De erro em erro, vai-se descobrindo a verdade
As declarações de Walter Casagrande abanaram a estrutura da verdade desportiva.
Abanaram a estrutura da verdade desportiva, as declarações de Walter Casagrande, que confessou em directo na TV Globo o que deixou escrito na sua polémica biografia.
Quando chegou à Europa, foi para o FC Porto onde jogou em 1986/1987. Segundo as suas palavras em direto no programa do Jô, foi nas Antas que se dopou pela primeira e única vez. "Quando cheguei à Europa, no dia em que me estreei pelo Futebol Clube do Porto, um jogador chegou ao pé de mim e avisou-me que ia jogar. Mas depois ele disse-me 'tens de passar ali atrás, que tem ali um negócio para usar'. Fui lá e usei. Usei umas quatro vezes".
Afirmou também ser uma prática comum os "atletas" do FC Porto injetarem-se com substâncias dopantes antes dos jogos. Só se referiu ao FC Porto, e a mais nenhum clube por onde jogou em 13 anos de carreira. Confessou que não se referia a cocaína ou maconha, que nunca usou antes dos jogos. Era mesmo uma substância dopante que aumentava a potência e que só era possível porque não havia controle anti-doping nas competições nacionais, nem nas internacionais, afirmou ele na entrevista.
Aqui não há espaço para cabalas. Arrependeu-se e deixou escrito. Assumiu ao vivo o erro e a vergonha.
Em 2004, o mundo do futebol nacional foi abalado pelas escutas que despoletaram o processo Apito Dourado. Essas escutas continham material que comprovava a manipulação de influências a nível interno, naquilo que ficou denominado como "os anos dos chocolatinhos e da fruta". Era todo um reinado interno de Pinto da Costa posto em causa. A argumentação do FC Porto foi que tudo era mentira (até as escutas aparecerem no YouTube), e que a comprová-lo não havia nada que pudesse beliscar o seu percurso a nível externo.
Em 1987, o FC Porto venceu a Taça Intercontinental, depois de ter sido campeão europeu batendo o Bayern de Munique por 2-1 na final. "Fiz a narração do jogo ao lado do Ribeiro Cristóvão e é um dia que nunca me vou esquecer, porque essa foi a minha estreia internacional. (...) Ao intervalo, o Artur Jorge fez uma lavagem ao cérebro dos jogadores e o FC Porto surge transfigurado, começa a acreditar que era possível virar o jogo". Miguel Prates, jornalista in "Correio da Manhã".
Walter Casagrande jogou 66 minutos nessa competição, esteve na final sentado no banco do FC Porto mas não entrou. Recebeu a medalha no final, tal como os outros "atletas". Não sei se irá devolver a sua medalha, como recentemente Lance Armstrong teve de devolver as suas taças. Mas foi todo um universo que se descobriu, porque um dia um homem admitiu que errou.
"De erro em erro, vai-se descobrindo toda a verdade" - Sigmund Freud.
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