Quando se conheceram as escolhas de Roger Schmidt para o onze titular frente ao Vizela, o universo benfiquista ficou supreendido e dividido. Uma parte entendeu como boa a decisão de gerir o plantel e de dar folga a jogadores já com muitos quilómetros nas pernas, mas outra achou que era correr riscos demasiados, sobretudo por não ter Kokçu e Florentino por estarem a cumprir castigo e ainda lhes juntar António Silva, Aursnes, Di María e Arthur Cabral.
Mais de meia equipa habitual ficava de fora e, na primeiro quarto de hora do jogo, quando o Vizela mantinha firme a sua organização defensiva, com linhas muito fechadas e o Benfica sentia sérias dificuldades em penetrar, pairou, na Luz, a ideia de que as coisas poderiam mesmo correr mal. Bastaria, porém, um quarto de hora de vendaval atacante e de total aproveitamento da desorientação vizelense para o Benfica fazer três golos fulminantes e resolver, assim, o problema do resultado, acabando, desde logo, com a inquietação dos céticos e confirmando a razão da escolha do treinador alemão.
Quando o Benfica, já nos descontos para o intervalo, chegou aos 5-0, percebia-se que estava escrita a história do jogo. Ninguém haveria de exigir mais da equipa e todos aceitariam com uma compreensiva tolerância que o Benfica fizesse, como, realmente, fez, uma segunda parte em velocidade de cruzeiro, economizando energia e poupando, pelo caminho, outros jogadores, como Rafa ou João Neves, que têm sido nucleares na equipa.
DAVID NERES - UM CASO BICUDO
Ao intervalo, as mais de cinquenta e seis mil pessoas que vestiam as bancadas do estádio da Luz, rejubilavam. Raramente a equipa os premiara com tal avalanche de golos e com um futebol festivo, eficaz, até glamoroso. Procurava-se, obviamente, a razão de tal dádiva e muitos chegariam à conclusão de que, finalmente, o Benfica tinha encontrado velocidade nas alas, com Neres na direita e com Tiago Gouveia na esquerda. Neres tornar-se-ia aliás num caso bicudo. Marcou dois golos, ofereceu outros dois e construiu, assim, a convicção generalizada de que é um crime ter tão poucos minutos e não ser mais utilizado por Roger Schmidt.
Claro que é mais fácil chegar a essa conclusão do que decidir quem sairia para Neres entrar, mas não deixa de ser uma questão que vai estar na ordem do dia. Mas Neres não foi o único que aproveitou a sua oportunidade e a verdade é que o Benfica beneficiou, e muito, de ter tido em campo tantos jogadores com fome de bola e que marcaram o jogo de um ritmo invulgarmente intenso para o habitual futebol que se vê na Luz. o ganho das poupanças
Roger Schmidt teve indiscutível sucesso na sua opção de risco. Pôs a render, e com elevado lucro, as suas poupanças e tirou muitas vantagens. Poupou esforço a muitos dos seus jogadores mais utilizados, deu ritmo e confiança aos substitutos que estiveram à altura da responsabilidade, tornou evidente que tem muitas soluções para poder gerir melhor esta fase de grande densidade de jogos e fez diminuir sobre si a ideia que muitos têm de que é um treinador pouco ousado e demasiado conservador na opção da diferença. Toda a história do jogo se conta, como é notório, pela primeira parte avassaladora do Benfica. Depois disso, houve um Vizela em jogo, beneficiando do adormecimento do adversário. Um Vizela que ainda lutou pelo impossível.
Convirá também não esquecer (porque não vejo uma alusão a isso no texto) que Neres esteve ausente por lesão prolongada, vários meses. Voltou a treinar há cerca de 6 semanas.
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