Há semanas, escrevi aqui que se Rui Vitória não mostrasse rasgo nas opções técnicas, seria vítima das suas próprias hesitações. Podemos identificar muitas insuficiências no futebol do Benfica de hoje, é impossível não reconhecer ao treinador coragem. Vitória promoveu mudanças na equipa: podem não ser suficientes ou até darem mau resultado, mas antes isso do que ficar paralisado.
Também é verdade que o efeito das mudanças é, por definição, incremental. O Benfica perdeu com o Man. Utd., e até melhorou ligeiramente (na organização defensiva), e venceu sem contestação na Vila das Aves. Contudo, persiste o futebol previsível, com falta de objetividade e pouca profundidade. Quererá isto dizer que a situação é igual ou pior do que há umas semanas?
Não. Desde logo porque o primeiro passo para melhorar o futebol jogado e recuperar índices físicos é começar a vencer jogos. São as vitórias que dão confiança e é esta, por sua vez, que traz, de volta, as boas exibições.
Todavia, talvez o essencial esteja num outro aspeto. O Benfica tinha problemas na baliza, no centro da defesa e nos equilíbrios no meio-campo. Perante isto, Vitória não hesitou em lançar um guarda-redes imberbe, mas que tem as características certas para jogar num grande (mobilidade, propensão ao risco e autoconfiança); e um central autoritário e com um posicionamento irrepreensível, designadamente tendo em conta a idade. Svilar e Rúben Dias são soluções que podem vir a não funcionar, mas tem de fazer parte do ADN do Benfica de hoje correr estes riscos. A sustentabilidade desportiva e financeira do clube depende disso.
No meio-campo a insistência num 4x4x2 com um ‘8’ pouco participante nas tarefas defensivas e fisicamente exaurido não era sustentável. Filipe Augusto não tem a qualidade individual de Pizzi e com o brasileiro a equipa fica curta a atacar, mas há alturas em que um passo atrás é um requisito para dar dois à frente. Equilibrar o meio-campo era uma condição fundamental para nos reaproximarmos das vitórias. Falta, agora, percorrer o caminho para as exibições convincentes.
2. Este fim-de-semana, Quim passou a ser o jogador mais velho de sempre a atuar no campeonato. Contra o Benfica, ficou evidente que o guardião do Aves continua a ter muita qualidade. Como benfiquista, o novo recorde serve para relembrar um momento baixo do clube, quando, na ressaca da conquista do título de campeão, Quim foi dispensado pelo treinador em direto na televisão. Acima de tudo, é um pretexto para recordar com muita saudade um capitão insubstituível, o grande Manuel Galrinho Bento, até agora detentor do recorde. O Bento fez parte de uma última geração de jogadores de inclinação popular, de antes quebrar que torcer e com paixão incondicional pelo Benfica. São tempos que não voltam, mas cuja memória estamos obrigados a preservar.
Pedro Adão e Silva, in Record
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