"Talvez seja uma tradição em desuso, a de colocar presentes no sapatinho, mas lembra-me sempre dos natais da minha infância, em cada dos meus avós. Havia o hábito de nos descalçamos e colocar cada prenda junto ao sapato do felizardo. A pensar nisso, e tendo em conta que, na teoria, esta é uma quadra de amor ao próximo, julgo ser adequada uma distribuição de prendas no mundo do futebol português.
Começaria pelos nossos principais rivais. Como o tempo não está para grandes loucuras, deixo uma embalagem de chá no sapatinho do FC Porto. É coisa que lhes falta há muito anos e todos sabemos como um bom chá quente pode curar azia e outras maleitas de que parecem sofrer. Vai ajudar a acalmar os nervos, sempre em franja quando as coisas não correm bem, e serve de consolo para o estômago. É que, com a divulgação dos mais recentes resultados financeiros, não deve haver folga orçamental para muito mais do que uma torrada e um chá na ceia de Natal.
Para os rivais do Campo Grande, em Lisboa, não vale a pena deixar o que quer que seja, porque as dívidas perdoadas pelo bancos já valem por prendas para os próximos 100 anos. De qualquer forma, porque a temporada é de amor e paz, deixo um alfinete no sapatinho. Vai dar jeito para rebentar a bolha em que estão inseridos, levados ao colo por comentadores e erros de arbitragem.
Quanto à Liga de Clubes, pensei em oferecer um pacote de noção da realidade, mas já vai tarde. Se não entendem o mal que andam a fazer ao futebol português, semana após semana, com bancadas vazias, proibição de utilização de adereços dos clubes visitantes e preços exorbitantes, já podem ser considerados um caso perdido. De qualquer forma, deixo-lhes um pijama de flanela no sapatinho. Se dormem de consciência tranquila, pelo menos que o façam quentinhos.
E para todos os benfiquistas, sócios, adeptos ou simpatizantes, um forte abraço."
Ricardo Santos, in O Benfica
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