quinta-feira, 20 de junho de 2019

FORMAR PARA VENDER?


"Agora que estamos no defeso, vale a pena recordar o essencial: o futuro não é um negócio como os outros. Por vários motivos, mas o principal é que a sua racionalidade não está na geração de riqueza, no lucro ou na criação de emprego. Nunca esquecer, o propósito de um clube é vencer títulos e, como isso, satisfazer e alargar a sua base de adeptos.
Já se está a ver onde é que quero chegar. O Benfica tem tido a estratégia correcta: num futebol globalizado, a um país semiperiférico, com poucos recursos, resta-lhe a apostar na formação. É mesmo a única forma de se manter competitivo e gerar recursos suficientes para poder continuar a investir. Sem formação, os clubes portugueses estão condenados a definhar financeira e desportivamente.
O Benfica dos últimos tempos é um caso de sucesso na aposta estratégica na formação. De tal forma que se torna fastidioso enumerar os jogadores do Seixal que vingaram. A questão é que uma parte significativa vingou sem ter tido sucesso significativo com as camisolas do Benfica (Bernardo Silva e João Cancelo são os exemplos mais evidentes de vendas erradas e prematuras). É neste sentido que quer o lema escolhido - 'formar a ganhar' -, quer as sucessivas afirmações de Luís Filipe Vieira, sugerem uma mudança de estratégia: Desta feita, o objectivo da formação é, naturalmente, promover a sustentabilidade financeira, mas, de igual modo, garantir que o Benfica vence com base na formação (ao ponto de se fazerem promessas de um Benfica europeu, construído no Seixal=.
Neste contexto, a vontade de vender João Félix - e o entusiasmo não escondido com os valores das ofertas - é não só errada, como totalmente ao arrepio do que o Benfica anuncia. Por vários motivos.
O primeiro dos quais é que, estando ainda longe de ser um dos melhores jogadores do Mundo, João Félix é, claramente, um jogador muito diferenciado e, juntamente com Bernardo Silva, aquele com maior potencial entre os saídos do Seixal. Um Benfica europeu só será possível se o clube for capaz de reter talentos como João Félix.
A prioridade neste momento deveria ser mostrar que Félix deve ficar e fazer todos os esforços nesse sentido, em lugar de revelar entusiasmo com os valores astronómicos das ofertas. Tanto mais que do ponto de vista do jogador, uma saída prematura, ainda para mais para um clube com um modelo de jogo desadequado às suas características (é o caso do Atlético Madrid de Simeone), é um erro para o próprio."

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