quarta-feira, 26 de março de 2025

A PIOR MELHOR GERAÇÃO DE SEMPRE



 À falta de melhor futebol, voltei a ser feito refém na pausa das seleções. Eu e os jogadores da equipa portuguesa, que, regra geral, continuam a mostrar a sua pior versão. Seria ingénuo esperar uma análise imparcial, por isso direi, certo de que os bons entendedores entenderão, que a única nota positiva desta pausa é mesmo o facto de nenhum atleta do Benfica ter sido sujeitado à tortura de pisar o relvado durante estes jogos. As exibições chegam a ser um tanto ou quanto revoltantes, pelo menos até me lembrar que não estou a ver o Benfica, e só a qualidade individual da Seleção Nacional vai salvando a honra do convento, mas não muito. Roberto Martínez tem conseguido um feito extraordinário, por muitos julgado irrepetível, tal foi o trauma a que fomos expostos com os últimos anos de Fernando Santos à frente da equipa.

Há uns meses, a propósito de um áudio bastante embaraçoso gravado sem autorização na garagem do Estádio da Luz, alguém reagiu a quente e sentenciou com estrondo: Bruno Lage já não era treinador do Benfica, mas só ele parecia não saber. Já passou tempo suficiente para sabermos o paradeiro dessa bola atirada para o pinhal por alguns comentadores. Os rumores da morte de Bruno Lage foram manifestamente exagerados e o embaraço só não foi maior porque o desmentido viaja sempre menos do que a mentira. Ainda assim, encontrei ali alguma utilidade. O espírito da afirmação ficou comigo, primeiro porque espero que essas pessoas deem a mão à palmatória sensivelmente daqui a dois meses, quando o Benfica se sagrar campeão nacional e vencer a Taça de Portugal. Depois, porque esperava encontrar um caso a quem a figura de estilo assentasse.
Se a sentença é vagamente ofensiva para Bruno Lage, que continua a fazer um trabalho competente, o mesmo não se pode dizer de Roberto Martínez, que — agora é a minha vez — já não é bem o selecionador nacional. Acontece que ainda ninguém lhe comunicou o fatídico destino. Não sei se é um segredo mal guardado e não me chamo Fabrizio Romano. Sei apenas que a ideia de um projeto de médio ou longo prazo liderado por Roberto Martínez deve fazer o novo presidente da FPF soltar uma gargalhada para dentro. Só por manifesta ingenuidade se pode pensar que alguém com a ambição de Pedro Proença encontra no atual selecionador alguém à sua imagem. Encontrou, isso sim, um funcionário no payroll que importará deixar cair com graciosidade.
Se isto não for apaziguador, comecemos pela evidência estatística simples segundo a qual nenhuma seleção comandada por um treinador estrangeiro venceu grandes competições internacionais. Poderia ser apenas um acaso escavado por analistas, até perguntarmos honestamente se algum cidadão português na posse das suas faculdades pensa que Roberto Martínez é a exceção que vai confirmar esta regra. Temo que o corolário seja inverso, mas é mais grave do que isso. Martínez não se limitou a descobrir a pior versão de cada um dos atletas convocados, para depois serem salvos por um Trincão atirado lá para dentro em modo Ai Jesus.
É injusto dizer-se que esta equipa não tem uma identidade, uma imagem clara que permanece na cabeça de quem a vê jogar. O problema é que essa imagem é de uma fealdade tal que não se limita a contrariar a expectativa do adepto de bom futebol. É um crime de lesa-pátria. Nada tenho contra espanhóis, mas, aqui chegados, devemos questionar até a real motivação de Martínez. Será um agente enviado pelas autoridades espanholas para nos subjugar ao mau futebol? De portugalidade inscrita no jogo, sobrou pouco, mas merece louvor a única coisa proverbialmente portuguesa nestes jogos da Liga das Nações: a forma como nos desenrascámos apesar dos muitos passos em falso até lá chegarmos.
As nossas gerações futebolísticas avançam como a educação dos nossos jovens no relatório PISA. A medo, por desconhecimento real do futuro e profundo trauma provocado pelas inúmeras desilusões, lá encontramos coragem para afirmar pela enésima vez que estamos perante a geração mais qualificada de sempre. Fazemo-lo mais para manifestar um resultado, para dizer que isso vale algo por si só. Só quem não trabalhou depois de estudar pensará que os estudos valem mais do que a jornada de lavoura que lhe sucederá, regra geral, salvo umas raras exceções dignas de aparecer no telejornal — uma imensa carreira contributiva destinada a gorar as nossas desmedidas expectativas, as que traçámos para nós mesmos e as que alguém determinou por nós.
É assim com a melhor geração de sempre do futebol português, que, como todos saberão se tiverem visto futebol em Portugal nos últimos 40 anos, é sempre a que vem a seguir. Em Portugal não nos limitamos a jogar futebol. Há sempre um grupo de futebolistas que parece sinalizar um avanço da espécie. O nosso futebol tem tiques que fazem lembrar a evolução do índice S&P 500, uma das certezas inabaláveis dos investidores nas últimas décadas. Como sempre, tudo depende da perspetiva. Vista a uma distância suficiente para avaliar os últimos 5 ou 10 anos, o índice dispara rumo à lua, abençoando os mais pacientes com a generosidade dos juros compostos. Talvez a seleção portuguesa prossiga essa trajetória e eu esteja a ver mal. Visto à lupa do que aconteceu nos últimos sete dias, o S&P 500 parece uma decisão da qual nos iremos arrepender. Talvez o tempo e os juros compostos deem razão a quem acredita neste grupo de jogadores, mas quer-me parecer que esta analogia só terá retorno quando alguém mudar o gestor de conta que nos tem vendido Credit Default Swaps.
Assim sendo, talvez algum amor extremoso se imponha. A partir de agora, eu, que vi as gerações anteriores e por muitas tenho verdadeira gratidão, mesmo que pouco tenham ganho, vou repor alguma verdade. É que essas gerações me deram uma coisa que esta não dá: um certo orgulho pateta de ser português e reconhecer qualidades essenciais nossas sempre que onze concidadãos entram num relvado. Esta seleção parece estar, como outras tantas antes de si, à beira de algo, mas esse algo é, por enquanto, tudo menos Portugal. E por isso apelidarei esta de pior melhor geração de sempre. Ao presidente da FPF, que era árbitro mas agora tem de marcar golos, peço que encontre uma solução airosa para este problema de termos uma seleção de futebol, mas não termos um país lá dentro. E até vou mais longe: não precisamos de ganhar sempre e também não temos que jogar bem cada minuto de cada jogo. Mas era bom que tudo isto fosse mais divertido e dotado de alguma personalidade nossa, naquele eixo que nos leva do ganhar bem ao mau perder. Até os olés vindos de uma bancada tonta eu aceitarei. Não precisa de pensar mais, senhor presidente. Vá buscar o nosso homem à Turquia e, pelo caminho, deixe o Cristiano perseguir os 1000 golos lá na Arábia.
Vasco Mendonça, in a Bola

