Transpiração e muita competência colocaram os encarnados nos oitavos de final do Mundial de Clubes.
CHARLOTTE - Benfica segue no Mundial de Clubes. Não só bateu o pé ao Bayern Munique como o venceu e conquistou o primeiro lugar do Grupo C. Com justiça, numa exibição que teve de tudo: Trubin intransponível, capacidade de sofrimento, qualidade para defender e também para ferir os alemães.
As águias mandaram na primeira parte. A uma entrada mais intensa do Bayern, na tentativa de fazer pressão alta e manter o jogo junto à área de Trubin, o Benfica respondeu com um bloco compacto e solidário, com Leandro Barreiro e Renato Sanches à frente do quarteto defensivo e toda a equipa muito comprometida para reduzir espaços.
Renato e Barreiro não só defendiam bem como ligavam a equipa e o trabalho de Prestianni, jovem de 19 anos, voltou a ser muito interessante — colocado atrás de Vangelis Pavlidis, não teve medo de ter bola e de atacar, mas destacou-se também por manter a cabeça fria, sem precipitar-se; jogou para a equipa e pressionou bem no momento de saída com bola do adversário.
Aos poucos os encarnados foram ganhando metros e desenhando boas transições que assustaram o Bayern e aumentaram a confiança da equipa de Lage.
O primeiro sinal de perigo surgiu aos 9 minutos, num bom remate de Di María que obrigou Neuer a uma defesa apertada. Um aviso do extremo argentino, que esteve, aliás, em quase todos os lances de maior aperto para os alemães durante os primeiros 45 minutos. Foi ele quem conduziu a bola e depois a passou para Fredrik Aursnes cruzar e Andreas Schjelderup marcar o primeiro golo, aos 13 minutos. Golo e assistência dos dois nórdicos das águias, lance que desestabilizou o Bayern e deu espaço ao Benfica para tentar crescer.
Pouco depois, Di María, novamente ele, combinou com Pavlidis e o ponta de lança quase ficou cara a cara com Neuer, mas não conseguiu rematar, caiu e pediu penálti. O árbitro mandou-o levantar.
O sinal mais era do Benfica, que estrategicamente deu a iniciativa ao Bayern e manteve a competência a defender. Correu alguns riscos, como o lance de golo iminente que Sané desperdiçou depois de grande trabalho de Gnabry, mas a equipa portuguesa estava sólida, mantia o Bayern Munique a trocar a bola em zonas de pouco perigo e não só atacava, como atacava bem e mereceu bem o único golo marcado antes da ordem do árbitro para intervalo.
As coisas estavam a correr bem e Bruno Lage não mudou a equipa para o início da segunda parte. Kompany, por outro lado, quis melhorar o Bayern e lançou Kane e Kimmich, dois pesos-pesados dos bávaros. Também entrou Olise para o lugar de Gnabry. A exigência aumentava para os jogadores do Benfica e os sinais de alerta surgiram rapidamente.
No mesmo minuto, aos 50’, Trubin travou lance para golo de Sané e logo a seguir segurou remate de Kane. Vários outros lances de perigo sucederam para os alemães e o momento foi de aperto. Mas o Benfica não se desequilibrou e soube reagir. Lage tirou Schjelderup e Prestianni e lançou Akturkoglu e Kokçu. O primeiro logo construiu grande oportunidade para marcar o segundo golo, mas a bola bateu nas pernas de Neuer. A iniciativa, porém, pertencia ao Bayern. Kimmich marcou um golo, anulado por fora de jogo de Kane, que estava colocado à frente de Trubin e atrapalhou a movimentação do guarda-redes ucraniano do Benfica; Laimer disparou ao poste, mas também lhe foi assinalada posição irregular. O Bayern dava tudo para virar o jogo, mas esbarrou também numa exibição enorme de Trubin, que evitou vários golos.
Com o jogo a aproximar-se do final, Renato Sanches caiu no relvado e foi substituído por Bajrami, que se juntou lá atrás e ajudou a formar uma linha de cinco defesas para segurar o resultado. Até ao árbitro apitar foi preciso sofrer, mas a vitória sorriu, a qualificação e o primeiro lugar no grupo também. E o Benfica ganha pela primeira vez ao Bayern, nunca tinha acontecido. Next stop: oitavos de final do Mundial de Clubes.
DESTAQUES DO BENFICA:
Ucraniano passou a primeira parte a trabalhar para o bronze e a segunda a trabalhar a tempo inteiro. Exibição muito boa, bem secundada por António Silva e Otamendi. Golo bem construído entre Di María, Aursnes e Schjelderup.
