Águias tentaram tudo para não perder mas nunca estiveram sequer perto de vencer o jogo desta quarta-feira, da 4.ª jornada da fase de liga da Champions.
Uma das grandes dúvidas antes deste jogo era tentar perceber como iria Bruno Lage montar uma estratégia para contrariar uma das melhores equipas do Mundo, ainda por cima no estádio dela; mas seria quase impossível antecipar tantas mudanças no onze e nas ideias colocadas pelo Benfica no relvado.
O treinador mudou boa parte dos habituais titulares e montou uma ideia de jogo bem diferente da que era conhecida desde que assumiu a liderança das águias, com três defesas-centrais numa linha de cinco defesas, promovendo a entrada de Kaboré para lateral-direito, com Renato Sanches, Aursnes e Kokçu no meio-campo, muito juntos aos defesas, e Zeki Amdouni e Akturkoglu mais à frente, à espera de um passe na profundidade ou de um erro dos alemães, que, durante a primeira parte, diga-se, nunca sucedeu. Porém, também os avançados turco e suíço jogaram os primeiros 45 minutos quase sempre no meio-campo encarnado, atrás da linha da bola, procurando juntar linhas, não dar espaço, em suma: não permitir perigo ao Bayern.
O Benfica tentou manietar o adversário através de uma boa ocupação dos espaços defensivos, para depois tentar uma saída a três ou na transição que pudesse surpreender o adversário, mas quase nunca teve bola e quando a teve não conseguiu fazer nada de verdadeiramente entusiasmante. Embora em alguns momentos, poucos, tenha conseguido incomodar os bávaros e esboçado tentativa de pressão alta, foram fogachos sem consistência e a equipa do Benfica assumiu, claramente, uma posição reativa, defensiva, contrariando a habitual personalidade ofensiva que coloca em campo. Na verdade, o Benfica, pela forma como entrou e jogou na primeira parte (e depois também na segunda), vestiu claramente a pele de equipa mais fraca do que a do Bayern e montou um autocarro no seu meio-campo que de certa forma terá surpreendido também os alemães. O Bayern pressionou muito, teve quase sempre a bola, mas nunca conseguiu entrar com sucesso na muralha formada pelo Benfica. Sem inspiração ou espaço, os jogadores do Bayern foram vivendo de alguns lances de Gnabry e sobretudo dos remates frontais de Harry Kane, que aos 38 minutos disparou forte para aquela que terá sido o único lance de golo iminente na primeira parte; mas Trubin encaixou o remate sem grande dificuldade.
Chegou o intervalo, com uma imagem pálida do Bayern, sem oportunidades que aquecessem uma noite muito fria no Allianz Arena. E ficou uma imagem estranha de um Benfica ao qual não estamos habituados, mas que, reconheça-se, foi competente no plano que trouxe e executou na Alemanha.
Para a segunda parte Bruno Lage mudou protagonistas, mas não mexeu no esquema e nem na ideia de jogo. Beste ocupou o lugar de Kaboré, Pavlidis e Di María entraram para tentar o que Amdouni e Akturkoglu tinham tentado antes. A bola continuou quase sempre no meio-campo do Benfica e o jogo manteve-se com sentido único, apesar de Pavlidis, mais possante de Amdouni, e Di María, mais inspirado que Akturkoglu, terem causado maior sensação de perigo junto à área do Manuel Neuer. Mas os dois quase sempre muito sozinho na frente e sem possibilidade perante a qualidade e bom posicionamento dos defesas alemães.
Por outro lado, o Bayern foi conseguindo maior critério na definição, aumentou a pressão e percebeu-se que o Benfica teria muita dificuldade para aguentar o jogo desta forma. Leroy Sané entrou bem e aos 64 minutos rematou muito forte para uma grande defesa de Trubin, mais uma e que fazia adivinhar o que estava para vir. Três minutos depois, Musiala, de cabeça, na área encarnada, rematou de cabeça para o golo do Bayern.
Foi, então, depois do golo dos alemães, e de vários outros lances que ameaçaram nova festa do Bayern, que Bruno Lage tornou a equipa um pouco mais ofensiva, lançando Arthur Cabral no jogo, provavelmente procurando que o ponta de brasileiro conseguisse marcar posição ao meio, segurar bola para depois combinar em transição com Di Mária e Pavlidis. O problema foi que para entrar Cabral teve de sair Kokçu e a equipa cedeu mais espaço e convidou ainda mais o Bayern a lançar-se no golo. Ainda entrou Rollheiser, para substituir um desgastado Renato Sanches, mas, apesar de um posicionamento mais agressivo do ponto de vista ofensivo, o Benfica não teve qualidade nem forças, nesta altura, para contrariar o adversário e escrever um final de história diferente.
O Benfica volta a perder na Champions, depois da derrota da jornada anterior frente aos neerlandeses do Feyenoord, e deixa em Munique uma imagem que contraria a que vinha mostrando. Com este plano, o Benfica talvez tenha estado mais perto de conquistar pontos, mas esteve sempre muito, muito longe de sair vencedor.
A figura do Benfica: Trubin (7)
Se o plano original do zero-zero tivesse vingado, teríamos provavelmente em Anatoliy Trubin o melhor jogador em campo. Começou a dar segurança ao Benfica logo aos 4 minutos, anulando um cruzamento, e aos 13 mostrou atenção num canto. Até ao intervalo teve mais três ou quatro intervenções importantes, ainda que nenhuma delas possa apelidar-se de defesa de sonho, visto que o Bayern também não foi aquela máquina atacante que já vimos carburar noutras eras. A entrada de Leroy Sané mexeu com o jogo e essencialmente com a vida de Trubin, que no espaço de cinco minutos (entre os 59 e os 64) evitou por duas vezes o golo do internacional alemão, e a segunda já com direito a aplauso de pé. Nada, nadinha, a fazer no golo bávaro, marcado a um metro dele.
