sábado, 18 de janeiro de 2025

LEANDRO (BARREIRO) DEU MÚSICA COM MAESTRO TURCO



Benfica esteve sempre no controlo das operações, mesmo nos momentos em que decidiu jogar com piloto automático. Schjelderup vai ser um caso muito sério…
Numa partida em que nunca houve incerteza quanto ao destino dos três pontos, Bruno Lage apresentou uma novidade, antes timidamente ensaiada mas sem a continuidade que a partir de agora deve ter, que teve a ver com o posicionamento de Leandro Barreiro, assumindo o internacional luxemburguês uma missão híbrida, que passava por pressionar alto na saída de bola do Famalicão, ter segurança de passe quando se juntava a Florentino e Kokçu para trabalhar no meio-campo, e, acima de tudo, revelar uma capacidade de chegada, vindo de trás, à área adversária, que não se via no Benfica desde os melhores dias de Pizzi. Foi assim que Leandro Barreiro chegou ao ‘hat-trick’, o primeiro golo feito com um toque subtil, à ponta de lança, o segundo após assistência de Schjelderup e o último, também a passe do norueguês, surgindo com pezinhos de lã, ao segundo poste da baliza minhota.




O Famalicão, que bem quis esticar até às imediações de Trubin o 4x2x3x1 que preparou para este jogo, nunca assustou um Benfica defensivamente diferente (a única hipótese de marcar, aos 55 minutos, por Sorriso, deveu-se a um erro de Otamendi). E defensivamente diferente, porquê? Essencialmente porque a equipa foi muito mais eficaz na pressão, com Akturkoglu e Schjelderup a trabalhar nas alas, Barreiro a fechar o meio, e Florentino a proteger os centrais, enquanto que Kokçu, o maestro da equipa, ajudava na meia-esquerda. Será que quando Di María, o virtuoso, regressar, o Benfica consegue jogar assim, em modo de rolo compressor? Provavelmente não, porque haverá que encontrar uma fórmula para compensar o que o mago argentino já não faz defensivamente. Uma questão de fundo a que Bruno Lage deverá dar resposta.




O que se viu no ‘poker’ ao Famalicão, que não ganha um jogo desde 3 de novembro do ano passado, foi uma grande sintonia coletiva quando tocou a pressionar, o que permitiu a Trubin uma noite descansada, exceção feita ao ‘soluço’, já mencionado, de Otamendi.
Mas se do ponto de vista defensivo o Benfica melhorou globalmente (e nenhuma equipa que não defenda bem alguma vez será campeã nacional), na ótica atacante também há muito a dizer. A começar por Schjelderup, que faz coisas do arco-da-velha, assistiu duas vezes para golo, meteu velocidade no flanco esquerdo sem medo de encarar o um-contra-um e, ao mesmo tempo, deu a ideia de estar apenas a mostrar um terço do seu potencial. Há uma estrela que se está a revelar na Luz, assim quem de direito acredite nele e aproveite um futebol alegre e ofensivo, que não se esquece de defender, e que vai pecando, sobretudo, por demasiada sofreguidão quando na posse da bola.
Depois, Leandro Barreiro, que tem golo, ‘timing’ de chegada à área (como Pizzi, ou como o leão Pedro Gonçalves, jogadores que não estão, mas aparecem, para finalizar), e deixou tudo em campo, agarrando com unhas e dentes a oportunidade de jogar onde mais gosta. E há Kokçu, de batuta na mão e cabeça levantada, a pautar o jogo com autoridade, revelando-se um oito moderno, a defender e a fazer jogar, o que permite a Florentino atuar como mais gosta, ou seja sem ter um parceiro ao lado (Javi García, Matic e Fejsa também eram assim).
Afinal, como jogou o Benfica, em 4x3x3 ou em 4x2x3x1? Pelo posicionamento na cabeça da área de Florentino, recuado em relação a Kokçu, que baixava para distribuir jogo e a Barreiro, que se adiantava para dar apoio a Pavlidis, falar-se em 4x3x3 será mais correto porque, embora, por vezes, Kokçu surgisse ao lado de Florentino, nunca houve lógica ou dinâmica de ‘duplo pivot’.




