quinta-feira, 22 de novembro de 2012

OLIVEDESPORTOS : FIM DE CICLO OU REFUNDAÇÃO?

Joaquim Oliveira, ControlinvesteOlivedesportos: fim de ciclo ou refundação?

Estaremos a assistir ao fim de um domínio declarado e incontestado no panorama do futebol português?

Durante anos, a empresa foi o abono de família da maior parte dos clubes da primeira divisão, para não dizer de todos. Com um projeto arrojado ao nível do desporto rei e com a aposta no, possivelmente, melhor conjunto de canais de desporto da Europa, investia primeiro, para colher depois em publicidade, venda de jogos para outros países e o pagamento mensal para poder ver as partidas. E se pensarmos bem, com a quantidade de campeonatos e número de jogos a que se podia aceder com uma simples mensalidade, o binómio preço/qualidade era claramente vantajoso.
Já para os clubes, com fracas receitas de bilheteira, na altura pouca organização em relação ao mundo televisivo e impostos por pagar, a tábua de salvação, para se manterem à tona, e um lucro inesperado e imediato, para fazer face as despesas correntes, eram extremamente apetecíveis. Claro que haveria sempre o outro lado da moeda: a possível valorização do próprio clube no futuro; os longos prazos dos contratos, sem aumentos conforme a mesma valorização e a sujeição à ditadura da transmissão televisiva, que destruiu as tardes de futebol, eram inconvenientes rapidamente esquecidos perante a cor do dinheiro vivo.
Assim, a empresa cresceu até onde está hoje. Rádios, canais desportivos, jornais de referência e extensas participações em várias áreas da comunicação social. Tudo isto com o olhar benevolente da autoridade da concorrência, principalmente no que concerne às transmissões de futebol. Senão veja-se, por exemplo, a "coincidência" que levou o ministro Relvas a considerar, depois de décadas, que o pobre não terá direito a, pelo menos, um jogo da primeira divisão em sinal aberto. Num país claramente embebido nessa tradição. E isso meses depois de um famoso almoço num restaurante lisboeta e à, face à crise, falta de oferta de algum canal para pagar por esse jogo.
A partir daqui começa, no entanto, a ver-se a crise e a emancipação de alguns clubes. A parte da comunicação social, com perda de audiências, quebra de vendas e recuo na captação de publicidade, leva à procura de venda. Segundo dizem a investidores angolanos. A Sport TV, essa, continua forte.
Depois, o final de contrato entre Benfica e Olivedesportos. Que terá o seu impacto. Serão só 15 jogos. Mas será sempre diferente. Sendo o clube com mais audiências, faltará ver o impacto nas contas da empresa. E se outros não seguirão o exemplo. Depois, cláusula claramente desajustada e única no mundo empresarial, em que se sujeita o preço a pagar a um clube que no panorama televisivo desportivo não tem sequer comparação com o do Benfica, soa mais a negócio ruinoso do que a estratégia adequada.
Tudo isto, somado, dará uma Olivedesportos mais forte? Ou o fim de um domínio declarado e incontestado no panorama do futebol português? Ou iremos assistir a uma refundação da mesma, apostando só no futebol e tentando mudar a estratégia de preços e oferta ao público, por exemplo, do Benfica, que seguirá o clube para o canal que lhes transmitir o jogo do seu clube em casa? Tudo está em aberto, mas tudo está também diferente. O que parecia inquebrável vai abrindo brechas e dando o flanco mais vezes do que o costume.
Do outro lado, mais uma vez pioneiro, poderá o Benfica tornar-se no grito de Ipiranga deste colete de forças, que a escassez de dinheiro dos clubes os leva a não tentar sequer procurar alternativas? Convenhamos que o mercado não será dos mais fortes. Que o país é pequeno. Que somente meia dúzia de clubes poderiam capitalizar a exploração própria dos seus direitos. Fica, no entanto, a primeira pedra. Para a Olivedesportos, será um fim de ciclo ou uma refundação?

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