Esta semana alguém escrevia no X que a inteligência artificial (IA) está a levar a que sejamos ou tenhamos um VAR constante na nossa própria vida.
Já não posso ver um vídeo com bebés e cães a confraternizar, pessoas a cair de barcos, ou qualquer outro insólito que em tempos servia para encher programas de televisão como o ‘Isto só Vídeo’ (os quarentões entenderão a referência) sem me questionar se será mesmo verdade. Onde foi parar essa inocência? E não conta perguntar a uma IA se aquilo é IA. Se temos de perguntar é porque já se foi longe de mais.
Na semana passada, ao ver o vídeo de um lince ibérico branco (o termo certo é leucístico, com algumas diferenças do albino), que alegadamente nunca tinha sido observado, primeiro fiquei maravilhada. Foi filmado em Jaen, no sul de Espanha. Depois, com o passar dos dias, pensei ‘não pode ser verdade’ - e quanto mais via o vídeo, o animal, de tão grande, já parecia mesmo uma pessoa com um fato, como aqueles vídeos de má qualidade que alegam ser o ‘Pé Grande’, ou alguém a fazer uma audição para o musical Cats. Por fim, o jornal El País apresentou uma terceira via: o lince – uma fêmea chamada Satureja -, embora verdadeiro, não é leucístico: o branco da penugem tem causas ambientais ou é stress, de acordo com programa de recuperação do lince ibérico na Andaluzia, que monitoriza os animais da região. Não há ainda explicação.
Quem também deve sofrer com stress e não acredita no que está a ver serão as pessoas que veem um golo anulado por um fora de jogo de um centímetro. Aconteceu ao Benfica, com golo de Sudakov, já aconteceu a outros clubes e vai continuar a ser assim quanto mais afinada for a tecnologia de fora de jogo usada pelo VAR, que chegou a Portugal em 2017.
Fazendo de advogada do diabo, quem é que beneficia de uma fora de jogo de 1 centímetro? Ou 5? Podemos defender, sem exceções, a tolerância zero, ou admitir, por exemplo, que 50 centímetros seria um número aceitável - mas aí, por outro lado, quem fosse apanhado com 51 centímetros ou 49 não continuaria a ter o mesmo sentimento? A alegria de festejar um golo, e sobretudo mantê-la, foi manietada aos adeptos em benefício, é certo, de mais verdade desportiva, mas qualquer dia nem com um inédito lince ibérico branco se pode vibrar.
Ana Soares, in a Bola

O que mais choca é que, quando o VAR foi introduzido, a Liga Holandesa encontrou uma forma inteligente de atenuar esta polémica.
ResponderEliminarAs linhas do VAR (tanto as do último defesa como os do avançado) eram, apenas e só… “linhas grossas”. Que, apenas com isso, atenuavam a precisão (questionável) da marcação das linhas pelo VAR e AVAR, dando uma tolerância que - no espírito das leis do jogo - beneficiava quem atacava.
Continuavam a haver foras de jogo de 1cm, mas a tolerância introduzida atenuava a sensação de injustiça “pelo frame usado” ou pelo rigor ou falta dele, do técnico.
Infelizmente, o conceito foi abandonado.