segunda-feira, 17 de abril de 2017

O PIOR ANTIJOGO ACONTECE FORA DO CAMPO


"O nosso futebol parece que vive sistematicamente de modas. Desde do que se diz na televisão durante a transmissão de um jogo até aos comentários mais a quente que são proferidos durante as intervenções pós-jogo. Infelizmente, nem todas as modas são boas e as consequências a curto-prazo são negativas. Não atingem um impacto tão negativo, e infelizmente, porque o futebol em Portugal não tem grande concorrência de outras modalidades e mercados, o que permite que muitos assumam determinadas atitudes sabendo que as consequências são poucas ou nulas. E reforço o infelizmente, porque somente a consequência de um ato faz parar algumas das estúpidas acções que se vê por aí. 
Voltando ao futebol, o final de época é sempre vaticinador de maus hábitos e de um conjunto de atitudes que são consequências de desempenhos e resultados aquém do esperado. E só a falta de consequências para um mercado muito mal tratado como é o futebol, permite que exista uma base de más práticas que vão ganhando o seu espaço de antena, de debate, de fundamentos e até de teorias. 
Apesar de ser a modalidade que mais gosto, tenho de ser sincero comigo próprio. O futebol é aquele que tem piores regras para fomentar uma prática sã e que deixe de lado qualquer possibilidade de antijogo. Tem de partir da cultura que se tenta incutir nos praticantes. E essa cultura tem de ser transmitida e transferida pelos agentes desportivos mais importantes na criação de uma boa cultura desportiva (e educacional e humana), que são os treinadores, equipas técnicas e árbitros.
E este movimento tem de ser tão forte, que consiga ser sempre muito superior ao outro lado da corrente que são alguns treinadores (quero pensar que serão sempre menos os maus treinadores em termos de pedagogia que os bons) e acima de tudo, aos muitos e maus utilizadores do tempo que lhes proporcionam, que são os dirigentes.
E esses dirigentes ganharam nos últimos tempos uma importância indevida, face à necessidade de ocupar as dezenas de horas que uma semana televisiva consegue despender aos mesmos. Esse é o pior antijogo que podemos ter. Para quem ainda não entendeu, o poder e a ferramenta da comunicação são tão poderosos que consegue tornar um não assunto no assunto mais falado semanalmente. A comunicação permitiu que determinadas pessoas parecidas com jogadores conseguissem ser recrutados sem serem sequer jogadores, por isso, não admira que o futebol tenha sido invadido por aquilo que ele permite tão facilmente: que qualquer um possa ter tempo de antena para comunicar o que lhe apetecer, bastando para isso que cumpra os requisitos mínimos para se ter tempo de antena.
Aprendemos que existem três formas de atingir o que pretendemos: uns pela inteligência, outros pelo dinheiro e outros pela força. Que o futebol não se deixe estragar pelo que uns têm a mais e outros têm a menos."

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