"1. O Regresso do Futebol. Há já umas semanas quando o número de casos de covid-19 começou a estagnar que foi possível perceber que haveria uma forte possibilidade do Campeonato de Futebol regressar. Ao contrário do que nos têm tentado vender, o regresso do Futebol é algo que interessa a todos os clubes. As transmissões televisivas da Primeira Liga representam 25% das receitas operacionais da Benfica SAD, 34% da FC Porto SAD e cerca de 30% da Sporting SAD - estes são os valores dos clubes grandes, nos clubes mais pequenos as percentagens rondam também à volta dos 30-40%, o Belenenses por exemplo é 35%. Como ainda faltavam 10 jornadas para o fim - 5 jogos fora e 5 em casa -, cada clube teria que devolver 29% (5 a dividir por 17) das receitas televisivas. No caso do Benfica isso seria 7.25% das receitas totais do ano e talvez não tivesse assim um impacto gigante porque o Benfica tinha os cofres cheios antes desta crise despontar. Mas nos outros clubes, não só a percentagem seria significativamente maior como a situação pré-crise era bastante diferente. A FC Porto SAD até Dezembro de 2020 tem 214.5 milhões de euros em dívidas a cair - dos quais 35 milhões de euros são do factoring, logo não tem que os pagar. Mas só tem a receber 90 milhões de euros a receber ou em dinheiro. É um buraco de quase 90 milhões de euros em dívidas que tem que resolver (214.5-90-35). Mesmo que consigam adiar o pagamento de 35 milhões de euros do empréstimo obrigacionista, continuam a ser 55 milhões de euros num ano em que vão ter um prejuízo astronómico - só no primeiro semestre foram quase 52 milhões de euros de prejuízo - que também terá que ser coberto. Querem-nos fazer acreditar que cerca de quase 10% da receita operacional da Porto SAD não é fundamental nesta fase para o clube?
2. Centralização dos Direitos Televisivos. Agora que demonstramos a importância dos direitos televisivos nas receitas operacionais de cada clube/SAD, convém falar de outro problema que depois deste regresso vai ter que ser tema no nosso Campeonato. Em média, os salários de cada equipa de futebol (responsável) são cerca de 50-60% das receitas operacionais - no caso da Porto SAD, por causa de não terem ido à Champions League, e da Sporting SAD, porque dependem bastante da venda de jogadores, são quase 100%. Ou seja, os jogadores do Benfica, Sporting e Porto vão regressar ao Campeonato para continuarem a receber os seus salários - no caso do Benfica e do Porto são 6.5-7 milhões por mês (para a equipa toda). Nos outros clubes, os jogadores vão regressar ao Campeonato para receber os seus salários significativamente menores - em média cerca de 500 mil euros por mês (para a equipa toda). Óbvio que os salários das equipas pequenas ainda são muito acima da média portuguesa (10-15 mil euros por mês), mas a vida de futebolista são só 10-15 anos. Acho que os clubes mais pequenos perderam aqui uma grande oportunidade de se revoltar com razão. O produto (transmissões televisivas) precisa tanto dos clubes pequenos como do Benfica, do Porto e do Sporting. Os clubes pequenos é que não têm capacidade para aguentar uns meses sem jogar, porque se tivessem estava agora a dizer que não vão jogar porque o que recebem não compensa o risco. Para quem diz que a Centralização dos Direitos Televisivos só serve para tirar dinheiro ao Benfica e dar aos outros clubes, a pergunta que faço é se não gostavam que a nossa Liga fosse mais competitiva.
