João Félix é a melhor notícia da época: não é fácil aparecer um projecto tão promissor como o jovem avançado do Benfica. A verdade é que apareceu, e portanto o mais difícil está feito.
A partir daqui interessa não estragar o que de bom foi construído.
Infelizmente neste nosso futebol que vive à velocidade da luz, em que tudo tem de ser feito para ontem - porque o que interessa é vender (audiências, jogadores e sonhos) -, não estragar o que de bom foi construído nem sempre é simples. Pode ser até o mais complicado.
Por isso João Félix vai saltando ciclos e comendo etapas a um ritmo pouco saudável.
A estreia de ontem pela Selecção Nacional mostrou que todo o histerismo que se criou à volta do jovem de 19 anos não é bom para ninguém.
Não é bom para o miúdo, não é bom para a selecção e não é bom para o futebol nacional.
João Félix precisa de tempo.
Do tempo que teve, por exemplo, Cristiano Ronaldo: chegou ao Sporting como sombra de Quaresma, cresceu calmamente dentro do clube, saltou com selo de jovem promissor para o Manchester United, começou como suplente, claro, até que conquistou a titularidade e teve um ano e meio de Selecção Nacional até se afirmar efectivamente no onze inicial.
Tudo feito dentro dos prazos normais, portanto.
Com João Félix está a acontecer ao contrário. Convém lembrar que o avançado tem apenas seis meses de primeira divisão. Infelizmente para ele, já lhe pedem este mundo e o outro. Dizem que só sai por 120 milhões de euros e que vai ser a estrela num grande clube mundial. Pedem-lhe que faça sempre a diferença e que se afirme na Selecção ao nível de Ronaldo.
A pressão que toda a gente – da imprensa ao Benfica, passando pelos adeptos, claro – está a colocar em cima dos ombros do jovem é desumana e contraproducente.
João Félix não precisa de sair por 100 ou 120 milhões de euros. Nem sequer por 80.
Precisa de ser vendido por um preço razoável e com expectativas razoáveis. Para um clube em que tenha um papel razoável. Caso contrário, o melhor é ficar no Benfica e continuar a crescer. Sem falsas promessas ou responsabilidades desmesuradas.
Precisa, no fundo, de tempo. Tem apenas 19 anos e todo o seu enorme talento não autoriza a que nos esqueçamos disso. Até porque talento apenas, não chega: nos próximos meses vai ter de lhe somar trabalho, oportunidades e sorte, para se tornar naquilo que realmente promete ser.
Se assim não for, Portugal, e o Benfica, arrisca-se a perder o seu projecto mais promissor.
Depois de ontem, já podemos dar a João Félix o tempo que ele precisa?"
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