Perante este quadro, o Famalicão ainda tentou agitar a frente de ataque com Sejk (63), mas houve sempre mais Benfica, mesmo naqueles momentos de menor fulgor, em que os encarnados baixaram propositadamente a intensidade do jogo, para a seguir acelerarem. E por falar em aceleração, que dizer da velocidade de João Rego no lance de quarto golo, em que sprintou pela direita, passou a Akturkoglou, que de seguida assistiu de calcanhar o compatriota Kokçu para o golo de mais belo efeito da noite?
Segue-se o Barcelona, que mora num planeta diferente do Famalicão. Que mudanças, individuais e coletivas, irá introduzir por Bruno Lage, depois de ter testado uma fórmula de sucesso? Na próxima terça-feira este mistério será desvendado…
DESTAQUES:
Os encarnados bateram o Famalicão esta sexta-feira, na 18.ª jornada da Liga; foram vários os jogadores em bom plano.
(9) LEANDRO BARREIRO (melhor em campo)
Em Faro, para a Taça de Portugal, fez de Kokçu na esquerda do meio-campo, e neste jogo, com o Famalicão, fez de Aursnes à direita. O internacional luxemburguês desde o primeiro segundo que mostrou grande facilidade e vontade para aparecer em zona de finalização, além do enorme comprometimento defensivo. Apareceu ao primeiro poste para marcar o primeiro da noite, ao centro a solicitar grande passe de Schjelderup, que finalizou com classe, e marcou o terceiro ao segundo poste, a emendar o que pareceu ser uma tentativa de remate de Schjelderup mas resultou num passe à medida do sentido de oportunidade de Leandro Barreiro. Pressionou também muito, recuperou bolas, bloqueou o atrevimento do Famalicão. E acabou a fazer de Florentino, quando o 6 do Benfica saiu. Barreiro nunca tinha marcado dois golos na carreira e festejou três. Mereceu-os bem.




(6) TRUBIN – Sem remates enquadrados ou lances a reclamar intervenção, mostrou concentração, eficácia e serenidade a jogar com os pés.
(6) TOMÁS ARAÚJO – Competente a defender, na forma como, por exemplo, apertou Sorriso no único lance perigoso do Famalicão no jogo (55’), saiu para o ataque com qualidade e cruzou com perigo.
(6) ANTÓNIO SILVA – Somou vários cortes importantes na área, foi eficiente e nunca facilitou. Aos 74’ poderia ter sido feliz, mas chutou por cima da trave um cruzamento de Akturkoglu.
(7) OTAMENDI – Autoritário nas ações defensivas e influente no ataque. Aos 2’ fez enorme passe que Akturkoglu não aproveitou na área; aos 11’ lançou muito bem Pavlidis, que depois cruzou para o primeiro golo; aos 51’ tentou o remate de longe. Aos 55’ fez um mau passe em zona proibida que resultou num remate perigoso de Sorriso.
(7) CARRERAS – Sempre com enorme qualidade nas transições, em alta rotação, com a bola no pé pelo flanco esquerdo. Aos 52’ deixou Pavlidis em boa situação para criar perigo e combinou dezenas de vezes com Schjelderup, empurrando a equipa para a frente e o adversário para trás.
(7) FLORENTINO – O guarda-costas da equipa inteira. Recuperou bolas, deu geometria ao jogo, fez a equipa girar à volta dele e fê-la sentir-se segura para ganhar asas.
(8) KOKÇU – Fica a sensação que podia ser um pouco mais lá na frente, mas foi muito. Muito solidário a defender, recuou para pegar na bola e jogou-a muitas vezes de primeira, variando o jogo e desarticulando o adversário com a sua visão ampla do que fazer em posse. Lançou com perigo Pavlidis, duas vezes, e tentou o remate de longe até ter sucesso, com belo remate para o quarto da noite.
(7) AKTURKOGLU – Irrequieto, perigoso, mas por vezes complicativo, sobretudo nas transições ofensivas. Jogou bem no espaço e arrancou bons cruzamentos, como um para Schjelderup (17’) e outro para António Silva (74’). Rematou, mas à figura do guarda-redes, e aos 81’ fez de calcanhar a assistência para Kokçu marcar.
(6) PAVLIDIS – Aos 11’ assistiu para o primeiro golo de Barreiro, aos 45+1’ fez belo passe mas Akturkoglu chegou atrasado; correu, lutou, ganhou muitos lances. O problema foram os golos que falhou, aos 52’ e 61’, momentos que penalizam um ponta de lança. Mas nunca se rendeu e saiu aplaudido pelos adeptos.
(8) SCHJELDERUP – Mais uma exibição diferenciada do extremo norueguês. Só lhe faltou o golo. Viu remates bloqueados, chegou milímetros atrasado a cruzamentos, cruzou ele com perigo, serpenteou entre defesas, fez um passe delicioso para o segundo golo de Barreiro, ofereceu-lhe o terceiro… e sempre com intensidade no momento da pressão para recuperar a bola.
(5) ARTHUR CABRAL – Boa ação num canto para a área do Benfica, presença na área do Benfica, mas com pouca bola.
(5) BAH – Resguardado, limitou-se a gerir bem o tempo de defender ou atacar.
6 JOÃO REGO – Entrou e na primeira vez que tocou na bola, aos 81’, correu, deixou adversários pelo caminho e desenhou a jogada do quarto golo.
(5) BAJRAMI – Central, entrou para lateral-esquerdo, fez a estreia na Liga. Teve pouco tempo para se mostrar, mas pareceu desinibido.
(-) AMDOUNI – Sem tempo para deixar marca no jogo.

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