe de sonhar que um dia conseguiria ser profissional de futebol, quanto mais jogar no Estádio da Luz, para onde, desde criança, acompanhava o meu pai nas saudosas tardes de domingo.
Festejo do golo
O festejo de joelhos escorregando na relva está em vias de extinção por determinação médica, em função do perigo de lesão que pode representar. Lembro-me sempre de um golo do Ricardo Carvalho, alguém que treinei no Vitória de Setúbal e antigo central da nossa Seleção. Não era um goleador assíduo, mas marcou na Luz à Sérvia e arriscou o tal deslizamento. Ou por falta de jeito ou por defeito da relva, o Ricardo acabou por se lesionar e ser substituído logo a seguir. Admito que tenha um efeito bonito, mas não vale a pena o risco.
Voltando outra vez a histórias passadas, no meu caso, o efeito que um golo criava era uma vontade irreprimível de correr, fugindo ao abraço coletivo, levantando os braços ao céu, como que agradecendo a sorte que vivia. Era algo espontâneo como acontecia na maioria dos marcadores de então. Não era nada ensaiado.
Hoje é bem diferente, como sabemos, e a criatividade não falta. O encolher de ombros é um dos exemplos que não aprecio especialmente. A escolha é livre, mas mais parece uma manifestação egocêntrica como dizendo: 'eu sou bom e faço isto com uma perna às costas'. É o que vem fazendo o jovem Rodrigo Mora e que Prestianni já fez. Opção a rever. Já em África é a dança coletiva que domina, transmite alegria e não lesiona ninguém.
Rui Águas, in a Bola

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