terça-feira, 7 de novembro de 2017

O BENFICA E AS BALELAS


No futebol, o pior cego é o que só vê a bola e bastaram dois jogos para se confirmar que o Benfica coabitava há demasiado tempo com, pelo menos, três premissas falsas. A primeira era que não havia alternativa ao 4x4x2 herdado de Jesus. A segunda era que a titularidade de Jonas implicava que ao brasileiro se acrescentasse sempre um outro avançado capaz de lhe servir de muleta. A última farsa era que o plantel tinha ficado tão amorrinhado com as saídas de Ederson, Semedo e Lindelof que era de todo impossível ao tetracampeão apresentar hoje uma equipa e um futebol decentes. Os últimos jogos com o United e o V. Guimarães, sem resultarem em exibições brilhantes, longe disso, serviram, pelo menos, para provar que aquela trilogia era sustentada por balelas ou meias verdades. Sentenças chochas que serviam, principalmente, para acobertar o facto de o Benfica andar há mais de dois anos a perder qualidades e a essência do seu futebol. Porque, mais do que um processo de cristalização (que muitas vezes acontece até em função de os adversários encontrarem os antídotos necessários), o que parecia estar a acontecer era um progressivo atrofiamento no jogar benfiquista. E que já não era apenas visível na organização ofensiva.
Para sermos inteiramente justos, importa reconhecer que Rui Vitória cumpriu minimamente a promessa de aproveitar a anterior paragem da liga para dar alguns retoques no jogar da sua equipa. Nada de muito resplandecente, até porque se mantiveram muitos dos problemas no seu processo ofensivo, mas o suficiente para que, por exemplo, frente ao Olhanense e ao Aves se descobrirem alguns movimentos e soluções diferentes. Mas a atrapalhação e os apertos sentidos frente ao Feirense (faltou-lhe convicção e a segurança no controlo da bola) provaram que os ganhos eram mesquinhos e insuficientes. Até, por isso, tornara-se ainda mais imperiosa a necessidade de cumprir a promessa (feita quando abriu o champanhe do último título) de apresentar um plano B. E a solução alternativa parece ser mesmo o 4x3x3 a que Jorge Jesus e Sérgio Conceição também já recorreram esta época para darem mais consistência às suas equipas nos jogos mais trabalhosos. Há uns anos valentes, o professor Neca, então treinador do Aves, dizia que o 4x3x3 era "a tática dos pobres", por considerar ser aquela distribuição das unidades que melhor permitia disfarçar as debilidades e as limitações de uma equipa, designadamente das mais modestas. Claro que era uma visão redutora e injusta para um sistema que permite um manancial raro de soluções quando dotado de dinamismo, bastando recordar que foi à custa do seu inovador 4x3x3 que Rinus Michels levou ao extremo da beleza poética o Ajax e a Holanda. Mas é impossível não relacionar o adágio do professor Neca com esta tentativa do Benfica de encapotar boa parte dos problemas para os quais não encontrou solução, sendo ainda importante recordar que Rui Vitória nunca havia sido, até chegar à Luz, um devoto do 4x4x2 clássico. O Benfica irá certamente continuar a privilegiar o desenho com dois avançados (até porque Seferovic e Jiménez têm de ser rentabilizados), mas o meio campo com três unidades, para além facilitar a solidez, também permite a incorporação constante dos laterais, movimentos naturais em perpendicular e desmarcações de rotura em velocidade. E tudo com uma simplicidade desarmante.
A utilização de Jonas no 4x3x3 não merece grandes explicações. Ele até pode ficar mais confortável com um cúmplice próximo, mas o melhor é que tem de jogar quando só há lugar para um. E o melhor é Jonas, que não devia ter ficado de fora em Manchester. E isto não tem tanto a ver o golo marcado em Guimarães, antes como a inteligência e a qualidade com que se movimentou para combinar com Samaris no segundo golo ou como voltou a baixar para dar o apoio que permitiu a Diogo Gonçalves isolar Sálvio no 0-3.
Finalmente, importa desmistificar a questão da qualidade do plantel, principalmente desde que Rúben Dias se afirmou como um central de futuro e dimensão internacional. E mesmo Douglas, que a atacar pede meças aos melhores, será uma ótima solução para a generalidade dos duelos. A prova de que há muita gente subaproveitada foi a forma impactante como Krovinovic se estreou na liga a titular, o que só pode ser uma surpresa para quem não viu os seus jogos no Rio Ave. O problema nunca foi a qualidade do plantel nem a variação de protagonistas. Mais, a charada mantém-se porque ainda não houve, por exemplo, a capacidade de integrar suficientemente talentos como os de Zivkovic e Rafa. E não venham dizer que o primeiro está gordo e que o ex-bracarense não se aplica nos treinos, como foi posto a correr. O primeiro estás às portas da seleção da Sérvia e ninguém percebeu porque saiu da equipa e acabou desterrado na bancada. E os técnicos que treinaram Ricardo Carvalho podem ajudar a explicar que há jogadores que treinam mal e depois se transfiguram. O que Rafa precisa é de mimo e que lhe corrijam a finalização. Alguém já pensou o que seria este Benfica, até em termos de futebol combinativo, se juntasse na mesma equipa Douglas, Grimaldo, Pizzi, Krovionovic, Zivkovic, Rafa (ou Gabriel Barbosa) e Jonas? Isso é que era um grande plano…
Cinco estrelas - Guardiola é singular
Depois de reinventar o futebol em Barcelona e arquitetar novas fórmulas em Munique, Guardiola está a transformar o City numa máquina de ganhar e bem jogar. Segue com 9 triunfos seguidos na Premier League (15 no total) e já bateu até os recordes do Arsenal "invencível" de 2004.
Quatro estrelas - De Bruyne vende ilusões
Há três épocas custou 74 milhões (o mais caro de sempre do City), mas foi dinheiro bem empregue num Kevin de Bruyne que perdeu peso, recuou no campo e se transformou num jogador total. É o cérebro, o ilusionista e a referência de um City cada vez mais mágico.
Três estrelas - Obrigado Pirlo
O ponto final da carreira de um fora de série como Andrea Pirlo tem de ser sempre registado. Era uma retirada há muito anunciada e que só foi antecipada porque o New York City foi eliminado na semifinal da Major League norte-americana. Aos 38 anos, e depois de 23 de uma recheada carreira, só nos resta dizer obrigado.
Duas estrelas - O eclipse de Griezmann
Depois de várias épocas a ameaçar sentar-se à mesa de CR7 e Messi, Griezmann é cada vez mais relacionado com a baixa de produção e a desorientação do A. Madrid. E Simeone já diz que não tem ninguém que lhe ganhe os jogos sozinho.
Uma estrela - A imperícia do CA
Por muito cansativas que sejam as queixas sobre as arbitragens, é impossível não dar razão a António Salvador nas setas dirigidas ao Conselho de Arbitragem. As nomeações de Carlos Xistra para todos jogos do S. Braga com os "grandes" e de Rui Costa para o VAR em Alvalade é, pelo menos, sinal de imperícia.
Bruno Prata, in Record

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