O maestro venceu de forma clara neste sábado porque o povo confia nele
O povo saiu à rua, votou em massa e pronunciou-se. O nome de Rui Costa surgiu como grande vencedor deste ato eleitoral, mas apesar da grande diferença para Noronha Lopes, a votação no maestro não lhe permite tomar posse.
Ainda assim, Rui Costa tem todos os motivos para estar satisfeito e confiante numa reeleição. Já Noronha Lopes chocou com a realidade.
As sondagens em Portugal não têm refletido de todo as votações em urna, seja na política ou no futebol. O que pelo menos levanta questões de metodologia. A demografia do país tem mudado e, olhando para este caso concreto, o Benfica tem esta particularidade de abranger todo o território nacional e ainda vários pontos no estrangeiro.
Posto isto, há segunda volta e muitos fatores entram em equação. Haverá a mesma adesão? Duvida-se. Os apoiantes de Rui Costa serão menos a votar, acomodados na vantagem que o maestro teve nesta primeira volta? E os de Noronha? Ficarão em casa resignados aos 30 por cento ou, já exaustos desta campanha, desiludidos por Noronha não abdicar e terminar já com o momento para haver um ambiente de paz?
A ida a uma segunda volta é legitima, mas perante tamanha diferença não se perceciona como João Noronha Lopes pode dar a volta à situação. Terá muito que fazer para convencer eleitorado de todos os quadrantes. Mostrar a todo o país que é uma pessoa confiável, humilde, sincera e capaz de levar o Benfica para a frente. Até aqui, não o conseguiu fazer. Isto perante um Rui Costa cuja postura é elogiada e valorizada, mesmo quando o próprio admitiu que o mandato podia ser melhor.
Aliás, o melhor resultado de Bagão Félix para o Conselho Fiscal em comparação com o de Noronha Lopes indicia uma desconfiança no candidato à direção que não existe sobre o antigo ministro, que anda na esfera pública há muitos anos e tem reputação imaculada. Há sempre ideias em todas as candidaturas, mas a relação de confiança e a perceção de fiabilidade no candidato é fundamental.
Há um caminho para Noronha Lopes chegar à presidência, ainda que improvável, que é suceder algo como nas presidenciais de 1986. Aí, também Freitas do Amaral obteve 46,3% dos votos na primeira volta, enquanto Mário Soares teve 25%.
Como o país sabe, Soares viria a ser Presidente da República. A esquerda política, mesmo aquela que o combateu sempre, uniu-se para derrotar Freitas do Amaral com um slogan que ficou para a história: «Soares é fixe.»
Noronha está em situação idêntica, melhor na percentagem, mas pior na lógica. Precisa que os votantes de Manteigas e até de Vieira se unam em torno dele, como o PCP fez para com Soares, outrora inimigo número 1. É desde logo muito improvável que isso suceda por vários motivos.
Primeiro, Vieira é mais próximo do eleitorado de Rui Costa do que de Noronha Lopes. Essa é uma grande diferença para o exemplo de 1986. Até se pode teorizar que o votante Vieira é um eleitor contra Rui Costa, magoado pelos acontecimentos de 2021. Uma teoria possível, mas difícil de ver em prática, mesmo que, numa ironia monumental, Vieira apelasse ao voto em Noronha Lopes - esse gesto beneficiaria ou prejudicaria mais o candidato da lista F?
Os votantes de João Diogo Manteigas são poucos para dar a vitória a Noronha Lopes, à luz dos resultados deste sábado. Seriam precisos os de Martim Mayer, e seriam os votos de Vieira a decidir. O próprio candidato da Lista C tem de fazer a sua leitura pessoal e política. Se tem ambições futuras, Manteigas tem de escolher com sensibilidade os próximos passos a dar, porque como se viu nesta campanha, o passado volta sempre.
Antes de se conhecer o resultado final dos dois pavilhões da Luz, era altamente improvável uma reviravolta, correndo o risco Noronha Lopes, numa tentativa de querer fazer como Soares, levar com um resultado avassalador. A leitura dos resultados desta primeira volta é clara: Rui Costa é fixe, Noronha Lopes nem por isso…
No rescaldo, o gestor disse que «quase 60% dos benfiquistas não se revê no rumo que o Benfica está a tomar». É uma maneira de ver as coisas. Outra possível é a de Rui Costa, que argumentou que há 70% que acham que Noronha Lopes não é a solução.
Rui Costa encheu o campo, está em controlo do jogo e pelo repique a Noronha está em boa forma para o que falta jogar.
Luís Pedro Ferreira, in a Bola

Não creio que Noronha tenha falhado em demonstrar que é confiável, sério, humilde ou pronto para a mudança.
ResponderEliminarIsso é tentar encontrar racional numa decisão que é profundamente emocional. As entrevistas feitas ao longo do dia da votação provam isso.
A principal razão do voto em Rui Costa é emocional, não é factual.
É o Ruizinho. Vestiu o manto. Chorou quando marcou ao Benfica.
Noronha tem uma lista com curricula pejado de competências e um discurso de mudança serena. Mas não tem o dom da oratória, nem o carisma do ex jogador.
Perguntem-se: Se, em vez de uma eleição, estivéssemos perante uma entrevista de emprego para um exigente cargo de gestão… quem venceria?
Para já, o que existirá é uma segunda volta.
Em que se irá avaliar se os 60% que não votaram em Rui Costa, não confiando na sua reeleição e temendo mais 4 anos de revoluções contínuas do plantel, aquisições fracassadas de milhões, fraqueza institucional e evidente falta de planeamento… preferem, ainda assim, a mesma direção, ao invés de uma nova.