sábado, 7 de agosto de 2021

VITÓRIA A ABRIR, CONTRA TUDO...

 


Benfica vence em Moreira de Cónegos (2-1) e, tal como nas últimas sete épocas, arranca a Liga com um triunfo. Lucas Veríssimo foi a figura de uma equipa que jogou muito tempo com 10 jogadores.

Quando um defesa cumpre o seu ofício, o de defender, já ninguém olha com a admiração de antigamente. É quase como o carteiro que coloca a carta na caixa sem glória, sem enfeitiçar a admiração de quem vê. E se cantar? Bom, se cantar… É isso que se exige hoje aos defesas: a cantoria. Essa, claro, é feita com os pés, jogando, decidindo, ajudando a atacar, a encontrar espaços. Lucas Veríssimo, com um golo e o passe que inventou o 2-0, foi isso tudo, para além de cumprir no seu ofício, e assume-se como um caso sério. Seríssimo.
O 11 do Benfica foi coerente com as palavras de Jorge Jesus. Está toda a gente a pensar no Spartak Moscovo de Rui Vitória, a contar para a pré-eliminatória da Liga dos Campeões. A defesa de três centrais manteve-se, mas entraram Gil Dias, Soualiho Meite, Adel Taarabt, Everton Cebolinha, Luca Waldschmidt e Gonçalo Ramos. Foi quase uma equipa nova, o que ajuda a perceber a dificuldade do Benfica para superar o bloco subido e curto montado por João Henriques, com os centrais Artur Jorge e Abdoulaye Ba a morderem os avançados que baixavam e procuravam desbloquear o jogo.
Exagerava-se assim na famosa circulação em “U”, com a bola a passar pelos alas, centrais e médios, que se iam recriando no meio. Lucas Veríssimo, lá está, parecia ser quem tinha carta branca para acelerar, encontrar o espaço, aquele passe vertical malandro que dá cabo de organizações alheias. Já o fizera em Moscovo.

O golo chegou cedo, antes dos 10 minutos, depois de uma jogada de Gonçalo Ramos pela esquerda. O menino acabaria por fazer um grande jogo, bom com bola no pé, servindo de referência, juntou sócios, qual conhecedor de tempos e esperas, mas também no capítulo da disponibilidade, correndo para condicionar, correndo mais ainda quando Diogo Gonçalves viu o vermelho já na segunda parte. Desta vez, o tal lance pela esquerda deu canto. Embrulhados, ninguém despachou a bola e Veríssimo, rapidíssimo, encostou de cabeça, 1-0.
O Moreirense ia encaixando num 5-2-3 ou 5-4-1, dificultando e muito o jogo dos visitantes pelo corredor central, tentavam condicionar Taarabt e Meite, que se iam soltando com mais facilidade à medida que o tempo passava. O ouro, lá está, estava na linha e nas costas da defesa, seria assim que nasceria o 2-0 para o Benfica, aos 19’, quando Veríssimo descobriu Diogo Gonçalves pela direita, com a melodia certa. O ala cruzou, um defesa cortou e Waldschmidt, que já marcara na jornada inaugural na época passada, marcou com facilidade, 2-0.
Parecia que estava tudo fácil, não seria preciso chamar aquele banco que não estava nada mal, interessado somente em arejar as perninhas e a fadiga mental. Mas era uma ilusão. E não foi necessário esperar muito tempo para testemunharmos todos a fineza que mora nos pés de Yan Matheus: passe soberbo para Rafael Martins, que, isolado, desviou de Vlachodimos e reduziu (30’). Classe, foi o que se observou aqui.


O Benfica manteria a bola mais perto dos pés dos seus homens e até ia revelando variabilidade no seu jogo, o que é sempre importante para encontrar rotas várias para o golo. Veríssimo continuava na sua cantoria, Waldschmidt mostrava que é um futebolista muito interessante a ir buscar a bola naqueles terrenos baldios entre defesa e meio-campo e Meite revelou potência e condições técnicas. Do outro lado, Felipe Pires e Filipe Soares tentavam crescer no jogo. E cresceriam.
A segunda parte, já depois da bola ao poste de Gonçalo Ramos perto do intervalo, começou praticamente com uma entrada imprudente e perigosa de Diogo Gonçalves, que lesionou o companheiro de profissão, Abdu Conté. Foi o VAR que permitiu ao árbitro expulsar o futebolista do Benfica.
E tudo ficou mais complicado.
A bola já não queria nada com os pés daquela gente que veste de vermelho. Gilberto e Weigl entraram, mas ofereceram muito pouco. Os visitantes acabariam por sofrer e muito, sem a bola, mas não tanto em lances perigosos.
Com exceção para uma jogada em que Filipe Soares, com uma soberbo passe longo, encontrou Ismael pela direita, que só não empatou o jogo porque Vlachodimos encheu a baliza, a equipa da casa iria produzir pouco. Apesar de tudo, o Moreirense cresceu, mostrou valentia, havia pernas e qualidade, mas faltou algum acerto nos últimos metros, como diria no final Rafael Martins. Jesus, que ia revelando preocupação no banco, lançou Rafa para explorar o espaço deixado no meio-campo da equipa da casa. Sem surpresa, o Benfica já não conseguia ligar o jogo, estava a sofrer, fazia muito menos passes, não havia qualquer controlo. O Moreirense chegava-se à frente, já sem um defesa e mais um avançado (começou em 3-4-3), mordia no campo todo, mas não ameaçou mais a baliza de Vlachodimos. Galego entrou atrevido, mas faltou veneno.
Antes do final, até foi Gonçalo Ramos que quase marcou e descansou aquela gente que já não sabia o que era sofrer com um jogo de futebol na bancada. Pasinato defendeu e prolongou a agonia.
O Benfica ganha assim na estreia na 1ª Liga, descansando os músculos dos futebolistas que venceram em Moscovo e que vão voltar a repetir a dose em Lisboa, na próxima semana.

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