"Na única vez que fui a Copenhaga, levei uma missão para cumprir. Desde miúdo lia os contos de Hans Christian Andersen, e é na capital da Dinamarca que se encontra a mítica estátua da Pequena Sereia, título de uma das obras mais conhecidas daquele escritor dinamarquês do século XIX. Tinha uma agenda preenchida, mas conseguiu tirar uma tarde para ir vê-la - tinha de ser. Não havia telemóveis, nem Google Maps ou Tripadvisors, só um mapa de bolso do Posto de Turismo, e eu estava a mais de quatro quilómetros de Pequena Sereia. Aproveitei que a cidade é bastante plana e meti-me a caminho, aproveitando para ir mergulhando em Copenhaga.
Descobri, nessa viagem, que a estátua tinha sido encomendada em 1909 pelo filho do fundador da marca de cervejas Carlsberg. O homem era fascinado pelo conto (levado à cena pelo Teatro Rela de Copenhaga) e pediu ao escultor Edvard Eriksen que criasse o monumento de bronze. Foi mostrado ao público pelo primeira vez em Agosto de 1913 e, desde então, tornou-se uma atração turística.
Andei, andei, perdi-me, voltei atrás, segui a frente de mar e comecei a ver navios de carga por todo o lado. Acreditem, já estava quase arrependido da minha missão. Umas duas horas depois de ter saído da praça central, finalmente encontrei-a, mas nem uma fotografia lhe terei. A estátua tem 125cm de altura e está assente numa rocha. À volta, no dia em que lá estive, havia demasiados porta-contentores e chovia a potes. As minhas expectativas foram por água abaixo. Em viagem, voltei a ter mais uma ou duas desilusão deste género, até aprender a lição: nunca colocar a fasquia demasiado alto. Não é deixar de sonhar, nada disso. É apenas estar consciente de que nem tudo acontece da forma que queremos. No dia seguinte, meti-me num ferry e fui a Malmo, na Suécia. Estive lá meia dúzia de horas a beber umas cervejas e a ver pessoas a passar. É a cidade onde nasceu o Stefan Schwarz. Adorei!"
Ricardo Santos, in O Benfica
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