Nos últimos anos, foram-nos convencendo de uma verdade: Jonas não podia jogar sozinho no ataque. Umas vezes era dito que era porque lhe faltava presença física na área, outras porque era um desperdício tê-lo em terrenos tão avançados ou, ainda, pasme-se, porque o brasileiro não gostava. Este dogma foi ao ponto de inviabilizar qualquer sistema de jogo alternativo. Jonas é o jogador mais decisivo do Benfica, pelo que, com ele em campo, a equipa estava condenada a um meio-campo a quatro, com dois avançados, um mais móvel (Jonas) e uma referência mais fixa. Do que se viu contra o Vitória, afinal não tem de ser sempre assim.
Talvez a principal razão para ter Jonas mais avançado seja mesmo o faro pelo golo. As estatísticas confirmam-no: de acordo com o GoalPoint, o benfiquista é o segundo jogador a atuar em campeonatos europeus com mais remates enquadrados por jogo (2,6), só ultrapassado por um extraterrestre, Messi (3). E se olharmos para outros números, o registo do brasileiro impressiona, designadamente na comparação com Jiménez e Seferovic – muitos mais dribles eficazes, mais assistências para finalização, mais faltas sofridas, menos foras-de-jogo. E, claro está, um pecúlio impressionante – 99 golos em 128 partidas oficiais de vermelho.
A questão é, também, outra. Nos últimos jogos, Rui Vitória foi dando sinais de que, perante a má fase exibicional, andava a testar variações ao sistema dominante. Mas, até Guimarães, para lá do reforço do meio-campo, a opção seguida era sempre uma de duas: quando jogava Jonas não jogava Pizzi e vice-versa. O que tinha consequências, o Benfica equilibrava-se, melhorava na reação à perda de bola, mas a criatividade dependia quase em exclusivo ou de Jonas ou de Pizzi, enquanto a dinâmica ofensiva ficava entregue às correrias verticais pelas alas (também à vez, Sálvio e Diogo Gonçalves). O Benfica foi ficando melhor a defender, mas o processo coletivo ofensivo ficava ainda aquém do desejado.
Em Guimarães mudou tudo e com resultados. Um meio-campo mais consistente, mas com os melhores em campo em simultâneo, o que torna tudo mais fácil. Com Jonas, Pizzi e a adição de Krovinovic – um craque em potência na forma como recebe, toca e pensa o jogo – a equipa fica mais equilibrada, capaz de controlar as partidas em posse e ganha criatividade à frente. Em alguns jogos, com a insistência na solução, o futebol só pode ficar mais ligado, com maior mobilidade e a capacidade para desmontar a organização defensiva adversária vai aumentar. Só falta mesmo acrescentar Zivkovic à equação.
Tudo isto serve para demonstrar que, se o Benfica iniciou a temporada com problemas de planeamento e excesso de lesões, há no plantel qualidade individual suficiente para superar os obstáculos, desde que sejam explorados sistemas alternativos àqueles em que se insistiu nos últimos anos. Afinal havia outro sistema e Jonas pode, mesmo, jogar sozinho na frente.
Pedro Adão e Silva, in Record
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