terça-feira, 25 de março de 2025

O FUTEBOL DÓI!



 O número de atletas que procura ajuda, nos nossos consultórios, está a crescer drasticamente! Percebem, cada vez melhor, que as abordagens superficiais, que visam resultados imediatos, à la longue, não funcionam. X, 23 anos, refere, numa das nossas primeiras sessões de Psicoterapia: «Estava sentado no balneário, os gritos dos meus colegas à volta. Um dos jogos mais importantes da temporada. Sentia a adrenalina disparar, mas a ansiedade comia-me. E se não conseguir jogar como espero? O peso das expectativas sufoca. A expectativa do treinador é alta. A do meu pai ainda maior. Querem que joguemos com garra, que mostremos uma performance que justifique as horas de treino. E nós também, claro! Quem não quer?! Sentia a pressão crescer a cada segundo. Um nó na garganta, o coração disparado... doía-me o peito. Quase não tinha pregado olho. O que acontece se não cumpro? O medo de desapontar a equipa e os adeptos rebenta comigo! Eles acreditam em mim... e se eu falhar? E se não renovo? A imagem do túnel, depois aquela gente toda a olhar para mim.... Tinha que me concentrar, mas os pensamentos intrusivos invadiam-me, a insegurança aumentava. A imagem de errar um passe crucial, falhar uma finalização perfeita, sempre a bater. Só a ideia de ser o motivo de uma derrota.... é absurdo como um mero erro destrói, nas redes sociais e na imprensa. Lembrei-me do que vamos falando, das nossas sessões. A importância da rigidez do meu pai, para mim... o quanto já consegui atingir... o colo da minha namorada... e o seu.... Lá fui acalmando, aos bocadinhos...»

