segunda-feira, 15 de maio de 2017

FUI EU QUE DISSE A RUI COSTA E A RUI VITÓRIA QUE O SALVADOR (TAMBÉM) TINHA GANHO


"Uma não notícia ou, se quiser, uma crónica de rua, no meio da malta do Benfica, ao lado do autocarro, a caminho do Marquês

Tenho a mania. Ando sempre a dizer aos jornalistas mais novos que nunca se deve fazer textos cronológicos - princípio, meio, fim. Bem feito, agora tenho de dobrar a língua porque não vejo outra maneira de contar esta não notícia, esta crónica de rua (no meio da maralha, como se dizia no meu tempo).
Fui à Luz ver a bola mais o meu sobrinho Robert William, que é Robert por causa do Bob Marley, e William por causa do Shakespeare. Mal me sentei, o pessoal da bancada disse-me que um outro ‘sobrinho’ meu, o Bebé, Euclides Vaz de nome posto pelos pais, tinha ganho ao Sporting no futsal e que o Benfica estava na final da Taça de Portugal. A primeira boa notícia de uma daquelas jornadas desportivas porreiras.
Por falar em jornadas desportivas porreiras vou já resumir o jogo num parágrafo: quando o Jonas faz o 4-0 fiquei pregado à cadeira, com as mãos na cara, incrédulo com aquela exibição portentosa, de luxo, como exclama quem gosta de bola quando está excitado. Sobre o jogo estamos conversados, está fechado!
Saímos do estádio e fomos comer uma tosta XXL, aquelas do Giovanni, que fica ao lado do Califa, uma daquelas pastelarias que só falta aparecer nos cartazes da Câmara Municipal de Lisboa quando for data de aniversário, frequentado nas horas vagas por senhoras com casacos de vison e onde uma vez eu e o João Gobern entrevistámos o Paulo Barbosa (na altura um dos gurus dos agentes FIFA, vulgo empresários de futebol) e, não me perguntem porquê, nunca publicamos na "Focus" (onde já andei, Jesus).
Perante a insistência inteligente do Robert – “é um dia histórico, é o primeiro tetra” – fomos para o Marquês de Pombal num autocarro que parou na Praça de Espanha, ou melhor, foi mandado parar pela polícia que controlava o trânsito perante a iminente chegada da caravana benfiquista. A segunda boa notícia: não tínhamos de ir ao Marquês sequer para os ver, íamos acompanhá-los.
O Robert, claro, sacou do smartphone, limpou a memória e vai de gravar tudo e um par de botas, depositando nas minhas mãos uma daquelas cartolinas de jogo, vermelho de um lado e branco do outro, que tinha no título das instruções qualquer coisa a respeito de cartilhas. Já não me lembro bem.
O que jamais esquecerei, (e vocês não se esqueçam que estamos a caminhar, às vezes em passo de corrida, ao lado do autocarro do Benfica) é que, na Avenida de Berna, tento acenar ao Ricardo Lemos, que trabalhou comigo n’ "O Jogo" há uma porrada de anos e agora está na comunicação do clube. Enquanto o Lemos esboçava um sorrisinho, o Robert diz-me a terceira boa notícia, ainda antes do autocarro descrever a curva para entrar na Avenida da República - o também benfiquista Salvador Sobral e Portugal tinham ganho o Festival da Eurovisão.
Levantei a cabeça para dizer ao Lemos, era assim que o tratávamos antes, nos jornais, mas ele já tinha fugido da frente. Gritei para os ‘ruis’:
- Rui, Rui, o Salvador ganhou!
O Vitória, de telemóvel em punho, sorriu naquele seu estar de pessoa bem formada. O Costa precisou confirmar do alto:
- Ele ganhou!? Ele ganhou!?
Acenei com a cabeça, enquanto um polícia dava-me um daqueles empurrões, sem falta, que os defesas aplicam aos avançados quando os querem tirar do lance. O Vitória e o Rui Costa levantaram o polegar e a caravana seguiu até ao edifício da Portugal Telecom onde, no cruzamento, o corpo de intervenção barrou a multidão não deixando sequer passar um garoto que se esgueirava por entre as pernas de um daqueles homens de capacete com viseira, cassetete e calças a lembrar séries de CSI. 
Antes disso ainda acenei ao Lourenço Pereira Coelho, director-geral do Benfica, que festejou o caminho todo enfiado numa pequena janela da parte da frente do autocarro, e que me retribuiu simpaticamente o cumprimento. Depois, no Marquês, o speaker de serviço deu a notícia do Salvador. Multidão ao rubro. Bebi uma mini, semi-quente, numa rulote improvisada e despedi-me do meu sobrinho, que cantava a plenos pulmões: “Lalalalala, Lalalalala, 1904! 1904!”"

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