"Sei que estarei a maçar quem faz o favor de me ler. Mas saibam que, sem ser obstinado, sou persistente. Refiro-me à endémica expressão futebolística «à condição» que vai grassando qual vírus multiresistente a qualquer boa prática gramatical.
Por isso, volto hoje incondicionalmente «à condição». O Benfica, desta vez, não foi segundo à condição, porque jogou antes do Porto que assim, pela enésima vez no campeonato, não pôde ser o líder à condição. Aliás, sem condição, o Benfica é líder isolado desde a quinta ronda, ou seja, nas últimas 25 jornadas. O «à condição» jornalístico atingiu esta semana Bas Dost. O magnífico artilheiro da sempre excelente escola holandesa liderou a Bota de Ouro à condição, até que Messi o ultrapassou 20 horas depois.
Encurtando atalhos: está tudo à condição. Nós, enquanto não morremos. Esta coluna, enquanto não acabar. Os jogadores, enquanto não se lesionarem. O passivo dos clubes, enquanto não for pago. Os castigos federativos, à condição de serem cumpridos. Os jogadores, à condição da vontade dos intermediários. Aliás, alguns só jogam bem à condição de serem transferidos. As claques legais são-no à condição de, na prática, se tornarem ilegais. E as ilegais, à condição de jamais serem legais. O mais curioso caso à condição é do agora famoso Canelas: ganha à condição de não jogar.
Por fim, o anti-benfiquismo primário, esse poderoso clube que une contrários (à condição) tudo quer no Benfica à condição: estádio interditado, líder destronado, árbitros condicionados, kits hipervalorizados, treinador calado. O problema é a condição de ser à condição."
Bagão Félix, in a bola
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