"Que bem sabe dizer isto: «Na cidade invicta venceu o invicto». Há tanto para falar sobre o clássico, mas esta frase é intocável, por mais que certamente incomode uns quantos: o Benfica continua invicto nesta temporada depois de vencer no Dragão. A crónica até podia ficar por aqui, porque só essa frase já traz tanta alegria. Mas como a alma transborda de emoção, acrescente-se mais qualquer coisa.
Este era um clássico que se sentia que ia ser diferente em relação aos outros, por causa de um novo Benfica. De um Benfica bem melhor. Mas do lado do rival estava tudo igual, foi uma semana de pré-clássico igual a todas as outras: com ex-jogadores a garantirem que o jogo é uma guerra, com Pinto da Costa a vir falar do centralismo e da imprensa de Lisboa e com faixas na cidade a insultar o Benfica e a pedir buzinadelas a acompanhar. É sintomático que a faixa não diga «Se és do Porto, buzina». Ou «Se amas o Porto, buzina». Mas é esta a cultura desse clube...
Uma cultura que tem tanto de negativo e que nunca a quero para o Benfica, mas que mal ou bem lhes dá uma gasolina gigantesca. Essa atitude do «até os comemos», do «contra tudo e contra todos» leva a que o Benfica tenha sempre tantas dificuldades nos jogos com os dragões. E neste clássico essas dificuldades estiveram todas lá. Por mais que a um benfiquista custe admitir isto, a verdade é que os primeiros 20 minutos foram um sufoco para o Glorioso.
Um sufoco semelhante a outros que já lá vivemos, em que parece que eles são mais que nós e não nos deixam respirar. Havia esperança de um Benfica mandão no Dragão, mas ainda não foi neste clássico que se viu isso. Também diga-se que lá será sempre muito difícil almejar essa posição de força, porque nunca há muito futebol jogado. Há sim faltas, confusão, bola parada. O que não costuma haver mesmo é um árbitro com coragem para expulsar um jogador do Porto ainda na 1ª parte. As estatísticas são arrepiantes: Nos últimos 45 clássicos no norte o Benfica acabou mais de metade desses jogos sem os onze jogadores! São 25 vermelhos para os encarnados, contra 9 dos azuis.
Só que desta vez foi o Porto a ter que estar na situação a que está habituado que seja o rival a vivê-lo. Mas até ao intervalo tudo fizeram para reverter: Otávio liderou os seus colegas num objetivo muito claro: vamos colocar o Benfica também com 10. É por isso que foi fundamental o pragmatismo de Schmidt ao intervalo. Ao retirar os jogadores amarelados da sua equipa (apenas manteve Aursnes, mas sabendo que o nórdico é frio e ia saber gerir a sua situação), o treinador alemão retirou os trunfos todos ao Porto. Assim começa a segunda parte e a estratégia do Porto que seria de sacar a expulsão ao adversário primeiro, ir na busca da vitória depois, ficou esvaziada.
E então sim o jogo tornou-se no que seria expectável: um Benfica inteligente e organizado a dominar e na procura do golo contra um adversário valoroso e lutador. Já na 1ª parte a equipa visitante tinha ameaçado com duas bolas ao poste, mas na 2ª parte o golo finalmente chegou. Apesar, diga-se, do erro crasso do fiscal de linha ao assinalar fora-de-jogo e dúvidas ficam se Diogo Costa não homenageou Vítor Baía em 2004 ao retirar a bola de dentro da baliza.
O Benfica venceu no Dragão e saiu de lá com seis pontos de avanço no campeonato. Segue também na Taça de Portugal e está perto de se apurar para os 1/8 de final da Liga dos Campeões. São dias felizes para quem ama a águia, mas ainda nada está ganho e é importante não embandeirar em arco. O Benfica é mais forte quando é humilde e não entra em euforias. Terça-feira há um jogo fundamental contra um adversário tão poderoso como a Juventus e é imperioso ter um ambiente no estádio igual ou melhor que contra o PSG. Esta equipa e este treinador merecem a melhor versão dos benfiquistas e do Inferno da Luz.
E meu querido Rogério Chaimite: Ich bin so glücklish, dass du hier bist!"
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