Com Porto e Sporting na frente, Benfica a três pontos e Braga a cinco, o campeonato – que muitos julgavam ser uma disputa a dois – está relançado. Tal deve-se a um abaixamento de forma de Porto e Sporting – que têm perdido pontos e/ou realizado exibições menos conseguidas nas últimas partidas – e a uma melhoria do Benfica, mais de resultados, ainda que também exibicional. Um Braga a correr por fora terá uma palavra a dizer.
A três pontos do Porto e Sporting, as circunstâncias do Benfica são melhores do que as exibições. O desafio é claro: aproveitar as circunstâncias para melhorar o futebol jogado. Rui Vitória deu um passo importante com a variação tática que introduziu há semanas: com um meio-campo a três e com a entrada de Krovinovic, a equipa ganha qualidade na circulação de bola e capacidade de contenção. No médio prazo, espera-se, o futebol em aceleração permanente – e que estava transformado numa sequência de repelões com pouco critério – dará lugar a um sistema mais adequado à qualidade individual do plantel.
Numa perspetiva otimista, pode dizer-se que o Glorioso vive um típico momento de interregno, no qual aspetos do passado coexistem com novidades, sem que estas se tenham ainda imposto totalmente. De certa forma, no Dragão, já se viram sinais de um Benfica em mutação, que coexistem, contudo, com males preexistentes.
O Benfica surgiu em campo personalizado, com capacidade de pressionar o Porto na primeira fase de construção, e durante meia-hora foi capaz de controlar o jogo. Só que o onze do Benfica revelou também um paradoxo: pensado para um futebol de posse (é o que sugere um meio-campo com Pizzi e Krovinovic e ainda Jonas na frente), a equipa, no entanto, sempre que recuperava a bola, preferia um futebol direto, procurando um Jonas que, como única referência atacante, nunca vai ser forte nas disputas físicas com centrais (contra o Porto, o brasileiro perdeu todos os duelas aéreos disputados!). Mais, quando Jonas baixou, para regressar à posição a que estava habituado, recebendo e tocando, ninguém surgia a procurar a profundidade. A atacar, mas também na organização defensiva, o Benfica tem ainda muito que trabalhar para potenciar as virtualidades deste novo sistema.
Sintomaticamente, nos escassos minutos em que Zivkovic esteve em campo, a equipa voltou a respirar, porque fugiu aos duelos físicos (onde o Porto seria sempre mais forte), para buscar um futebol associativo. Se o Benfica quiser disputar o campeonato, é por aí que deve ir: um futebol de posse, potenciando as ligações entre Krovinovic, Zivkovic e Grimaldo – uma turma de baixinhos cheia de qualidade individual. Desde que tenha Fejsa a dar equilíbrios defensivos, este caminho é possível. Falta mais qualidade na defesa para organizar desde trás, acrescentar um 8 competente (o regresso de Manuel Fernandes, a tempo de se mostrar para ir ao Mundial?) e, porque não, devolver Pizzi à direita.
Pedro Adão e Silva, in Record
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