"Uma certa sociologia do desporto inscreve-se na perspectiva de descrição e análise da distribuição dos gostos (e dos não gostos) desportivos, segundo as classes sociais e o género, e a compreender as funções das práticas desportivas, que se tornam os elementos constitutivos e altamente significativos dos estilos e modos de vida dos cidadãos. Esta “estilização” das condutas corporais é trabalhada, articulando com os problemas de identificação (de integração) num grupo, com a partilha de gestos e de cultura (pela assimilação dos signos, da linguagem, dos hábitos, etc.), e pelo desejo de distinção social, marcada pelas distâncias culturais aos outros grupos (se traduz pela depreciação dos gostos dos outros e pela desqualificação dos seus signos). Em Portugal, não é possível verificar isto, mas em França é possível visualizar esta distribuição social dos comportamentos desportivos, num determinado momento da sua história, através da construção do espaço ou dos sistemas dos desportos (Christian Pociello, Sports et sciences sociales, Paris, Vigot, 1981). O desporto é um sistema de competições organizadas num tempo autónomo (calendários) e num espaço estruturado (estádios, piscinas, ginásios, etc.), permitindo àqueles que se comprometem e especialmente preparados, de realizar uma proeza ou de procurar uma performance individual, na comparação (e/ou de confrontação) com os outros; são as produções “atléticas”, os “resultados” e os “recordes” realizados em condições bem definidas (normalizadas, estandardizadas), aos quais os adeptos do desporto reconhecem o valor e aos quais o grande público encontra um sentido. Pela sua mediatização, o desporto beneficia duma visibilidade social e duma lisibilidade imediatas. No entanto, essa acessibilidade não lhe confere inteligibilidade. Entre a leitura social, a significação política e a análise sociológica, as distâncias simbólicas e culturais crescem. Enquanto fato social total, o desporto pode criar uma ilusão de um espaço pacífico, apolítico, onde reina a igualdade entre os sexos. Ele carrega potencialmente as contradições da sociedade, que atravessa todos os campos da vida social, económica, religiosa, política. O desporto exacerba e organiza as rivalidades entre os indivíduos, grupos, nações, continentes e, ao mesmo tempo, permite criar relações entre eles(as) e estabelecer laços sociais a todos os níveis onde se exercem essas rivalidades."
sábado, 2 de maio de 2020
GOSTOS E NÃO GOSTOS DESPORTIVOS
"Uma certa sociologia do desporto inscreve-se na perspectiva de descrição e análise da distribuição dos gostos (e dos não gostos) desportivos, segundo as classes sociais e o género, e a compreender as funções das práticas desportivas, que se tornam os elementos constitutivos e altamente significativos dos estilos e modos de vida dos cidadãos. Esta “estilização” das condutas corporais é trabalhada, articulando com os problemas de identificação (de integração) num grupo, com a partilha de gestos e de cultura (pela assimilação dos signos, da linguagem, dos hábitos, etc.), e pelo desejo de distinção social, marcada pelas distâncias culturais aos outros grupos (se traduz pela depreciação dos gostos dos outros e pela desqualificação dos seus signos). Em Portugal, não é possível verificar isto, mas em França é possível visualizar esta distribuição social dos comportamentos desportivos, num determinado momento da sua história, através da construção do espaço ou dos sistemas dos desportos (Christian Pociello, Sports et sciences sociales, Paris, Vigot, 1981). O desporto é um sistema de competições organizadas num tempo autónomo (calendários) e num espaço estruturado (estádios, piscinas, ginásios, etc.), permitindo àqueles que se comprometem e especialmente preparados, de realizar uma proeza ou de procurar uma performance individual, na comparação (e/ou de confrontação) com os outros; são as produções “atléticas”, os “resultados” e os “recordes” realizados em condições bem definidas (normalizadas, estandardizadas), aos quais os adeptos do desporto reconhecem o valor e aos quais o grande público encontra um sentido. Pela sua mediatização, o desporto beneficia duma visibilidade social e duma lisibilidade imediatas. No entanto, essa acessibilidade não lhe confere inteligibilidade. Entre a leitura social, a significação política e a análise sociológica, as distâncias simbólicas e culturais crescem. Enquanto fato social total, o desporto pode criar uma ilusão de um espaço pacífico, apolítico, onde reina a igualdade entre os sexos. Ele carrega potencialmente as contradições da sociedade, que atravessa todos os campos da vida social, económica, religiosa, política. O desporto exacerba e organiza as rivalidades entre os indivíduos, grupos, nações, continentes e, ao mesmo tempo, permite criar relações entre eles(as) e estabelecer laços sociais a todos os níveis onde se exercem essas rivalidades."
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