Quando se fala em montanha russa no futebol é disto que se trata. De um valente susto ao delírio. O Benfica tornou possível a reviravolta na Choupana por Prestianni, com uma explosiva finalização, talvez no único ataque rápido que o Nacional permitiu neste jogo.
Pouco depois, o talento de Schjelderup em espaço reduzido viria a descobrir a intuição goleadora de Pavlidis, que completou a brilhante gincana do seu jovem colega. Muito mérito madeirense no seu bloco defensivo compacto e no aproveitamento frio de um erro, que colocou a equipa na discussão dos três pontos. As vitórias fazem-se de muitos e diferentes momentos, alguns em que os jogadores falham ou aproveitam erros alheios. O Benfica, nesta época, já perdeu várias vantagens, surpreendido no final dos seus jogos, em fases em que o trauma de um golo sofrido mais afeta, porque o choque é maior e a recuperação se torna improvável. Também desta vez a luta foi intensa, primeiro para marcar sem o conseguir e depois sofrendo, até que a força coletiva tornou possível o emocionante e feliz final.
Neste jogo com o Nacional, o Benfica acabou premiado, mesmo tardiamente, pelo seu esforço e pela superioridade que quase não chegava para ganhar. Grande dificuldade, novamente, em criar espaço para finalizar, quando o adversário se estrutura mais atrás. Mesmo assim, o Benfica ultrapassou as três dezenas de remates, mas sem correspondência nas oportunidades reais criadas. Ao mesmo tempo, a importante valência do jogo aéreo só em bolas paradas se vem traduzindo, com a participação dos jogadores de trás, mais contundentes. Na verdade, os atuais avançados do Benfica, sendo de qualidade, não têm no jogo aéreo a sua força mais influente, um argumento importante que faz falta.
Da Madeira, resulta então uma vitória feliz, mas merecida, de quem muito lutou por vencer. Mais uma vez, fica a imagem triste do consecutivo antijogo, que não é, infelizmente, novidade por cá. Pelo contrário, é uma marca triste que envergonha e empobrece a nossa Liga.
Força extra
O desenlace vitorioso na Choupana, pela forma como foi alcançado, traz com ele uma força extra que se traduz para além dos pontos, quando se aproxima um duelo importante. No final, fica mais uma vitória preciosa num período decisivo, em que o Benfica consegue manter-se candidato, quer no campeonato, quer na Europa, recuperando a chama fundamental que as vitórias trazem. Ganhar como ganhou na Madeira tem um efeito que não se treina, mas que fortalece as equipas e os jogadores. O próximo jogo com o Sporting poderá ter o efeito mobilizador destes três pontos especiais. Com um possível êxito no dérbi, poderá acontecer o mesmo em relação ao que se segue com o Nápoles. É a dinâmica que se procura e que as vitórias provocam, passo a passo.
Analítico
O futebol é hoje um jogo marcado pelo treino jogado e pela dinâmica coletiva, que se procura e se prioriza. Depois existe o talento individual e a intuição que fazem diferença. O denominado treino analítico teve os seus dias, sendo por vezes este antigo processo recordado, em função de algumas limitações técnicas individuais que se vão observando no campo. O treino analítico, tem como característica principal a melhoria de gestos técnicos pela repetição, sem ser em situação de jogo.
Pavlidis, por exemplo, é alguém que tem uma tendência frequente para o fora de jogo. Neste último jogo esse erro posicional provocou a anulação de um golo, que poderia ter evitado o stress da incerteza final. É só um caso recente que podia ter tido implicações diretas no resultado e que se pode evitar. Contra esta lógica de melhoria individual, entre o ideal e o possível, está o pouco tempo disponível.
O exemplo está dado
Vitória histórica no Catar, de mais uma talentosa geração de jovens jogadores portugueses, bem liderada por Bino Maçães. A revelação e promoção dos nossos novos valores faz-se nestas ocasiões, essencialmente quando se ganha.
É indesmentível a força dos resultados, para a revelação de novos jogadores. Normalmente, os que mais se evidenciam, acabam por representar contributos desportivos de curta duração para os seus clubes, mas promovem, em alguns casos, grandes negócios para os clubes formadores.
Discute-se muito o momento apressado da maioria das transferências de jovens atletas. Há quem defenda uma maior resistência ao mercado, imaginando que o jogador pode começar por render desportivamente no seu clube, mas também poder valer mais em transações adiadas por algum tempo.
Contra esta teoria joga a difícil gestão e equilíbrio financeiro dos clubes nacionais, mas que dificilmente convence os adeptos. No caso dos novos campeões mundiais, é mais uma conquista de um pequeno país, resultado da indiscutível competência e talento que temos por cá, quer a jogar, quer a treinar, mas também a dirigir. Portugal fenomenal.
Modas
Há expressões que surgem para ficar no léxico da bola: «Respeitar a desmarcação» é uma delas. Ao contrário, e comparativamente, os ditados populares só perduram no tempo porque fazem sentido. Neste caso, o tal «respeitar a desmarcação» não faz sentido algum, porque defende um conceito errado. O critério do passe não deve reduzir-se a um qualquer movimento que aconteça, mas sim à escolha da melhor solução, nem que seja reter a bola e esperar pelo melhor momento. Definitivamente, não deve ser o impulso a definir o momento ou opção de passe.