"É importante refletir sobre a violência no desporto, sobretudo pelas diferentes formas que ela pode ter: hooliganismo, agressões, insultos, gestos obscenos, etc. A questão que se coloca é seguinte: será que a violência desportiva não está fortemente ligada à sociedade que a produz?
As definições habituais sobre a violência estão associadas à noção de integridade, seja ela de ordem psicológica, seja ela de ordem física. Esta noção de integridade acorda-se com o nível mais comum da teoria do sociólogo alemão Norbert Elias, que postula que o processo civilizacional em marcha desde o século XVI no ocidente levou à diminuição da violência graças à implementação do Estado. A noção de “configuração”, forjada por este autor permite uma melhor aproximação nesta reflexão. Ela permite invocar as permanências das relações entre os indivíduos no seio de grupos regulados. Uma certa forma de violência pode ser definida segundo os momentos e os locais. Disputar um jogo de futebol, distribuindo pontapés nas canelas, não era considerado violento antes de 1871, mas não é “fair-play” no início do século XX, e muito menos nos dias de hoje. Na realidade, a violência muda com as normas implementadas.
O pluralismo dos pontos de vista sobre a violência no campo científico permite considerar que este vocábulo pode dar lugar a representações diferenciadas nos espaços sociais diversificados. Os resultados das investigações sociológicas têm mostrado que a desigualdade da violência está ligada à desigualdade social e cultural no campo desportivo. Duas classes são identificadas: os desportos com “violências duras”, social e culturalmente “pobres” (futebol, desportos de combate, por exemplo) e os desportos com “violências doces”, social e culturalmente “ricos” (vólei, ténis, por exemplo). Entre os desportos de contacto e os desportos sem contacto, uma fina barreira se instala às violências diretas."
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