"Após a primeira vez em que se defrontaram, um triste episódio uniu Benfica e Torino para sempre
Antoine de Saint-Exupéry foi o autor da célebre frase 'aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós', numa alusão à partilha de emoções e sensações nos laços criados, que se exacerbam, especialmente, em situações de vulnerabilidade. Os momentos de tristeza têm o condão de estreitar as ligações, mesmo que os contactos daí em diante sejam esporádicos. Do apoio advém uma gratidão que se perpetua.
Em 3 de Maio de 1949, na festa de homenagem a Francisco Ferreira, o Benfica defrontou o Torino, considerada a melhor equipa da Europa. O público acorreu em massa para o Estádio Nacional, onde assistu a uma verdadeira parada de estrelas, que protagonizaram uma excelente partida que culminou com vitória dos 'encarnados' por 4-3. A festa desenrolou-se de forma perfeita.
No entanto, tudo seria diferente no dia seguinte! Na viagem de regresso a Itália, o avião que transportava jogadores, treinadores e dirigentes do Torino despenhou-se em Superga, vitimando todos os ocupantes. A notícia deixou os atletas do Benfica bastante abalados, principalmente Francisco Ferreira, ao ponto de os 'jornais italianos reproduziram as fotografias em que se dava conta do estado de prostração de Chico Ferreira, e o público foi unânime em se mostrar impressionado com o abatimento moral do nosso atleta, não escondendo a sua emoção perante o facto'.
Passados sete anos, na primeira visita do Benfica a Itália, para participar na Taça Latina, os dirigentes Pinheiro Machado e Hipólito Silva sugeriram que a equipa prestasse tributo aos malogrados jogadores do Torino. Em 29 de Junho, dia anterior à visita no monumento erguido em homenagem das vítimas do acidente, um dos filhos de Mazzola, capitão dessa grande equipa, ligou para Pinheiro Machado e pediu para se encontrar com a comitiva, ao que o dirigente consentiu. No dia seguinte, acompanhados pelo avô, os filhos do avançado cumprimentaram os dirigentes, e Sandro, o mais velho, 'pediu que fossem portadores de uma fotografia que desejavam oferecer a Francisco Ferreira (...) por quem o seu pai nutria a mais profunda admiração'. Conviveram com os jogadores e seguiram com a comitiva para Superga, onde os benfiquistas depositaram uma coroa de flores vermelhas e brancas, num momento de grande emoção! Dias depois, os filhos de Mazzola enviaram ao presidente do Benfica, Joaquim Ferreira Bogalho, em que afirmaram: 'Nel nostro cuore resterÀ sempre vivo il recordo'.
Sandro reencontraria o Benfica em 1965, na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, e, tal como o pai, tinha-se tornado um avançado temível.
Saiba mais sobre esta ligação entre o Benfica e o Torino na área 15 - No Caminho do Tempo do Museu Benfica - Cosme Damião."
António Pinto, in O Benfica
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