quarta-feira, 22 de novembro de 2023

ELAS TAMBÉM JOGAM... E BEM!

 


"Num estudo realizado no ano 2000 (Goldin; Rouse) foi demonstrado que as audições cegas de músicos aumentam significativamente a contratação de mulheres para orquestras. Desde então, creio que o preconceito de género foi mitigado na sociedade ocidental, porém subsiste ainda. E o desporto é das áreas onde, porventura, mais é notado. Excluindo os Jogos Olímpicos, apenas 4% das transmissões televisivas de desporto são protagonizadas por mulheres. Mandam as audiências, dirão os decisores (e os patrocinadores). A perceção de inferior qualidade do produto é a raiz do problema, por norma justificada com a menor capacidade física no feminino. Será mesmo assim?
Um outro estudo (Gomez-Gonzalez; Dietl; Berri; Nesseler), este publicado recentemente e inspirado no citado acima, testou a mesma possibilidade, mas incidindo no futebol. Aos 613 participantes (45% mulheres) coube avaliar golos, numa escala de 1 a 5. O grupo de controlo atribuiu notas significativamente superiores aos marcados por homens. No grupo experimental, para quem as imagens foram deturpadas de forma a tornar o género indistinguível, a disparidade na avaliação desapareceu. As diferenças físicas existem de facto. Não só são comprováveis a olho nu, como estão amplamente estudadas e demonstradas cientificamente. Os homens são mais rápidos, mais fortes, mais resistentes e cobrem mais espaço. No entanto, essas características, quando o género é desconhecido, não influem na perceção estética.
Um exemplo: no recente dérbi entre Benfica e Sporting, João Neves foi elogiado pelo exímio domínio de bola na área e pela potência e colocação do remate para o fundo das redes. Porém, é muito provável que, num lance idêntico, se protagonizado por mulheres, o enfoque estivesse, também, na falha defensiva do Sporting, cujos defensores não só deixaram o jovem jogador liberto como foram lentos a reagir, desvalorizando-se assim o excelente golo..."

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