Trubin (8) - Melhor em campo
Poderia ter alugado uma cadeirinha de praia e colocado um protetor solar para assistir aos primeiros 45 minutos de Charlotte: nada para fazer. A não ser, já na compensação, receber bola quase morta. Ao minuto 49, por fim, teve de se lançar aos pés de Sané e, segundos depois, fez grande mancha a novo remate de Sané. Mais tarde, aos 75', mais uma boa defesa, agora com a perna esquerda, após remate de Pavlovic. Quase a fechar, com o braço esquerdo, evita golo de Sané. Grande exibição de Anatoliy Trubin.
Aursnes (6) - De novo lateral-direito, começou por dar nas vistas em missões ofensivas. Recebeu passe longo de Di María e cruzou atrasado para Schjelderup abrir o marcador. Primeiros 45 minutos sem muito trabalho e segundos com um pouco mais, mas não muito, pois o Bayern atacou, sobretudo, pelo lado esquerdo da defesa encarnada.
António Silva (7) - Sem muito trabalho até à hora de jogo, teve de empregar-se muito mais a partir daí. Grande corte de cabeça aos 84' quando, atrás dele, aparecia Kane prontinho para desviar para golo.
Otamendi (7) - Primeiro tempo calmo e sem grande trabalho, o que não se passou a partir do momento em que Kane entrou em campo. Lutas árduas com o inglês do Bayern.
Dahl (6) - Menos ousado do que tem sido, talvez por Schjelderup estar bem à sua frente, o sueco cumpriu muito bem as tarefas que lhe terão sido pedidas por Bruno Lage: defender bem o lado esquerdo da defesa. Triplicou de trabalho após o intervalo, quando Kompany fez entrar Olise para o lugar de Gnabry. O francês de origem inglesa esteve endiabrado e o sueco passou por algumas dificuldades. Avançou no relvado quando Lage fez entrar Bajrami para a ala esquerda.
Leandro Barreiro (5) - Menos exuberante do que o seu parceiro de meio-campo, cumpriu sem dar nas vistas.
Renato Sanches (6) - Tem sobre as costas o estigma de, a cada esforço mais forte que faz, todos pensarem se sairá dele com os músculos intactos. A verdade é que o seu passado mais ou menos recente não pareceu pesar na sua exibição. Forte no contacto, inteligente a recuperar a bola e sólido a colocá-la nos dois lados, ora em Schjelderup, ora em Di María. Saiu aos 78', depois de ter ficado algum tempo no chão a receber assistência. Não pareceu nada de grave, apenas ligeiras queixas físicas.
Prestianni (4) - Apareceu a jogar atrás de Pavlidis, com Schjelderup e Di María mais abertos. Não deu nas vistas e, assim, sairia bem cedo na segunda parte.
Di María (6) - Arrancou com um remate forte e cruzado que obrigou Neuer a estender-se no relvado e a evitar, com a ponta dos dedos, que houvesse golo em Charlotte logo ao minuto 9. Logo a seguir, pegou na bola e, quando poderia ter entrado pelo meio, preferiu (e muito bem) ceder a bola a Aursnes para que este, quase na linha de fundo, cruzasse rasteiro para o golo de Schjelderup. O último jogo de águia ao peito fica, assim, adiado.
Pavlidis (6) - Soberba arrancada pouco antes dos 20 minutos, passando por Stanisic e sofrendo a oposição contundente de Upamecano ao entrar na área. Estatelar-se-ia no corpo a corpo com com o francês, sem motivo para grande penalidade. Deveria ter sido mais expedito e objetivo para tentar o remate. Menor evidência na segunda parte, a partir do momento em que o Bayern cresceu.
Schjelderup (6) - Solto e rápido, começou por criar perigo em algumas arrancadas pela esquerda, mas o ponto alto foi o golo, de pé direito, após cruzamento de Aursnes. Seria o ponto alto da exibição apenas razoável.
Akturkoglu (5) - Entrou aos 55 e aos 56 abriu fenda na defesa bávara e rematou à figura de Neuer. Nada mais de interessante.
Kokçu (4) - Correria desenfreada rumo à baliza de Neuer, aos 69', mas perdeu-se no esforço. E teve de ser assistido na sequência do pique.
Bajrami (6) - Grande corte, aos 90+8, aos pés de Pavlovic, já dentro da grande área.
João Rego (-) - Entrou para os últimos minutos e quando já só o Bayern atacava. Sem espaço para se evidenciar.
Tiago Gouveia (5) - Tentou entrar, isolado, pelo lado esquerdo, mas, se começou bem o raide, terminou-o mal.
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