Em suporte audiovisual e transmitido ao mundo através da funcionalidade do ecrã gigante do estádio a poucos instantes do início de um jogo de futebol este recentíssimo "sketch" do anúncio do alargamento da descendência do presidente teve o condão de, pela milésima vez, colocar na ordem do dia uma dúvida da maior importância para os sociólogos e para os terapeutas que se ocupam destas questões tão globais da influência, das transversalidades e da dependência do mundo do baixo entretenimento audiovisual na relação com áreas da informação e com as áreas do Poder instituído ou a instituir.
Eis, então, a questão necessariamente especulativa:
Tivesse Bruno de Carvalho sido dado a apresentar pela primeira vez ao público português não na condição de candidato e depois na condição de presidente do Sporting Clube de Portugal, como se verificou, mas na condição de um vulgar cidadão anónimo aspirante a "famoso" e apurado para um vulgar "reality-show" – onde entraria apenas como mais um Bruno Miguel – que favores (ou desfavores) receberia este tipo de personalidade dos seus colegas de internamento na "casa" e dos telespetadores destes concursos da "vida real"?
Tivesse Bruno de Carvalho sido dado a apresentar pela primeira vez ao público português não na condição de candidato e depois na condição de presidente do Sporting Clube de Portugal, como se verificou, mas na condição de um vulgar cidadão anónimo aspirante a "famoso" e apurado para um vulgar "reality-show" – onde entraria apenas como mais um Bruno Miguel – que favores (ou desfavores) receberia este tipo de personalidade dos seus colegas de internamento na "casa" e dos telespetadores destes concursos da "vida real"?
Achar-lhe-iam graça? Ou acabariam por se cansar do narciso e da chinfrineira? Teríamos, nessas circunstâncias hipotéticas, um Bruno Miguel saindo como vencedor depois de ter conquistado com o seu descaramento e linguarejar a simpatia de toda a gente ou, pelo contrário, seria o mesmo Bruno Miguel liminarmente expulso ao cabo da primeira semana de emissões do "espetáculo da vida real" castigado pelos extenuadíssimos demais concorrentes e pela crueldade do televoto popular?
Colocando de lado os preconceitos aqui está um assunto que dá que pensar até porque se trata de um exercício especulativo alheio às magníficas emoções do futebol e às benesses do estatuto de presidente de um clube de futebol que conferem automaticamente a qualquer ex-cidadão anónimo uma posição de destaque na sociedade e uma reverência por parte dos mídia com que nenhum concorrente de um "reality-show" alguma vez ousou sonhar.
O Benfica revelou esta semana as suas contas. Há quatro anos que o clube não se endivida perante instituições financeiras. Neste período reduziu para metade a sua dívida à banca. Perante isto ninguém foi a correr para o Marquês de Pombal. O campeonato dos números pouco significa para os apaixonados para quem o campeonato da bola é tudo e mais do que tudo. Neste ponto, realmente, as coisas não andam famosas. Os benfiquistas quererão muito acreditar que aquele momento na noite de quarta-feira em que Luisão convocou os colegas para um abraço no meio do campo enquanto das bancadas chegavam o som terrível do descontentamento popular terá sido o arranque, em definitivo, para a temporada de 2017/2018. E já tarda.
Leonor Pinhão, in Record
Sem comentários:
Enviar um comentário