segunda-feira, 7 de agosto de 2017

DE AVEIRO A PARIS


"O Benfica conquistou mais um troféu. Bem merecido. E cuidado com a capacidade ofensiva da equipa. É o princípio do caminho da 'penta'.

1. Ontem, uma vez mais em Aveiro - a verdadeira capital da Supertaça Cândido de Oliveira - arrancou, de verdade, a época desportiva 2017/2018. Em Aveiro foi o confronto entre o Benfica e o Vitória de Guimarães. Em Paris continuou, com lucros crescentes em termos de vendas de camisolas, a apresentação de Neymar. De Neymar Júnior. Com a camisola do PSG e evidenciar, tal como as do Benfica, o interessante e atractivo patrocínio da Fly Emirates! Mas em Aveiro tivemos como novidade a reconhecida e validada utilização do videoárbitro que, hoje mesmo, se repetirá nos dois primeiros jogos da Liga, na Vila das Aves e em Setúbal. Vai ser uma Liga bem interessante. Disputada nos relvados, como o videoárbitro tecnologicamente próximo deles e bem fora deles. Vai haver muita emoção e excessiva paixão. Vai haver demasiada polémica e muitos processos. Vai haver marcação clube a clube e, também, marcação a ditosaliados tácticos de certos emblemas. Com certeza, e a novidade, que só o campeão tem acesso directo à Liga dos Campeões e com a convicção e ambição benfiquista que pode chegar ao ambicionado penta! E com a necessidade de os directos rivais tudo fazerem para impedirem esse penta. Que é parte importante do seu caminho para lutarem pelo Liga portuguesa. Com que sonham há alguns anos. Desde logo há quatro anos! É uma Liga, a primeira, que se vai disputar de Chaves a Portimão e que só esquece os Açores. E também, diga-se, o Alentejo, o Ribatejo e a Beira Baixa. É uma Liga só com treinadores portugueses mas cheia de jogadores de múltiplas nacionalidades. É, aqui, porventura, a Liga mais aberta das Ligas europeias. É a Liga que tem veteranos como o Quim e o Luisão. Este com quinze primeiras ligas no seu relevante palmarés desportivo e o Quim com dezoito participações nas duas competições profissionais. É obra e é vida! É, ainda, e desculparem a ousadia, uma Liga que já sabe que a sua congénere espanhola só vai encerrar à meia noite de 1 de Setembro o período de Verão para a inscrição de jogadores e, assim, vai encerrar um dia depois das ligas italiano, inglesa, francesa ou alemã! A partir de hoje aí estão as duas competições profissionais. Uma, com custos efectivos para a Federação, terá videoárbitros. Vai ser uma Liga diferente. Acreditem! Acreditem mesmo!

2. Se o futebol conquistou, de forma impressionante, nos últimos anos o Mundo é indiscutível que ele se tornou, ainda mais, um actor relevante nas relações internacionais e um elemento bem relevante na consolidação e afirmação de poderes nacionais. Ou seja, tornou-se um elemento importante de afirmação e prestígio dos Estados. A nossa conquista do Europeu de França foi um momento de intenso orgulho para Portugal e um outro de dor intensa para França e os franceses. Os critérios clássicos de poder internacional envolviam a demografia, o território, o poder militar e, mais recentemente, o poder tecnológico. Era o denominado hard power! Mas, agora também temos, e com crescente importância, o denominado poder suave, o soft power! Foi o que fez agora o Catar. Sem o dizer. Repudiado pelos vizinhos do Golfo - Arábia Saudita, Emiratos Árabes Unidos, Líbia, Bahrein, Iénem e Egipto - assumiu a loucura Neymar. Fez deste investimento uma verdadeira acção positiva. Paris está a arder com a apoteótica chegada de Neymar. Como se viu ontem no arranque do jogo inaugural do PSG e na febre que atinge Paris desde sexta-feira. Até com a bênção presidencial de Macron. O PSG, com o apoio do Catar, ou o Catar, envolvendo o emblema do PSG, fizeram uma grande jogada de marketing. E o Catar até poderá utilizar Neymar para promover, nos próximos anos, o Mundial de 2022 que vai organizar. E que não quer que de forma alguma seja posto em causa. E, assim, o Estado do Catar, através do futebol, ganhou milhões de adeptos em França. Mais do que uma disputa entre clubes - PSG e Barcelona - foi um acto de afirmação de um riquíssimo pequeno Estado ameaçado em razão de uma acesa disputa no Médio Oriente e com claras repercussões na Europa. E foi, também, um acto doloroso para o Barcelona e para uma Catalunha em vésperas deum controverso processo de crescente autonomia, quase independência. Não conseguiram segurar Neymar na Catalunha, perturbando assim a frase, muito difundida que «o Barça é algo mais que um clube»! Neymar partiu num ápice e o clube teve que o aceitar o cheque com a cláusula de rescisão. Depois de um momento de afirmação, escusado, do Presidente da Liga espanhola. Que, porventura, precisa de ler um pouco mais acerca das relações internacionais contemporâneas! Como um interessante livro da FIFA de Thomas Kistner no topo das suas sugeridas leituras! O meu até é em castelhano!

3. Mas permitem-me três notas complementares a propósito desta transferência que incendiou o mundo do futebol. Sem que antes recorde que a Qatar Airways patrocinou o Barcelona e Neymar vestiu com orgulho, vitórias e golos, essa camisola. Em Janeiro de 2012 o filho de Platini, Laurent Platini, entrou para o Fundo Soberano do Catar, que adquiriu parte relevante (70%) do capital do PSG. Transferiu-se da empresa Lagardère Sport que tinha uma importante participação na Amarauy Sport Organization, organizadora por exemplo da famosa Volta a França. E, pouco tempos depois, logo em Fevereiro desse ano, o PSG passa a ter um novo patrocinador, o Catar National Bank, e em Dezembro do mesmo ano, a Autoridade de Turismo do Catar. Interessante para o dito fair-play financeiro... Há, assim, uma relação profunda, que não apenas energética, entre a França e o Catar. Neymar foi, tão só, e perante a tentativa de isolamento das outras poderosas monarquias árabes, uma resposta de se tirar o chapéu. Dizem que foi o exercício de um poder suave. Eu diria que foi mesmo exercício puro de poder. Com o futebol e o PSG como pano de fundo. E com a certeza que a França, e o seu pode político, não deixarão de apoiar o Catar, os seus interesses e os seus investimentos. Que pagam relevantes impostos em França. É uma nova geopolítica do futebol. E como diria um amigo meu: «Abram os olhos». E não apenas com o videoárbitro!

4. O Benfica conquistou mais uma Supertaça. Começa com o pé direito. E cuidado com a capacidade ofensiva deste Benfica. Muito cuidado. É o princípio do caminho do penta. E percebemos bem em Aveiro que uma coisa é a pré-época, outra, bem diferente, é o arranque da competição. E este arranque, este ano, como no ano passado, é com mais um troféu. Bem merecido."

Fernando Seara, in A Bola

1 comentário:

  1. "cuidado com a capacidade ofensiva deste Benfica"?
    Mas não são as defesas que ganham campeonatos?

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