terça-feira, 17 de outubro de 2017

O ABANÃO DE QUE A EQUIPA PRECISA


Já aqui escrevi: a má fase que o Benfica enfrenta é, no essencial, resultado de um planeamento da época mal feito – saíram elementos nucleares que não foram devidamente substituídos. Se a isto acrescentarmos problemas anteriores que ameaçam tornar-se estruturais, fica explicado o momento da equipa.
Há, a este propósito, dois males que afetam o Glorioso e que não são de agora.
A insistência num meio-campo a dois, que funciona na perfeição em 90% dos jogos da Liga, mas que exige muito dos dois centrocampistas – rigor tático exímio nas compensações defensivas de quem ocupa a posição 6 (daí a diferença que faz ter ou não ter Fejsa em campo) e capacidade do jogador 8 para unir a equipa quer em transição, quer em organização (Pizzi, por vezes, parece um base numa equipa de basquetebol, de tal forma a bola tem sempre de passar pelos seus pés). A questão é que este sistema nem sempre funciona contra equipas mais fortes e torna difícil o controlo do jogo com bola. Por razões que permanecem insondáveis, o Benfica anda nisto há anos, sem que se vislumbre um sistema tático alternativo. Já era assim com Jorge Jesus (que sintomaticamente no Sporting não comete o mesmo erro) e continua com Rui Vitória.

A questão torna-se mais premente quando a equipa não está bem fisicamente. O que é pedido a alguns jogadores-chave torna-se difícil de cumprir. Não por acaso, tem havido uma regularidade no Benfica desta temporada: a equipa começa os jogos bem melhor do que os termina e por várias vezes se viu a ganhar para depois desbaratar a vantagem. Até para proteger a baixa de forma de alguns jogadores nucleares, o Benfica devia ter um sistema alternativo.

O que fazer agora? Provavelmente um pouco de cada coisa: corrigir em janeiro os erros do defeso, diversificar as opções táticas da equipa e melhorar os índices físicos (permanece inexplicável a saga das lesões musculares – que terá pouco a ver com o departamento médico). Será suficiente? Não sei, mas o futebol, na sua imprevisibilidade, torna o pensamento mágico credível. De repente, tudo pode mudar, até porque vitórias trazem vitórias e, por arrasto, melhorias exibicionais.
Contudo, tal como aconteceu há dois anos, quando a equipa agonizava e chegou a estar a 8 pontos da liderança, é preciso também sacar de um joker – um jogador que abane emocionalmente o conjunto e que mexa com o ponto mais frágil da equipa. Em 2015, a entrada fulgurante de Renato Sanches deu um suplemento de alma ao Benfica, enquanto a forma a roçar a inconsciência como jogava, ajudou a superar as dificuldades táticas. Agora, Svilar pode ser o que Renato foi. Bastaram uns quantos minutos, contra uma equipa muito fraca, é verdade, para mostrar que tem a vertigem característica dos grandes guarda-redes e uma autoconfiança juvenil que entusiasma. O belga pode ser o abanão de que a equipa precisa.
Pedro Adão e Silva, in Record

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