quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

UM, DOIS, 3-4-3



 "A final-four da Taça da Liga 20/21 trouxe-nos a falência do 442 que foi a maior marca do legado anterior de Jorge Jesus no Benfica. E se Sporting e SC Braga já utilizavam o camaleónico 3x4x3 (5x2x3), FC Porto e Benfica tentaram a sua sorte desenhando o mesmo sistema que bracarenses e sportinguistas, mas o resultado final (coincidência ou não) pendeu a favor de quem mais rotinado está nas valências da nova vaga. E ontem, quarta-feira, calhou a um Benfica completamente remendado na linha defensiva apostar num encaixe perfeito em relação ao Braga de Carvalhal, e acabar a perder o acesso à final por detalhes. E no seguimento poderemos falar da maior eficácia dos minhotos, como poderemos falar no tal sistemático encaixe que levou as equipas a forçar longo demasiadas vezes – não se estabelecendo assim um controle satisfatório de nenhuma das equipas no jogo.




Darwin, pela esquerda, foi o porto-seguro do Benfica. Capacidade imperial de ganhar espaço e segurar. Melhorando definição e finalização será um caso muito sério.

Assim, se quisermos ser simples, é impossível não referir que pelo facto do Benfica apostar numa tripla central inédita (Weigl juntou-se a Jardel e Todibo) e em alas também eles novatos (Cervi e João Ferreira). Ora, isto deixou Pizzi e Taarabt num duplo-pivot que encontrou oposição em Al Musrati e Castro, deixando os dois criativos fora das zonas de decisão. Na frente, Darwin tentou replicar movimentos também desenhados no Dragão (da esquerda para dentro), enquanto que Seferovic adormeceu no meio dos centrais. Já Rafa poderia ter tido papel mais importante, sendo que a sua exibição nos arrasta para os ‘ses‘ do que poderia ter sido este e o outro jogo desta final-four.
E o que ficou evidente é que a intenção de jogar curto dos grandes em Portugal (nos quais incluimos este grande Braga!) se fica por isso mesmo, intenção. Se pressionados e encaixados, os jogadores escolhem, invariavelmente, o passe longo. E não havendo paciência (ou talvez arte) para circular, fica difícil que o jogo não se torne numa catrafada de repelões e duelos, com pouco domínio de parte a parte. Já o dissemos, o 523 (que no momento defensivo as equipas desenham) tem a valência de desestabilizar a 1.ª fase de construção, enquanto garante solidez e largura na linha defensiva. Mas se o ajuste não for rápido, a linha média deixa espaço. Daí que seja imperativo que, mais do que neste jogo, apareça domínio com bola para fixar os três da frente e encontrar espaço no miolo.

Ainda que não cumprindo escrupulosamente, Pizzi e Taarabt não tiveram as dificuldades que se esperavam. O espaço à frente dos centrais do Benfica poderia ter sido mais vezes explorado. Mas para isso seria necessária outra abordagem ao jogo.

Esta é, claro, a visão de quem está de fora. Sendo que, lá dentro do vortex criado pelo medo da derrota, a escolha que parece mais óbvia é a de jogar longo para depois ganhar a 2.ª bola nesse espaço. Mas, das duas, uma, ou as equipas crescem neste aspecto ou podemo-nos preparar para mais jogos deste estilo, em que as duas equipas até conseguem criar oportunidades (nos poucos momentos que têm no meio-campo ofensivo) e que é a eficácia a ditar o vencedor. E se bem que isto se pode aplicar a qualquer jogo, mais se aplica quando este encaixe e o medo de perder se juntam. Isto porque se a confiança de ganhar fosse maior que o medo, talvez as equipas aparecessem mais preparadas para com bola descobrirem esses espaços, ao mesmo tempo que controlavam a partida. Mas o erro está sempre à espreita. E à falta de preparação total para esse desiderato, tenta-se evitar o erro e as transições.


Bola demasiado tempo descoberta merecia outro controle por parte da linha defensiva do Benfica. O golo acaba por surgir no espaço que não foi protegido

Este seria um cenário. Outro seria o de reforçar o miolo garantindo superioridade ali – fazendo entrar o 352 nas contas do jogo. E se isto aconteceu a espaços durante a partida, a sua utilização não foi suficiente para aí garantir superioridade. Também porque o meio-campo foi uma espécie de controlador aéreo (só a via passar por cima), e também porque nunca (ou quase nunca) os dois avançados se fixavam numa zona mais central. Porém, deixando os cenários hipotéticos de lado (mais fáceis de exigir quando se está de fora), o jogo inevitavelmente trouxe períodos no último terço. E foram esses períodos a levar a conversa para a linha defensiva do Benfica e sua impreparação para no detalhe controlar as investidas do Braga. Algo que se notou no primeiro golo (com a bola descoberta demasiado tempo para não se controlar a zona onde a bola entrou) e no segundo (com Todibo a demorar muito mais que Tormena a estar preparado para o cruzamento). Pequenos detalhes que vão ficando cada vez mais importantes, isto porque a antevisão, prevenção, previsão dos lances é fundamental para os defesas chegarem mais cedo que os avançados. E com uma linha defensiva sem qualquer tipo de preparação, o Benfica ficou sem possibilidades de chegar à final – ainda que pelo meio tenha marcado de penálti, e criado um par de situações que continuam a revelar a falta de killer-instinct dos encarnados (e que curiosamente foi uma das maiores valências do tetra).

O detalhe no segundo golo do SC Braga. Todibo ainda está a tentar juntar-se à linha defensiva e já Tormena mudou o chip para atacar o cruzamento. Uma diferença de centésimos que se revelou decisiva."

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