"Acabou. Finalmente acabou a época mais longa da história do futebol português, 361 dias após ter começado. Uma época atípica, pelas condições que todos nós conhecemos, e que finalmente chegou a um termo após o FC Porto ter conquistado a Taça de Portugal frente ao SL Benfica, ao vencer os encarnados por 2-1.
Foi uma época de altos e baixos para os rapazes da Luz, sendo que os momentos baixos se superiorizaram aos momentos altos. De facto, a época que agora findou deverá servir de reflexão, assim como também deverá servir para os adeptos e sócios tirarem ilações sobre o trabalho que tem vindo a ser feito nos últimos tempos, onde, em três anos, o Benfica perdeu dois campeonatos e uma Taça de Portugal para um FC Porto intervencionado e falido.
Esta semana, apresentamos, entre os inúmeros altos e baixos, cinco momentos que marcaram a época encarnada.
SL Benfica 5 – 0 Sporting CP – Comecemos, então, pelo princípio. No dia 4 de Agosto de 2019, o Benfica defrontava o Sporting no primeiro jogo oficial da época. Após uma pré-época positiva, onde conquistou a International Champions Cup, os encarnados encaravam a época com expectativas elevadas face ao futebol que a equipa apresentou na época passada e, a espaços, na pré-época.
Após uma época em que o impossível se transformou na Reconquista, os encarnados dissiparam as dúvidas que pairavam antes da Supertaça. Dúvidas essas que se focavam, maioritariamente, na seguinte questão: será que o fosso de qualidade entre “águias” e “leões” se mantinha? Os homens de Bruno Lage responderam paulatinamente dentro das quatro linhas, ao ganhar por 5-0.
Primeira volta do campeonato – O Sport Lisboa e Benfica realizou uma das melhores primeiras voltas da sua história, ao ganhar 16 dos 17 jogos disputados, tendo sido apenas derrotado pelo FC Porto, na terceira jornada. Os encarnados chegavam a dezembro com uma vantagem de sete pontos sobre os rivais do norte, que se encontravam moribundos e com um treinador na porta de saída, pelo que não seria de esperar outra coisa senão o 38º título da história das “águias”.
Fevereiro, o início do fim – O mês de Fevereiro foi, indubitavelmente, o início do fim do sonho do “38”. Um mês muito difícil no calendário encarnado, com as “águias” a terem de se deslocar ao terreno de FC Porto e Gil Vicente FC, assim como a recepção ao SC Braga de Rúben Amorim. Nestes três jogos, os comandados de Bruno Lage apenas somaram três pontos, resultado da vitória sobre o Gil Vicente, em partida a contar para a 22ª jornada. Além disso, foi também no mês de Fevereiro que os encarnados se despediram da Liga Europa, ao serem eliminados pelo FC Shakhtar de Luís Castro, após empatarem a três bolas na Luz, na segunda mão dos dezasseis avos de final. Os comandados de Bruno Lage demonstravam um futebol desgarrado, sem fio de jogo visível, e em que a consistência defensiva era praticamente inexistente. De resto, a única boa notícia em Fevereiro foi a passagem à final da Taça de Portugal, após dois jogos difíceis (e sofríveis) frente ao FC Famalicão.
Despedimento de Bruno Lage – De bestial a besta. O reinado de 17 meses de Bruno Lage no comando da equipa técnica dos encarnados foi do oito ao oitenta, sem que nada fizesse esperar tal hecatombe. Os primeiros doze meses foram marcados por um estilo de jogo atrativo, que trouxe bons resultados e que voltou a trazer a ânsia de ver o Benfica jogar.
O técnico setubalense destacou-se também pela sua boa capacidade de comunicação, sendo que as suas conferências de imprensa eram uma lufada de ar fresco no ambiente muitas vezes tóxico que é o futebol português. Lage reconquistou os adeptos, e depois conquistou o 37º título de Campeão Nacional e a 8ª Supertaça do palmarés encarnado.
No entanto, a partir de Fevereiro as coisas complicaram-se. As lacunas no jogo das “águias” começaram a ser expostas, resultando numa queda de rendimento absolutamente inacreditável, com os homens da Luz a somar apenas três vitórias nos últimos 14 jogos de Bruno Lage à frente do comando técnico encarnado.
A sua saída era inevitável, pelo que era perceptível que Bruno Lage já não tinha condições para desempenhar o cargo. O técnico setubalense não soube quando sair, pelo que acaba por abandonar o clube pela porta pequena, tendo sido demitido (e desmentido) em direto por Luís Filipe Vieira, na conferência de imprensa após o jogo contra o CS Marítimo.
Dobradinha do FC Porto – O maior feito do SL Benfica esta temporada foi a dobradinha do FC Porto. Sem querer tirar qualquer mérito a Sérgio Conceição e à restante equipa técnica, assim como aos seus jogadores, mas o sucesso desportivo dos azuis e brancos aconteceu porque a “estrutura” do Benfica demonstrou, mais uma vez, que é capaz de ressuscitar mortos.
É bom relembrar que em Dezembro/Janeiro, a contestação para os lados do FC Porto era tanta que se chegou a avançar que Sérgio Conceição estava com um pé e meio fora do Dragão. Não é aceitável que um clube intervencionado pela UEFA, com um dos plantéis mais fracos das últimas décadas, consiga ganhar dois campeonatos e uma Taça de Portugal em três anos, dado que enfrenta um Benfica com a maior saúde e estabilidade financeira da sua história.
Não é aceitável que se continue a construir plantéis sem qualquer planeamento lógico. Gastaram-se mais de 37 milhões de euros em dois pontas de lança, 20 milhões num médio defensivo, mas não se gastou qualquer dinheiro nas posições em que, de facto, era preciso gastar dinheiro. Falo de um defesa direito, um médio centro box-to-box ou, por exemplo, um segundo avançado com golo, tal como era João Félix.
Agora corre-se atrás do prejuízo, tal como é possível observar pelas ocorrências dos últimos dias. Foi-se buscar Jorge Jesus e espera-se um forte investimento no plantel. É pena que tal só aconteça em ano de eleições, e depois de se ter dado três títulos aos rivais do norte. Proponho uma alteração nos estatutos: que as eleições para a presidência do Benfica se tornem anuais. Desta forma, pode ser que o Sport Lisboa e Benfica consiga ter sempre plantéis competitivos…"
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