Da nossa experiência, mais de metade das jovens esperanças falham o seu caminho por, como se diz no desporto, falta de força mental. Tudo começa com um desenraizamento do seu ambiente familiar, ainda criança, mudando todo o seu modus vivendi para ingressar nas escolas de formação dos grandes clubes. Longe do colo da mãe, da família (por vezes, ela própria, desestruturada) há um longo caminho a percorrer. Às exigências físicas da profissão soma-se a procura de figuras de identificação e lares provisórios que lhe sirvam de chão. Surgem muitos medos. Medo de uma má apresentação. Medo de uma lesão (outro grande bicho papão). Medo de não corresponder às expectativas. A ansiedade sobe, novo medo de diminuição da performance, ainda mais ansiedade sobre o desempenho futuro, e tudo de novo! Bolas de neve conduzem a avalanches!
O futebolista moderno vive sob uma pressão asfixiante. É um gladiador dos tempos modernos. Lida com expectativas não apenas em relação a si próprio, mas também por parte de treinadores, de familiares, de fãs, dos media, etc. Os verdadeiros exemplos de bullying estão nos comentários demolidores, nas redes sociais. Tudo isto enquanto treina cada vez mais, cada vez mais intensamente. Isolado no seu mundo de pressão constante, cai muitas vezes na solidão e, logo a seguir, na depressão.
A vida de futebolista é uma vida de nómada. Hoje aqui, amanhã acolá. Mudanças de clube, de país, de língua, de clima, de hábitos. Há que adaptar e não chorar. E a Família? O Natal? Treina-se. O aniversário do filho? Há jogo. A escola? Que se adapte o miúdo. O pai que está doente? Terá que esperar pelo fim da época. A avó morreu? Paciência; já estava velhinha! E a reforma, sempre precoce, nestas profissões, lá pelos 30?
Mario Gotze, o homem que deu o título mundial à Alemanha em 2014, sabe do que fala: «É um assunto que raramente é discutido, mas representa um problema sério. Muitas pessoas caem em depressão quando penduram as chuteiras. O mais importante ao se reformar é evitar cair no abismo, num buraco negro; esse deve ser o seu objetivo. E não me refiro apenas ao aspecto económico.»
A patologia mental espreita, mesmo em momentos altos. Andrés Iniesta foi campeão de tudo, mas isso não lhe serviu de muito: «Tinha todas as condições positivas que se possa imaginar, mas começamos a sentir-nos mal, a não sermos nós próprios, a sentir um vazio geral e não sabemos o que se passa porque os testes que fazemos são perfeitos.» Descreve o desalento, o sentimento de vazio e a anedonia, essa incapacidade de sentir prazer e aproveitar as coisas boas, tão comum, nos deprimidos: «Quando estava a lutar contra a depressão, a melhor hora do dia era quando ia para a cama. Perdi a vontade de viver. Abraçava a minha mulher, mas era como abraçar a almofada. Não sentia nada». Nessa altura, o jogador procurou ajuda, que mantém, até aos dias de hoje: «Continuo a ir à terapia porque preciso de me encontrar comigo mesmo.» Repete, insistentemente, que a Psicoterapia lhe salvou a vida.
São inúmeros os atletas com superpoderes, com surpreendentes testemunhos acerca das suas batalhas para se manterem sãos, mentalmente. Tantos, que não cabem neste texto. Atletas em início de carreira, veteranos ou aposentados. Parece quase milagre haver saúde mental, no futebol! É uma área sobre a qual todos — atletas, treinadores, clubes e os seus altos dirigentes, departamentos de formação, etc. — devem reflectir e investir.
Outro enorme perigo espreita! O futebol continua a ser abordado superficialmente, ignorando os processos profundos que determinam a personalidade e a patologia do jogador. Os clubes têm Gabinetes de Psicologia que parecem centrar-se no desempenho, o que é muito insuficiente!
O que sobressai é uma abordagem que se centra no consciente, no que é cognitivo e racional, na aprendizagem. Como se o desempenho se baseasse só na vontade! Não vale de nada dizer a um deprimido: «Anda, anima-te! Vê tudo o que tens de bom na vida e sorri!» Nem tão pouco, a um ansioso: «Visualiza o golo e vais ser capaz!» Proliferam as soluções instantâneas, mágicas e falaciosas, os coaches desportivos fabricados em whorkshops de fim-de-semana.
Vendem-se ilusões, em vez de soluções. Necessitamos de análises profundas que potenciem o crescimento holístico do atleta e do clube. Abordagens superficiais podem funcionar com arranhões. Quando há problemas mais graves, ou se quer potenciar os resultados, é imperioso explorar as motivações internas, traumas e ansiedades que influenciam o desempenho individual e a dinâmica da equipa, rumo a uma melhor coesão do grupo e resiliência emocional.
É enorme, o sucesso da Psicoterapia Psicanalítica/Psicodinâmica em atletas de alto desempenho. Mas é só para gente grande, forte. A Psicoterapia é para gente assim. Com problemas, mas também com capacidade de os ultrapassar! Os relatos dos grandes craques e a evidência clínica que observo no consultório confirmam-no.
O bem-estar que encontram não se limita ao âmbito desportivo, alastrando para todas as áreas das suas vidas. A Psicanálise permite um autoconhecimento que prepara para enfrentar toda e qualquer adversidade. No futebol e na vida. Possibilita a regulação emocional, durante a competição, tornando possível controlar os pensamentos negativos, inibidores de performance. Evita as situações em que o atleta manifesta, com sintomas físicos, a sua dor mental: as psicossomatizações.
As diarreias, as crises de ansiedade e faltas de ar, os vómitos, os ataques de choro, entre outros, desaparecem. Urge, então, a procura de métodos psicoterapêuticos que se foquem na etiologia, que vão à raiz dos problemas, em detrimento de meras operações de cosmética! Porque, sim, o futebol dói, mas não tem que doer para sempre.
Sónia Soares Coelho, in a Bola