4 Kaboré — Não se trata do jogador mais confiante do Mundo, claramente. Teve pela frente jogadores dificílimos de travar, nomeadamente Davies, que o obrigou a cometer falta para cartão amarelo a meio da primeira parte. Ora, se o burquinense já está condicionado pelas dificuldades de afirmação na equipa, mais condicionado ficou com o espectro de uma eventual expulsão, pelo que não surpreendeu a saída ao intervalo.
6 Tomás Araújo — Está a fazer-se um patrão. Mostrou confiança desde o início do jogo, com cortes impositivos e muito atento às dobras de que Kaboré foi sempre precisando. Teve uma pequena falha, quando aos 47 minutos cometeu uma falta sobre Kane que resultou de alguma negligência, mas se houve alguém a corporizar a estratégia de Bruno Lage, e a fazer acreditar que ela poderia ser viável, foi Tomás Araújo. Era expectável que tivesse iniciado o jogo na direita, perante a ausência de Bah, mas está visto que a aposta no menino é mesmo para central. E parece-nos que bem...
5 Otamendi — Liderou a defesa e foi aguentando o trabalho de sapa, com a eficácia e a sabedoria do costume. Teve um excelente corte aos 87 minutos, quando já tudo estava decidido. Foi visto, muitas vezes, a puxar pelos colegas, cumprindo o papel de capitão que lhe cabe neste Benfica. Jogo ingrato, porque estava-se a ver que a muralha iria ceder nalgum momento...
5 António Silva — Regressou ao onze e para jogar pela meia esquerda. Não comprometeu, longe disso, mas também não se lhe viram grandes momentos, tendo sido certinho nas dobras a Álvaro Carreras quando o colega dele precisou. Parece carente de alguma confiança. Aos 52 minutos cometeu aquilo a que se vulgarizou chamar uma falta tática importante para Musiala não iniciar um contra-ataque que poderia ter sido letal.
5 Carreras — Tem estado em alta e, a espaços, ensaiou alguns atrevimentos, mas teve de ser, sobretudo, mais um bombeiro no trabalho defensivo a que o Benfica ficou destinado nesta noite de quarta-feira. Pertenceu-lhe, aos 52 minutos (!) a primeira ameaça quase real à área do Bayern, com uma investida pela esquerda seguida de cruzamento.
4 Renato Sanches — Esforçado, mas sem ritmo. Empenhado, mas sem chama. Este Renato Sanches é uma sombra do que já se lhe viu, e bem que o Benfica teria agradecido três ou quatro daquelas jogadas de progressão em posse de bola que o tornaram famoso. Vem de lesão, sabemo-lo. Talvez não fosse o jogo indicado para a reentrada no onze, mesmo com o eventual élan de jogar no estádio de uma equipa que já representou e onde deixou coisas por provar.
5 Aursnes — É um pêndulo. Se um dia o Mundo estiver a acabar, apostamos que este norueguês será daqueles que ficam a dar instruções e a tentar ajudar os outros até ao fim. Com um espírito de missão incrível, viu-se que tinha ideias para fazer a bola chegar à frente... mas não tinha frente onde fazer a bola chegar. Defensivamente foi exemplar.
5 Kokçu — Começa no turco a fatia dos jogadores mais prejudicados pela estratégia de Munique. Um criativo amarrado a processos defensivos, que foi cumprindo com suor e galhardia. Talvez Bruno Lage contasse com ele para ter um pouco mais de bola e pausar o jogo quando necessário, mas a solidão a que cada jogador mais ofensivo do Benfica foi votado tornava esta tarefa quase impossível.
4 Amdouni — Só tinha sido titular na Taça da Liga e na Taça de Portugal. Sabe mexer na bola e, quiçá, segurá-la, mas «segurar» não foi a palavra da noite do Benfica em Munique. Vê-se que tem futebol nos pés, teremos de esperar por outras oportunidades para o confirmar.
4 Akturkoglu — Imaginem um jogador que tinha oito golos em nove jogos pelo Benfica ver-se, de repente, sem bola, sem apoios, sem triangulações, sem referências. Chegou a uma equipa que manda nos jogos e viu-se numa equipa que decidiu deixar os outros mandarem. Cumpriu o papel e deu boas ajudas no trabalho defensivo. Ofensivamente... fica para a próxima.
5 Beste — Entrou para substituir Kaboré do lado direito da defesa, tendo terminado na esquerda do ataque, quando já valia quase tudo para tentar um empate caído do céu. Antes da anarquia final, Beste teve em Coman (quando entrou) um extremo que lhe deu água pela barba, e a barba dele está bem exposta. Foi, ainda assim, uma espécie de farol competitivo no Benfica, tentanto mostrar que havia caminhos para a frente.
4 Pavlidis — Mais uma vítima do sistema. Segurou duas ou três bolas, mas não conseguiu dar-lhes (con)sequência, sobretudo por falta de apoios.
4 Di María — Podia ter tirado um coelho da cartola? Podia, mas isso não acontece todos os dias. Deixou, pelas evidentes deficiências defensivas, o Benfica mais exposto ao ataque final do Bayern.
- Arthur Cabral — Talvez tenha chegado a tocar na bola.
- Rollheiser — Provavelmente não tocou mesmo na bola.
Sem comentários:
Enviar um comentário