sábado, 22 de novembro de 2025

MOURINHO: ALGO MUDOU NO RESTELO



Um treinador queixar-se da atitude dos jogadores desta forma como fez o técnico das águias é típico de fins de ciclo, não de projetos em fase inicial.
O Benfica venceu mas continua a não convencer. Frente a um adversário da Liga 3, as águias voltaram a apresentar um futebol cinzento, nem chama nem alma. O problema para as águias é que esta nem é a má notícia, porque só é notícia aquilo que é novo e o que se assistiu no Restelo foi a repetição de um padrão, embora na sua representação mais pobre. O que realmente surpreendeu foram as duras declarações de José Mourinho no final da partida.
Disse mais tarde, na conferência de imprensa, que as críticas na flash interview foram também a si próprio e não só aos jogadores, porque ele é o responsável pela gestão do plantel. Mas quando se ouve um treinador dizer qualquer coisa como «depois não me venham bater à porta para saber porque não jogam» significa que entrámos numa nova fase. Até agora o ex-técnico do Fenerbahçe mostrara uma paciência invulgar, talvez justificado pelo clima à volta do clube: primeiro, um regresso que convocou o lado mais emocional; depois, as eleições que pediam recato e discursos polidos para não ferir suscetibilidades, ainda que aqui e ali já se suspeitasse que ele não estava satisfeito com muito do que via, do que tem... e do que não tem.
Mas agora são outras as circunstâncias e o jogo com o Atlético poderá ficar gravado como um ponto de viragem na forma como Mourinho exerce a sua autoridade no Benfica, num estilo muito mais próximo daquele que conhecemos: mais agressivo e menos complacente. É por demais evidente que, se pudesse, teria um plantel formado por outro tipo de laterais e de extremos (pelo menos) e isso já foi percetível pelos próprios jogadores. É dos livros que quando há muita gente descontente num balneário o resultado não é positivo, o que obriga a ações mais drásticas do ponto de vista da comunicação para dentro e para fora.
Com a experiência que tem, parece que foi essa a intenção de Mourinho com as duras palavras no Restelo, colocando o ónus nos futebolistas a partir de agora, nomeadamente ao colocar a responsabilidade nos ombros deles sobre o que de diferente possa ser feito (ou não) para o jogo frente ao Ajax, na Champions, um gigante que vive uma situação muito pior que o Benfica. Mas não deixa de ser preocupante para o universo encarnado que a chicotada ainda não tenha realmente surtido efeito. Um treinador queixar-se da atitude dos jogadores desta forma é típico de fins de ciclo, não de projetos na fase inicial, o que pode indicar que o problema é de maior dimensão.

Fernando Urbano, in a Bola 

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