quarta-feira, 2 de outubro de 2024

NOITE COM DIREITO A PÁGINA DE OURO NO LIVRO DO GRANDE BENFICA



Há várias maneiras de ganhar na Champions: com mais ou menos sofrimento, ou a controlar o resultado, por exemplo. O Benfica preferiu iluminar a Luz com fogo de artifício e os 4-0 souberam a pouco…
Mais de 62 mil pessoas foram testemunhas presenciais de uma das melhores exibições europeias do Benfica dos últimos anos, frente a um adversário que é famoso pela coesão defensiva e cinismo atacante. Foi uma avalanche de futebol encarnado, que soterrou o Atlético de Madrid, e o deixou de braços caídos, a pedir a hora, desejoso de regressar a casa e esquecer o pesadelo que viveu no Inferno da Luz, e provavelmente aliviado por o estrago não ter sido maior, ou não tivesse o Benfica construído três oportunidades para chegar à ‘manita’ já em tempo de compensação.
Contra uma equipa ‘colchonera’, que vinha de empatar com o Real Madrid, e se armou num 3x4x3 que se transmutava rapidamente em 5x4x1, Bruno Lage inovou. Aliás, é para isso que o treinador serve, para encontrar soluções para os problemas que lhe são colocados.
E o Benfica tinha, declaradamente, duas fragilidades: a primeira era a falta de capacidade defensiva de Di María, na direita, e a segunda era a ausência de unidades na zona central da defesa, quando o adversário povoava esses terrenos. Contra o Atlético de Madrid, Lage colocou Di María como vagabundo na frente de ataque, e ordenou a Aursnes que se ocupasse do apoio a Bah; e fez descer, sempre que necessário, Akturkogku, formando uma linha de cinco na defesa, que permitia a Carreras (portentosa exibição) atuar como terceiro central.




Tapados os buracos e preenchidos devidamente os espaços, foi a vez da inspiração entrar em campo, e logo aos 13 minutos, após um roubo de bola de Di María, Aursnes serviu Akturkogku, que fez o primeiro dos encarnados. Atónitos, os ‘colchoneros’, nunca perceberam muito bem se deviam fazer pressão alta, se deviam esperar a meio-campo, viram-se quase sempre em inferioridade numérica nos duelos setoriais, limitaram-se a soltar Griezmann para o papel de playmaker, mas nem Alvarez, que já deve ter saudades da chuva de Manchester, e Correa, foram incisivos, e foi sem admiração que chegaram ao intervalo sem nenhum remate enquadrado, e a agradecer ao seu santo protetor o facto de Pavlidis não ter feito o 2-0 aos 45+3, quando a bola saiu a beijar suavemente o poste esquerdo da baliza de Oblak.
FUTEBOL DE LUXO
Após o intervalo, Simeone, que já tinha trocado, aos 33 minutos Llorente por Molina, decidiu ser dramático, tirou três pesos-pesados, Koke, Griezmann e De Paul, e procurou refrescar o miolo com Gallagher e Serrano e o ataque com Sorloth. Em vão. Aos 51 minutos o internacional inglês pisou Pavlidis dentro da grande área ‘colchonera’ e Di María fez o 2-0, levando a Luz ao rubro e aplicando uma machadada dolorosa no ânimo dos espanhóis.
E o 3-0 só não chegou logo a seguir (55) porque Angelito foi egoísta e não deu o golo a Akturkogku. Mas os dados estavam lançados e Lage respondeu à entrada de Simeone (por Alvarez) com um novo fôlego no ataque, com Amdouni. Mas, entre os 60 e os 70 minutos o Benfica baixou de produção, Di María e Akturkogku pagaram o preço da intensidade altíssima a que jogaram, e foram precisas as entradas de Rollheiser, para a direita e Beste para a esquerda (à frente de Carreras), para a equipa arrancar para uma reta final empolgante e produtiva: Bah fez o 3-0, após canto de Beste, aos 75 minutos, os olés começaram a ecoar na Luz porque, logo a seguir, o Benfica começou a trocar a bola a uma velocidade vertiginosa, e quando Kokçu marcou, de penálti (falta sobre Amdouni) o 4-0, o estádio dos encarnados estava transformado num vulcão que gritava, «só mais um, só mais um.»
E transformado num vulcão que gritava, «só mais um, só mais um.» E não houve só mais um porque a sorte bafejou os madrilenos em três ocasiões. Acabava assim uma noite europeia do Benfica que não ficou a dever nada a outras jornadas gloriosas do clube da Luz, no seu longuíssimo historial nas provas da UEFA. Com fogo de artifício e champanhe, como deve ser sempre que se assiste a espetáculos superlativos.
DESTAQUES DO BENFICA
(7) TRUBIN – Não precisou de defesas apertadas (na verdade não teve uma!) para fazer uma exibição de nível, muito competente a jogar com os pés e autoritário nos cantos e cruzamentos.
(7) BAH – Sentiu algumas dificuldades para travar Samuel Lino, mas bateu com ele de frente e ganhou o duelo. Muito concentrado e intencional nas subidas; foi astuto na forma como isolou Di María (e quase fez o mesmo com Pavlidis) num lançamento de linha lateral e marcou de cabeça o terceiro golo, num canto ao qual respondeu no sitio e momento certos.
(8) TOMÁS ARAÚJO – Logo no primeiro minuto tentou fintar Correa e correu-lhe mal, mas foi a tempo de ele próprio resolver o problema e a partir desse momento arrancou para uma exibição sólida, sem falhas defensivas e muito inteligente nas transições. Atento, muito eficaz a fechar o flanco.
(8) OTAMENDI – Fez tudo bem. Irrepreensível pelo ar e junto à relva, de frente para o jogo, a liderar o setor, a tapar todas as possíveis portas de entrada na área encarnada e a saber sempre encaminhar a bola com critério.
(8) CARRERAS – Defensivamente muito bem, sempre um passo à frente dos adversários, a jogar no espaço e não no adversário, muito bem. Depois, ofensivamente, a sair sempre com muita classe, com transições pela ala ou em zonas mais interiores, entendendo-se de olhos fechados com Akturkoglu. Esticou a equipa pela esquerda, deu profundidade, sem nunca comprometer o equilíbrio da equipa.
(8) FLORENTINO – Sempre perto dos companheiros, de todos os companheiros. Esteve em todo o lado a fazer o que faz bem: corta, roda, passa curto, dá posse. Foi o guarda-costas da equipa e o seu posicionamento e jogo deram confiança à equipa e permitiram que ela encolhesse e se esticasse, com critério.
(8) KOKÇU – Menos bola e mais a correr atrás dela na primeira parte, mas sempre dinâmico e a fazer mira à baliza com remates de meia-distância. Na segunda parte pegou na equipa e tornou-a mais intensa na transição, sem nunca deixar de se mostrar solidário a defender. Fez um grande passe a isolar Di María (55’) e marcou o penálti para o quarto golo do Benfica.
(8) DI MARÍA – Com muita vontade de fazer diferente e fez mesmo a diferença. Logo aos 6 minutos fintou três defesas e ofereceu possibilidade de remate a Pavldis, aos 31’ rematou ao lado, aos 45+3’ novo remate, aos 49’ rematou ao lado, aos 52’ marcou de penálti, aos 54’ serviu Pavlidis e aos 55’ podia ter feito melhor… mas, isolado, permitiu a defesa de Oblak. E correu, procurou defender, com a vontade de um jovem de 36 anos.




