"Rui Costa podia dar alento à sua aposta para treinador com o exemplo de Hagan
Após aterrar em Portugal para assinar pela Benfica SAD, Roger Schmidt proferiu uma frase para a posteridade: «Se amamos o futebol, amamos o Benfica». O departamento de marketing benfiquista cedo se apressou a transformar a sua tirada em slogan para cachecóis entre outro material. Mas percebeu-se que, na base daquele seu pensamento visivelmente genuíno, Schmidt tinha noção de uma história centenária desportiva de sucesso (120 anos feitos na semana passada) nacional e internacional por parte de um clube cujas equipas criaram a tão propalada mística.
Ora, aceita-se que o alemão de 56 anos desconheça o conceito e significado de mística no universo benfiquista mas torna-se obrigatório para quem o contrata ter que lhe explicar o referido termo propalado por ícones como Valadas e Espírito Santo que a relacionaram com a vontade que toda a equipa tinha em vencer. E se ainda assim o alemão de 56 anos não perceber, durante o seu percurso de duas épocas à frente da equipa, quais são os ideais e princípios que fizeram a história do SLB, juntem-lhe um intérprete e Shéu Han para lhe traduzirem o que este caracterizou por mística: «Entrega total”.
Veja-se que o desempenho coletivo da equipa comandada por Schmidt na segunda metade da época 2022-23 e já na atual 2023-24 teve de tudo menos entrega por parte dos atletas. A exibição em Toulouse revelou uma redução anormal e abrupta do nível exibicional aliado ao facto do treinador gerir de forma estranha, uma vez mais, os vários onze que escolhe.
Frederik é pau para toda a obra (até um dia deixar de o ser, o que já se começa a sentir), pagou-se milionariamente o empréstimo de um jovem lateral esquerdo mas todos os indícios levam a pensar que não conta para titular, João Mário tem lugar cativo sem o merecer, a contratação otomana mais cara de época não se orienta em campo o suficiente para justificar o preço pago pelos seus serviços e a dupla brasileira Arthur & Leonardo que até então havia marcado golos deixou de ser opção em prol de um rapaz dinamarquês envergonhado em campo.
Depois da vitória ao Portimonense em casa mas somente construída na 2.ª parte, Alvalade só não se tornou mais penoso porque existiu um golo que alimenta esperanças futuras para uma segunda mão completamente dependente do estado físico e anímico dos 22 jogadores que a vão disputar.
É neste contexto que o Benfica chega à noite de domingo passado. Uma noite que poderia ter sido de glória caso Schmidt tivesse sido forçado a refletir sobre a sua própria gestão por imposição de quem está acima dele com base no exemplo da já referida mística muito particular da própria entidade que (todos eles) representam. Veja-se que as condições estavam todas reunidas numa oportunidade única: plantel do rival mais fraco desde que o seu presidente atual se encontra em funções nesta mesma qualidade, o modo de sobrevivência em que aquela instituição se encontra perante um cenário económico-financeiro agudizado, a distância pontual considerável e poderem ser igualados na classificação pelo 4.ª classificado bem como o facto de um dos candidatos às eleições de Abril caracterizar o SLB como o grande rival do seu clube (para quem gosta do estilo mind games de Mourinho), o que faz com que se perceba que nada vai mudar em termos de visão futura do norte para o sul.
Rui Costa não tem que explicar a Schmidt o significado de se ouvir a Pronúncia do Norte dos GNR antes do início do jogo no dragão, nem porque é que após o mesmo surge Porto Sentido na voz melosa de Rui Veloso com dedicatória parcial e venenosamente escrita por fervoroso adepto portista.
Mas existe história e estatística fulcral para dar a conhecer ao seu treinador com vista a impor-lhe resultados: em 1981, 4 golos sofridos para a Supertaça; em 1986, outros 4 golos sofridos também numa Supertaça; em setembro de 1996, 5 golos que aceleraram a tragédia sofrida pelo saudoso Nuno Ferrari; em 2001, 4 golos para a Taça de Portugal e finalmente, em 2010, 5 golos de uma equipa treinada por um dos atuais candidatos à presidência do rival daqui a um mês. Rui Costa podia dar alento à sua aposta de treinador com o feito de Hagan em 1972 para a Taça de Portugal (vitória do SLB por 6-0) mas também se deve ter esquecido ou, então, desconhecia ..."
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