"Mesmo como adversário, Hassan quis defender o Clube
É difícil definirmos quando nos tornamos benfiquistas ou o que é ser benfiquista. A tradução desse sentimento em palavras também é complexa, sabemos que é avassalador e que 'só nós sentimos assim'. Os nossos gestos são replicados como se de um movimento sincronizado se tratasse, a cada disputa de bola, a cada jogada, a cada golo.
A cada chegada de um novo jogador, é-lhe mostrado o impacto da dimensão do Clube e da paixão dos seus adeptos. Atuar do águia ao peito é algo memorável, e, na sua esmagadora maioria, tornam-se um de nós.
Hassan foi um desses casos. O avançado ingressou no Benfica na temporada 1995/96. A sua aquisição gerou enorme entusiasmo, por ter sido o melhor marcador do Campeonato Nacional de 1994/95, com 21 golos, ao conseguiu impor-se nos encarnados. Em duas épocas, participou apenas em 27 jogos oficiais, em que apontou 9 golos. A escassez de minutos em campo levou a que voltasse ao Farense na época 1997/98.
Três meses depois, o marroquino regressou ao Estádio da Luz para defrontar o sua antiga equipa, por duas vezes no espaço de uma semana, o primeiro encontro para o Campeonato Nacional e o segundo a contar para a Taça de Portugal. Hassan reencontrou aqueles com quem partilhou o balneário durante dois anos, demonstrando que o apreço pelos colegas e pelo Clube se mantinha intacto.
No jogo da prova-rainha, após ter feito um 'grande remate que só um grande guarda-redes como Preud'Homme poderia ter defendido, apressou-se a felicitar o antigo companheiro'. Numa partida em que os benfiquistas na superiorizaram, os golos foram surgindo de forma natural. Ao intervalo venciam por 2-0. No segundo tempo, mantiveram a toada e aumentaram a vantagem para 4-0, quando ainda faltavam 20 minutos para o fim do encontro. Tudo levava a crer que os últimos minutos seriam tranquilos.
No entanto, cinco minutos depois, Hassan isolou-se dentro da área encarnada, e Paulo Madeira apenas em falta conseguiu travá-lo. Grande penalidade assinalada e expulsão do defesa benfiquista. Hajry reduziu para 4-1. Um minuto depois, 'Calado foi expulso por uma decisão errada do árbitro. Enervado com a injustiça, Calado avançou para o árbitro para lhe pedir explicações. Vendo que isso poderia prejudicar o antigo companheiro, Hassan agarrou-se e acalmou-o'.
Antes do apito final, o avançado voltou a intervir. 'Um espectador entrou em campo e correu direito ao árbitro, provavelmente na intenção de o agredir, o que poderia prejudicar grandemente o Benfica. Hassan apercebeu-se da situação e correu a travar o invasor'.
As suas ações mereceram o agradecimento pelo jornal do Clube, salientando que 'não se passa por esta casa sem se ficar marcado para sempre por esse 'vírus' benigno e indefinível que nos une e nos torna diferentes - a mística do Benfica. Obrigado, senhor Hassan!'.
Saiba mais sobre Hassan, e outros jogadores estrangeiros que atuaram pelo Clube, na área 19 - Águias-Mundi, do Museu Benfica - Cosme Damião."
António Pinto, in O Benfica
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