(8) PAVLIDIS – O primeiro a defender e foi um excelente defesa, condicionando sempre a primeira linha de construção dos espanhóis. Aos 6 minutos viu um remate ser-lhe bloqueado e, na sequência do canto, rematou de cabeça para enorme defesa de Oblak. Aos 45+3’, sozinho, ansioso, falhou inacreditavelmente o golo, com a bola a bater no poste. Aos 49’ levou tudo à frente e ganhou o penálti para o segundo golo; aos 54’, remate de cabeça para defesa do guarda-redes. Pode fazer muito melhor, mas fez tanto…
(8) AKTURKOGLU – O extremo turco voltou a mostrar facilidade em aparecer em zona de finalização e não tremeu na hora de rematar, enganar Oblak e marcar o primeiro golo. Entendeu-se muito bem com Carreras e conduziu contra-ataques perigosos. A tudo isto juntou uma enorme capacidade para fechar, juntar-se na defesa do flanco e ao centro. Solidário, e perigoso com bola.
(7) AMDOUNI – Não marcou, mas quase. E a quantidade de lances em que se envolveu, saindo do banco, é notável. Aos 73’ tentou o remate, aos 82’ trabalhou nem na área, foi derrubado e assim marcou Kokçu, de penálti; aos 90+1’ falhou a bola no que poderia ter sido um golo de bandeira.
(7) ROLLHEISER – Saltou do banco para assumir a condução de bola e o jogo com qualidade e irreverência. Manteve a posse sem tremer; aos 78’ procurou surpreender com um remate de fora da área, que passou pouco ao lado do poste; aos 90+1’ fez um passe em chapéu para Amdouni ao qual só faltou a finalização certa do avançado suíço.
(7) BESTE – Dinâmico e competitivo, novamente como extremo esquerdo. Marcou o canto no golo de Bah, aos 82’ lançou Amdouni no lance do segundo penálti para as águias e, aos 90+1’, rematou com potência, colocando Oblak em apuros.
(5) ANTÓNIO SILVA – Aos 90+1’ lançou Rollheiser em profundidade pela direita para lance perigoso.
(- )LEANDRO BARREIRO – Sem tempo para deixar marca no jogo

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