António Pacheco, o esquerdino que trocou o Portimonense pelo Benfica em 1987, recorda com sentido de humor o martírio que passou quando o treinador Ebbe Skovdahl lhe proporcionou a estreia na Luz. A tarde era especial para a família benfiquista mas porque anunciava o regresso de Fernando Chalana a casa. O pequeno genial ficou de fora e desde logo as atenções dos adeptos se dividiram entre o jogo (com o Salgueiros) e o banco de suplentes. Nada do que Pacheco fez mereceu a aprovação da plateia – e não fez tudo mal. O povo reclamou desde logo a presença do mais amado dos ídolos benfiquistas dos últimos 40 anos; quando Chalana foi chamado pelo dinamarquês, ouviu indicações, entrou e chorou de alegria, o estádio veio abaixo. Pacheco, que foi o substituído, respondeu a quem lhe apontou sub-rendimento: "O que aconteceu comigo? Vocês deviam sentir, desde o aquecimento, a hostilidade de um estádio inteiro."
Raúl Jiménez não tem peso institucional para gerar tantas emoções e sugerir glória à altura de Chalana – a comparação é desde logo afetada porque em causa está um dos melhores futebolistas de todos os tempos. O mexicano, prejudicado pela aposta no 4x3x3, desviou-se do centro da ação. Mas tem sido alvo de crescente carinho por parte dos adeptos pela eficácia revelada sempre que é chamado por Rui Vitória. Quando Jonas lhe engraxou a bota, na sequência daquele magistral passe, RJ confirmou definitivamente o papel de protagonista na longa-metragem encarnada: letra de Raúl, música de Pistolas, golo do Benfica – foi uma das mais belas cantigas da Liga.
Vindo de fora, o ritual de apresentação tem início em gestos bruscos, que antecipam estado de ansiedade e explicam intenções agressivas; a velocidade começa por estar desfasada da realidade do jogo e o que parece ser arma suplementar transforma-se muitas vezes em desejo de participação que sufoca a inteligência. Quando estabiliza e entra no ritmo certo, RJ descobre o espaço, sugere o caminho, encontra soluções e torna-se um perigo. Agora que avança como personificação de aposta mais arrojada por parte do treinador, quase sempre em situações de dificuldade, monopoliza atenções e ascende a inspirador de um sonho chamado penta. Com 4 golos em 2018, todos como suplente utilizado, há três jogos consecutivos que interfere de alguma forma nas vitórias benfiquistas: só com ele a equipa desbloqueou o jogo com o Aves; lançou a vitória sobre o Feirense e esteve na origem do lance que tranquilizou as hostes com o V. Guimarães.
As mensagens criativas que emite têm origem na convicção de que pode ser útil. RJ é uma bomba-relógio pronta a explodir e esse é o efeito sobre o jogo que o torna temível. Mesmo que nada de grave aconteça de imediato, só por presença mina o espírito inimigo ao mesmo tempo que motiva os camaradas de armas que se encontram no mesmo lado da barricada. A obsessão em contribuir não o favorece porque, no afã de ajudar a resolver, comete muitos deslizes técnicos e táticos. A sua arte é adaptar esses momentos de empolgamento, que conduzem a lado nenhum, a obras-primas inesquecíveis.
RJ não conhece o significado de palavras como desânimo, resignação, cansaço, muito menos desistência. Porque nunca deu por concluída a formação como jogador, tem consolidado a convicção de que a velocidade só é um trunfo se for acompanhada pela precisão; que dinâmica sem inteligência, sendo bela prova de generosidade, pode constituir fundamento para baralhar ideias e desarrumar a casa. RJ gera emoções pela entrega, comove por dedicação incondicional e deslumbra quando tira coelhos da cartola, como o passe que permitiu a Jonas marcar um golo difícil como quem cumpre simples formalidade. Sendo o jogador mais caro de sempre na Luz, RJ não é o jogador mais valioso da história benfiquista. Mas é mais, muito mais, do que um mero suplente como tantos outros.
André Moreira
esteve perfeito
esteve perfeito
Silas tinha a intenção de atacar mas Sérgio Conceição roubou-lhe a ideia
André Moreira assinou exibição perfeita com o FC Porto. Por incrível que pareça, em função do resultado que acentuou o pendor ofensivo dos dragões, só teve três intervenções com influência no resultado – e nenhuma configurou desperdício claro do adversário. A vitória azul é difícil de explicar pela estatística mas não suscita dúvidas para quem viu o jogo: os portistas foram muito incompetentes no ataque.
André Moreira assinou exibição perfeita com o FC Porto. Por incrível que pareça, em função do resultado que acentuou o pendor ofensivo dos dragões, só teve três intervenções com influência no resultado – e nenhuma configurou desperdício claro do adversário. A vitória azul é difícil de explicar pela estatística mas não suscita dúvidas para quem viu o jogo: os portistas foram muito incompetentes no ataque.
Ricardo Horta
cada vez melhor
cada vez melhor
Aos 23 anos, está na rampa de lançamento de uma carreira grandiosa
Ricardo Horta confirmou no jogo com o Sporting o que toda uma época já indiciava: está a jogar como nunca, exercendo influência tremenda no grande Sp. Braga de Abel Ferreira. Com 10 golos, poucos como ele em Portugal interferem tanto no jogo coletivo a partir de zonas periféricas. A intervenção sem bola é cada vez mais segura, o talento que revela com ela está a atingir expressão cada vez maior.
Ricardo Horta confirmou no jogo com o Sporting o que toda uma época já indiciava: está a jogar como nunca, exercendo influência tremenda no grande Sp. Braga de Abel Ferreira. Com 10 golos, poucos como ele em Portugal interferem tanto no jogo coletivo a partir de zonas periféricas. A intervenção sem bola é cada vez mais segura, o talento que revela com ela está a atingir expressão cada vez maior.
Edinho e Pires
foram heróis
foram heróis
Juntos somam 72 anos, nada que os impeça de serem decisivos nas equipas
Edinho (35 anos) e Pires (37) foram os heróis da jornada 28. O sadino marcou os 4 golos da vitória na Vila das Aves, o portimonense fez hattrick na sensacional reviravolta dos algarvios no jogo com o Moreirense – estiveram a perder 0-3 e venceram por 4-3. A veterania entre os especialistas do último toque, desde que não afete coragem, orgulho e paixão, serve também para torná-los mais precisos e eficazes.
Edinho (35 anos) e Pires (37) foram os heróis da jornada 28. O sadino marcou os 4 golos da vitória na Vila das Aves, o portimonense fez hattrick na sensacional reviravolta dos algarvios no jogo com o Moreirense – estiveram a perder 0-3 e venceram por 4-3. A veterania entre os especialistas do último toque, desde que não afete coragem, orgulho e paixão, serve também para torná-los mais precisos e eficazes.
Rui Dias, in Record
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