12 500 PARTICIPANTES



 "A 17.ª edição da Corrida Benfica António Leitão contou com cerca de 12 500 participantes. Este é o tema em destaque na BNews.

1. 17.ª Corrida Benfica António Leitão
O atleta do Benfica, André Pereira, venceu a prova masculina. Veja o resumo e as melhores imagens das várias provas.
2. Um feito para o Clube
O Presidente do Sport Lisboa e Benfica, Rui Costa, considera que a 17.ª Corrida Benfica António Leitão, que contou com cerca de 12 500 participantes, é "mais um feito" para o Clube. "Foi mais uma manhã à Benfica. Uma manhã muito bonita, mesmo para aqueles que só estavam a assistir e não vieram correr", disse. Rui Costa salienta ainda a homenagem a António Leitão: "Um grande nome do país, um grande nome do Benfica e, por isso, também esta homenagem anual a este excelente atleta que representou as nossas cores."
3. Contributo internacional
Aktürkoğlu e Pavlidis estiveram ao serviço das suas seleções.
4. Últimos resultados
As equipas femininas de basquetebol, hóquei em patins e voleibol jogaram ontem frente a Quinta dos Lombos (derrota, por 65-75), APAC Tojal (triunfo, por 9-0) e Vitória de Guimarães (vitória, por 0-3), respetivamente. Os Iniciados de futebol empatam sem golos com o Vitória de Guimarães. No râguebi, 40-30 favorável aos encarnados ante o CR São Miguel.
5. Mundial de atletismo em pista coberta
Isaac Nader ficou em 4.º lugar nos 1500 metros, enquanto Salomé Afonso, na mesma especialidade, cortou a meta na 8.ª posição. Andrei Rares Toader (Roménia) classificou-se no 7.º lugar no lançamento do peso, e Gerson Baldé obteve a 8.ª posição no salto em comprimento.
6. Protagonista
Samuel Barata é o entrevistado da semana.
7. Agenda desportiva
Na terça-feira há jogo europeu de andebol na Luz, com o Benfica a receber o GOG na primeira mão do play-off da EHF European League (19h45). Na quarta-feira, em Matosinhos, Benfica e Braga disputam os quartos de final da Taça de Portugal de futsal (20h00)."

