"Vários associados eram coagidos, ameaçados e silenciados caso pretendessem tomar a palavra. Tudo com o beneplácito da MAG.
Estava longe, mas mesmo muito longe de imaginar que a má-fé, a iniquidade e a desfaçatez pudessem atingir tão elevada expressão como aconteceu na Assembleia Geral do Sporting Clube de Portugal do passado dia 17 de Fevereiro. Depois de uma explicação inicial em que considerou finda a anterior reunião magna de 3 de Fevereiro (esquecendo a suspensão que, publicamente, havia proclamado), Jaime Marta Soares deu início à sua magnífica prestação de Comendador (em tudo lembrando o personagem de que nos falava Adriano Correia de Oliveira), quando se lhe exigia apenas que assumisse o papel de Presidente da Mesa da Assembleia Geral, ou seja, com imparcialidade e equidistância. Mas não. Com a aquiescência dos restantes membros da mesa da AG, o Senhor Comendador (como tal, assinou a convocatória da AG), não contente, logo descobriu 10 sócios espontâneos que, na primeira fila da plateia cuidadosamente organizada, se prontificaram a comprovar, com inocência e candura, que nada existia nas urnas, o que, aliás, nenhum mortal havia, até então, suscitado. Edificante tal exercício de transparência e isenção. Iniciados os trabalhos, ao Senhor Presidente do Conselho Directivo foi concedida oportunidade para o habitual monólogo através do qual, lançando mão do varapau linguístico a que nos habituou, zurziu, a torto e a direito, alguns associados, recorrendo, para tanto, à mentira e à torpe insinuação. Impávido e sereno, Sua Excelência, o Senhor Comendador a tudo assistia sem reparos ou observações quanto aos impropérios produzidos, os quais, no seu alto magistério, correspondiam às mais elementares formas de liberdade de expressão e de opinião. Finda a intervenção, Jaime Marta Soares, com sapiência e apurado sentido de oportunidade e com a prestimosa ajuda dos insignes juristas que o acompanharam, logo dispensou a ordem de trabalho por si subscrita, autorizando a votação em bloco dos 3 pontos elencados, sem qualquer discussão sobre os mesmos. Era obra! Ao mesmo tempo, vários associados eram coagidos, ameaçados e silenciados caso pretendessem tomar a palavra. Tudo com o beneplácito da Mesa da Assembleia Geral. Para o final estava guardada a intervenção tonitruante e feérica do Senhor Presidente do Conselho Directivo. Empolgado e deslumbrado pelo exaltante momento, logo incendiou o ambiente através do decretamento de fatwas sobre a comunicação social, o que nem o mais radical dos ayatollahs ousaria. Perante a intervenção das forças policiais para evitar agressões a jornalistas e a alguns associados, o Senhor Comendador, de um modo paternal, limitava-se a declarar que não tinha conhecimento de nada. Mao Tsé Tung e Enver Hoxha, entretanto, sorriam."
Abrantes Mendes, in A Bola
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