terça-feira, 9 de novembro de 2021

O BENFICA TIRA-ME ANOS DE VIDA

 



""The natural state of the football fan is bitter disappointment, no matter what's the score".
Disse Nick Hornby no seu maravilhoso livro "Fever Pitch" (na minha opinião a Bíblia incontornável de qualquer doente da bola. Quem não leu, tem que ler!) que o típico adepto vive num estado de constante desapontamento, independentemente dos resultados da sua equipa. Que aqui e ali vive momentos de euforia (o dele foi o golo do Michael Thomas no último minuto do último jogo do campeonato que deu ao Arsenal o título de 1989 - que o clube e ele perseguiam há 19 anos), mas que se for preciso na semana seguinte já estava novamente aborrecido com a equipa, com os dirigentes e com os jogadores.
É uma visão pessimista, mas realista. O fanático nunca está contente. E vive sempre numa camada de nervosismo. Adora ir à bola, vai para as roulotes todo contente para rir e beber copos, mas assim que começa a bola pensa "pronto, começou o sofrimento". Conta Ricardo Araújo Pereira que na primeira vez que foi à Luz olhou para o seu tio que suava rios e fumava incessantemente e pensou "É isto que quero para a minha vida".
O fanático está sempre frustado. Quer sempre mais, acha sempre que as coisas podiam estar melhor. Até acha que se fosse ele o Presidente, seria melhor que o Presidente. Se fosse ele o treinador, seria melhor que o treinador. Se a idade, o talento e o físico permitissem ser jogador, até seria melhor que os seus jogadores. E marcaria o golo e correria em direção à bancada a beijar o emblema de forma apaixonada e o 3º Anel ia-me amar e cantar o meu nome e...bom, já divago.
Vem isto a propósito das emoções que os Benfiquistas viveram nos últimos tempos. E principalmente da depressão que se apoderou do clube no último mês. A sério, que entidade esquisita és tu, Benfica! Pareces uma adolescente com as hormonas aos saltos, pá! Ganhas 3-0 ao Barcelona e cais num buraco? És esmagado pelo Bayern e 3 dias depois és tu que esmagas o Braga? Ganhas ao Vizela quando tudo parece perdido e empatas com o Estoril quando tudo parece vencido. Que fazes ao nosso pobre coração? O Glorioso é uma montanha russa de emoções constantes e assim sendo é normal que os adeptos gritem. E sofram. E resmunguem. E amem. E queiram. E não queiram. E voltem a querer os seus. E ao final do dia já não saibam bem o que dizer.
E repare-se: Há sinais preocupantes? Há. O Benfica jogou muito pouco futebol nos últimos jogos, revela uma dificuldade tremenda de jogar contra blocos baixos, tem sofrido vários golos pelo ar, foi duplamente esmagado pelo Bayern, perdeu a liderança e tem em risco o apuramento para a final four da Taça da Liga.
Mas há sinais de confiança? Há. O Benfica venceu 9 dos seus 11 jogos para o campeonato, eliminou Spartak e PSV para chegar à fase de grupos da Liga dos Campeões, venceu de forma maravilhosa o Barcelona por 3-0 e pode vencer as duas taças nacionais (algo que um dos seus rivais já não pode dizer). Aqui e ali tem momentos de grande futebol e tem claramente um plantel com imensos valores de qualidade.
É mesmo difícil achar um meio termo com o Benfica. E assim seguiremos até à prova dos nove: foi campeão? Sim ou não? Porque é aí que chega o meio termo. O termo total. Separam-se as águas, as duas facções encontram-se e os fanáticos chegam à conclusão: a época só é boa quando o Benfica é campeão. E aqui não é a emoção a falar, é a racionalidade: caros Rui Costa, Jorge Jesus e jogadores, desta vez não há desculpas. Temos que ser campeões. Pelo clube que somos, pelo treinador que temos, pelos jogadores que possuímos, pelos adeptos que vos apoiam, pelo investimento que fizemos. 
Mas e se não acontecer? Então lá terão nas bancadas e nos sofás adeptos irritados, tristes, aborrecidos, nervosos, a achar que faziam tudo melhor. E se acontecer? Teremos uma noite de euforia, bêbedos de alegria pelo Marquês e pelas ruas do país e do mundo. E depois na semana seguinte lá estaremos nas bancadas e nos sofás irritados, tristes, aborrecidos, nervosos, a achar que faríamos tudo melhor.
É a sina de ser adepto de futebol. Não será por acaso que os Italianos têm a mesma palavra para descrever os doentes de uma febre tão horrível como o tifo e para os doentes da bola: eis os tifosi."

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