Novo clássico mas os contornos são sempre diferentes. Treinadores e jogadores que chegam e vão, com condicionantes várias e em contextos que cada uma das equipas enfrenta no momento. Mais ou menos ruído que também faz parte. Os adeptos, esses, não mudam, mais velhos mas firmes e sempre exigentes.
Depois de um insucesso, a fundamental capacidade individual e coletiva para lidar com o mau dia, mas que já lá vai, é determinante. A história não pára, sendo o engenho do treinador principal e a capacidade agregadora dos líderes das equipas, peças-chave para uma rápida e eficaz reviravolta mental.
Posto isto, o início dos jogos é, muitas vezes, definidor do que vem depois. Assim sucedeu com o FC Porto. O Benfica a entrar forte para afastar o desconforto do jogo passado era a primeira tarefa, cumprida com acentuada clareza.
Depois de um nervoso e dividido começo, o Benfica comandava inspirado e chegava naturalmente à procurada vantagem. Do nada, no empate se escorregou, depois de uma interrupção do jogo infeliz, forçada por alguns. Uma ação pouco inovadora e nada refletida, que acabou por ser mais um teste exigente que viria a ser ultrapassado com brilho.
Esta reação em duplicado do Benfica, à derrota em Munique e ao inesperado golo do empate no clássico, acabou por confirmar a saúde e força de uma equipa, capaz de mudar e vencer cenários adversos, com qualidade e personalidade coletiva que fará sempre diferença.
COMUNICAÇÃO
Para além do jogo jogado onde se vibra e se conquistam vitórias, a comunicação tem, a cada dia que passa, um mais relevante e decisivo papel.
A mensagem para os adeptos, para que contem com uma reviravolta enérgica e mantenham o fundamental apoio, é obrigatória quando um jogo corre pior. As equipas pedem e precisam dos bons adeptos, aqueles que ajudam.
Também o diálogo e a interação dos jogadores ganha especial sentido. Independentemente das estratégias táticas definidas, sempre discutidas na praça, são eles que jogam e por isso é também deles a responsabilidade direta do que acontece de melhor ou pior em campo.
É finalmente nestas ocasiões que os líderes naturais, se assumem e complementam a normal comunicação do treinador com os seus atletas.
Para além da liderança do treinador, fundamental, os grupos movem-se com a influência de vários dos seus elementos, que pela sua experiência ou natureza representam o apoio suplementar necessário, dentro e fora da relva. Relativamente a este tema, defendo que os verdadeiros capitães de equipa devem ser escolhidos mais pelas suas caraterísticas e personalidade e menos pelos serviços prestados ou pela antiguidade nos clubes. Esta ideia não retira o espaço dos menos líderes, mas cujas carreiras merecem respeito. Uma espécie de capitães honorários...
É difícil a quem está de fora, mesmo para os profissionais do fenómeno liderança, perceber os grupos unicamente pelo que demonstram em campo. No entanto, uma verdade se confirma: os grupos fortes revelam-se nos maus momentos e as reações dependem e retratam com pouca margem de erro a realidade e a dimensão das pessoas que fazem parte. Foi esta a face que a equipa do Benfica mostrou em campo e que determinou o triunfo no clássico.
JUÍZO RÁPIDO FINAL
Issa Kaboré é um jovem jogador claramente por adaptar. Internacional e titular da seleção do seu país, tem um trajeto que o precede que não devemos ignorar. A aterragem num novo país e num novo clube de dimensão superior não é normalmente fácil, adiando por vezes a afirmação de quem chega.
É típico do adepto e analista português apressar um veredito sem o benefício da dúvida, antes que alguém o faça primeiro e se perca a novidade. O famoso olho clínico precipita erros de avaliação. Mesmo não havendo casos iguais, já vai longa a história de exemplos parecidos, com enganos embaraçosos...
Como memória fresca temos o caso de Álvaro Carreras, agora na crista da onda, mas se nos lembrarmos ainda há pouco considerado uma aposta falhada pelos especialistas da nossa bola. Que tal esperar-se mais um pouco antes de concluir?
Rui Águas, in a Bola
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