3. A Nova Polémica do Conselho de Disciplina. Fernando Gomes, antigo vice-presidente e antigo jogador de Basquetebol do Porto, vai recandidatar-se à Federação Portuguesa de Futebol e parece ter escolhido a deputada do PS, Cláudia Santos, para liderar o Conselho de Disciplina. Alegadamente, a Cláudia Santos aparece nos “e-mails” do Benfica em 2012. Na altura, Mário Figueiredo, antes de a ter nomeado Presidente da Comissão de Instrução e Inquéritos da Liga, terá perguntado ao Benfica o que achava da candidata. Fico com uma certa curiosidade se Mário Figueiredo perguntou exclusivamente ao Benfica ou se terá perguntado a outros clubes também, visto que como é eleito pelos clubes, parece-me que faça sentido que queira ter a aprovação destes clubes em certos temas. Não acho que Mário Figueiredo o devesse fazer, mas já que fez, será que só perguntou a um clube? Há mais dois problemas com esta polémica. (1) toda a gente envolvida no futebol tem uma preferência por um clube. O facto da Cláudia Santos ser, alegadamente, adepta do Benfica é tão relevante como o facto do Fernando Gomes ter sido antigo vice-presidente do FC Porto. Ou pelo menos devia ser; (2) A Cláudia Santos já castigou Luís Filipe Vieira com uma suspensão do cargo de Presidente por dois meses em 2014 o que levou o Benfica a adiar a festa do título na altura para que Luís Filipe Vieira pudesse receber o troféu no relvado. Parece-me um não assunto. Mas nos últimos dias têm-se acumulado o número de casos em que adeptos do FC Porto tentam “cancelar” um adepto do Benfica. Será que Fernando Gomes poderia ser Presidente da Federação Portuguesa de Futebol se tivesse sido vice-presidente do Benfica antes?
4. Campeonatos das Modalidades Cancelados. Ao contrário do futebol, as modalidades não trazem muita receita através das transmissões televisivas. Como tal, sem grande surpresa, todas as Federações seguiram a FPF que já se tinha antecipado e terminado com os campeonatos de Futsal, Futebol Feminino e Futebol de formação. O que se pedia aqui é que as decisões fossem transversais a todas as Federações e que não houvesse Campeões numas modalidades e outras sem Campeões. As Federações acabaram por anunciar tudo em conjunto. Não podiam ter feito melhor.
5. O Que É Que Tem Acontecido Lá Fora? Um pouco por toda a Europa os Campeonatos vão sendo cancelados, particularmente nas modalidades de pavilhão. No Andebol, foram cancelados sem campeão os Campeonatos da Hungria, Portugal, Suíça, Eslováquia e Áustria, e com campeão os Campeonatos de França, Alemanha, Espanha, Polónia e Dinamarca. No Voleibol praticamente todos os principais campeonatos foram cancelados e não atribuíram títulos, com excepção na Rússia. No Hóquei em Patins tanto na Suíça como em Itália optaram por terminar os Campeonatos sem atribuir títulos, enquanto em França e em Espanha atribuíram títulos. No Basquetebol e no Futsal a maioria dos Campeonatos ainda não foram cancelados, sendo que no caso do Basquetebol as Ligas Grega e Italiana foram dadas como terminadas sem se atribuir títulos e as Ligas Belga e Lituana foram atribuídos títulos. Ou seja, com excepção do Futsal, onde quase toda a totalidade dos Campeonato ainda não foram terminados, em todas as modalidades houve países a atribuir títulos e outros países sem atribuir títulos.
6. Tariq Panja e o NY Times. Aqui há uns dias surgiu uma notícia no NY Times sobre o Benfica e o seu poder em Portugal. Foi um artigo caído um pouco do céu e isso deixa sempre algumas interpretações em aberto. Tinha alguns factos descontextualizados. Por exemplo todos os sócios recebem um emblema de ouro/prata quando fazem um certo número de anos de sócio. Não é algo exclusivo aos juízes por exemplo. E no geral, o artigo parecia ter um título mais chamativo do que um conteúdo dilacerante. Por exemplo, para falar da recorrente corrupção no futebol português, traz um exemplo de como o Pinto da Costa foi condenado. Parece-me que estes artigos dizem mais respeito a Luís Filipe Vieira do que ao Benfica. O NY Times há pouco tempo fez um artigo de como a claque do FC Porto têm uma equipa de futebol que subiu diversas Divisões sem jogar vários jogos porque os seus adversários não queriam ser agredidos. Este artigo do Benfica parece-me mais um artigo dessa série organizações desportivas raras. Onde os olhos de fora olham para os nossos clubes e vêem organizações e estruturas extremamente evoluídas a nível desportivo mas depois com jogos de poder e de bastidores dignas do século passado."
Sem comentários:
Enviar um comentário