Benfica News, in SL Benfica

JORNALISMO DE SARJETA..



A justificação que o jornal A Bola encontra para as derrotas na formação do Sporting, é que se tratam de um processo de "formação". São as tais "dores de crescimento", que tão gosta a imprensa portuguesa de falar, sempre que os meninos especiais da turma perdem.
Eu nem quero imaginar o que já estariam a falar se isto acontecesse no SLBenfica. Já estariam a pedir a cabeça do treinador, a dispensa de jogadores e a queda da Direção.
Este jornal - que já foi de referência europeia - cada vez esta pior!!
Daqui a pouco começam a dizer que a saída do João Pereira não foi uma dispensa, mas sim uma transferência para um "grande" clube da Europa...😏
Alberto Mota, in Facebook

segunda-feira, 24 de março de 2025

EXAGEROS DO TAD, A AUTONOMIA DA SELEÇÃO BASCA E ESCÂNDALO À VISTA NO TÉNIS

 


O Tribunal Arbitral do Desporto deu razão ao Sporting e a Nuno Santos no âmbito do recurso da decisão do Conselho de Disciplina que aplicou ao jogador uma sanção de oito jogos de suspensão e uma multa de 3570 euros. Tal castigo advém da queda do acrílico de proteção do camarote onde estavam vários jogadores leoninos que não participaram na decisão da Supertaça contra o FC Porto e feriu, com alguma gravidade, uma menina que assistia ao jogo com o pai. Quando foi conhecido o castigo, escrevi que o Conselho de Disciplina tinha tido “mão pesada”, insinuando que esta decisão seria injusta. O TAD veio agora dar razão ao jogador e a quem, como eu, acreditava ser um excesso.

Na Pelota Basca, um desporto desconhecido em Portugal, a Federação Internacional (FIPV), baseando-se num artigo da Lei do Desporto de Espanha, de 2023, autorizou a participação do País Basco como seleção autónoma nas provas internacionais, levando o país vizinho a recorrer para o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD). O jornal Marca apelidou a decisão de «escândalo histórico no desporto espanhol». Sim, em Espanha, com os problemas das autonomias, tal decisão parece ser crime de lesa-majestade! Tanto que a mesma lei tenta afastar o futebol desta possibilidade. Se a UEFA um dia aceitar dividir a seleção de Espanha em várias, será, provavelmente, o fim de uma grande potência do futebol. Mais um verdadeiro escândalo?
No ténis a discussão não é política, mas económica. E aqui o paralelismo com o mundo do futebol é evidente. Uma vez mais, decisões judiciais fora dos tribunais desportivos podem ter um peso decisivo no desporto. Recorde-se que ainda recentemente o Tribunal de Justiça da União Europeia veio considerar que a Superliga de futebol era legal! O que aconteceu no ténis? Um grupo de jogadores, que inclui Novak Djokovic, agrupados na Associação de Jogadores Profissionais, acusou os órgãos governantes do ténis de serem um cartel e usarem o poder para prejudicarem o jogo e os tenistas. Como é de rigor nestas coisas, os jogadores dizem ser uma questão de princípios e não dinheiro. Mas é de dinheiro que se trata. Financiados por mais um bilionário americano, Bill Ackman, os atletas pretendem melhorar as suas condições e romper o monopólio da Associação ATP. Um processo já foi iniciado nos tribunais de Nova Iorque, mas outro será intentado na União Europeia. Parece-me que todos os atletas querem mais dinheiro, mais poder, pois na verdade as federações desportivas são enormes burocracias que sorvem quantidades inusitadas de dinheiro que deviam ir para atletas e clubes. Nós só nos lembramos dos jogadores milionários, mas a maioria dos desportistas é, no máximo, remediada. Atenção a este assunto, pode mudar muita coisa no desporto mundial.
O Direito ao Golo vai para Geovany Quenda, um adolescente extraordinário que passou a ser o jogador de futebol, com menos de 18 anos, mais caro de sempre. Mérito de Frederico Varandas: recebe já 51 milhões de euros e ainda vai poder contar com Quenda mais uma época.
João Caiado Guerreiro, in a Bola

domingo, 23 de março de 2025

O PATINHO FEIO DO BENFICA



Chegou ao Benfica no início desta época livre de contrato, depois de ter terminado a ligação aos alemães do Mainz, onde passara as anteriores seis temporadas a jogar ao mais alto nível, muito acarinhado no clube e pelos adeptos, mostrando capacidade em campo para retribuir esse apreço, como provam os 151 jogos que fez durante esse período, 11 golos marcados e 11 assistências para golo.

Muito acarinhado na Alemanha, no clube e pelos adeptos
No Benfica, entrou logo para titular, mas pagou por uma deficiente análise das suas caraterísticas e principalmente pelo mau contexto que já existia em redor do treinador da altura, o alemão Roger Schmidt. Com a entrada de Bruno Lage, passou a ser potenciado de uma maneira diferente e, aos poucos, começou a render. O patinho, afinal, não era feio.
Pagou por uma deficiente análise das características dele e contexto negativo
Poderá nunca crescer de forma a que se torne um cisne, mas agora está bem integrado e faz todo o sentido no plantel do Benfica. A intensidade que trouxe da Bundesliga e dos jogos pela seleção do Luxemburgo é um seguro de saúde para as ideias do treinador, mas é o sentido dele de missão, de compromisso com a profissão, a jogar, no banco de suplentes, ou na bancada, que o tornam bonito. Falo, naturalmente, de Leandro Barreiro.
O polivalente médio do Benfica é um daqueles jogadores de que qualquer treinador gosta e pela perseverança acaba por conquistar também os adeptos. Claro que as pessoas pagam bilhete para ver os cisnes, mas esses muitas vezes cegam com a própria beleza. No futebol, difícil é jogar simples. E ter consciência das limitações e sentido de pertença, como mostra Barreiro, ajuda.
Nélson Feiteirona, in a Bola

INSPIRADORAS ATÉ DEBAIXO DE... FORTE DILÚVIO



A equipa feminina de futebol do Benfica recebeu neste sábado, 22 de março, no Estádio da Luz, o Sporting, num dérbi válido para os quartos de final da Taça de Portugal. As águias venceram, por 3-2, e estão nas meias-finais da prova-rainha.
A chuva torrencial que se fez sentir nos primeiros minutos deu uma cor e um cenário épico a este dérbi da Taça de Portugal, que confirmou tudo aquilo que dele se previa.
Os primeiros instantes da partida deram a ideia de que as equipas se estavam a estudar mutuamente, ainda que o Benfica tivesse mais iniciativa de jogo, tentando-se chegar mais à frente.
Ao 5' do desafio, Marie Alidou apareceu na cara de Hannah Seabert, mas atirou ao lado do poste esquerdo da baliza.
Seis minutos volvidos, Nycole Raysla rematou em posição frontal, mas a bola acabou por sair à figura da guarda-redes (11').
Com o duelo a ser disputado, maioritariamente, no meio-campo, até à meia-hora de jogo, as equipas andaram longe das redes.
Lúcia Alves, aos 33', acelerou contra a monotonia, furou pelo lado direito, cruzou para o interior da área, mas a bola sofreu um desvio e acabou por ir parar às mãos da guarda-redes leonina.
No primeiro remate com perigo efetuado, o Sporting chegou ao 0-1. Telma Encarnação, à entrada da área, aproveitou um ressalto e rematou muito forte, não dando hipóteses de defesa a Lena Pauels (0-1, aos 35').
Corria o minuto 42, quando Cristina Prieto ficou muito perto do empate. Cruzamento do lado direito do ataque encarnado, com a avançada espanhola a antecipar-se a Hannah Seabert, e, de cabeça, a fazer a bola sair ao lado.
A emoção que foi faltando nestes 45 minutos iniciais regulamentares, chegou e sobrou nos quatro minutos extra dados pela árbitra do desafio. É que, neste período, foram marcados dois golos (!). Um verdadeiro hino ao futebol.
Ainda antes dos tentos, Lena Pauels negou o 0-2 ao Sporting, fazendo uma espantosa defesa a remate de Telma Encarnação, que surgiu isolada na cara da guardiã alemã.
No lance imediatamente a seguir, o Benfica chegou ao empate. Grande passe de Cristina Prieto para Marie Alidou, que, posicionada no lado esquerdo do ataque, tirou uma adversária do caminho e rematou para as redes (1-1, aos 45'+1'). Excelente trabalho da camisola n.º 22!
Na resposta, as leoas voltaram a pegar na dianteira do encontro, marcando, novamente, por Telma Encarnação, que se desmarcou da defesa encarnada e atirou a contar (1-2, aos 45'+3').
Assim, e após estes últimos minutos diabólicos, o Sporting foi a vencer para o intervalo, por 1-2. Durante o descanso, várias equipas da formação feminina encarnada foram homenageadas, tendo recebido as felicitações dos Benfiquistas nas bancadas pelas recentes conquistas.
Três minutos após o reatamento, Cristina Prieto teve uma ocasião soberana para igualar o encontro. Aproveitando um mau passe de uma adversária, a avançada encarnada ganhou a bola, foi em direção da baliza, passou por Hannah Seabert, mas atirou às malhas laterais (48').




No minuto seguinte foi Marie Alidou quem tentou o empate. Em posição frontal, no interior da área, a internacional pelo Canadá rematou com força, mas a guarda-redes do Sporting conseguiu segurar (49').
Empurrado pelo Inferno da Luz, o Benfica conseguiu mesmo chegar ao golo. Nycole Raysla recebeu a bola, furou a defesa leonina, e rematou em jeito e cheia de intenção para o fundo das redes (2-2, aos 60'). Estava feito o empate, que premiava a entrada muito forte do Benfica no segundo tempo.
Totalmente donas e senhoras do jogo, as encarnadas – que antes do golo já estavam instaladas no meio-campo do Sporting – intensificaram a pressão junto da área contrária.
Aos 65', Andreia Faria tentou a sua sorte de fora de área, mas viu a bola passar, ligeiramente, por cima da barra.
Nas poucas vezes que conseguiu passar o meio-campo, o Sporting teve pela frente uma intransponível Lena Pauels. Aos 75', a guardiã alemã saiu muito bem dos postes, travando uma iniciativa de Telma Encarnação.
Aos 77', a guarda-redes benfiquista impôs-se a remate forte de Beatriz Fonseca, fazendo uma defesa segura e negando o 2-3.
Até que o golo chegou, outra vez, à Luz. E que golo!
Ligeiramente descaída no lado esquerdo, Lúcia Alves recebeu o esférico de Andreia Faria, passou por uma adversária, e, junto à linha de área, rematou forte e colocado, fazendo a bola entrar junto ao poste direito, deixando os Benfiquistas ao rubro (3-2, aos 83').
Eufórica, a defesa foi, inclusive, festejar para junto dos adeptos, criando uma das imagens mais fortes de todo o dérbi. Um momento de grande emoção e raça encarnada.
Em vantagem, e com sete minutos para se jogar, as águias meteram o jogo no congelador, não deixando que o Sporting se acercasse com perigo da sua baliza, e contando com um incansável apoio de 11 093 almas bem acesas.
Quatro minutos depois dos 90', o jogo foi dado como encerrado. Missão cumprida, o Benfica está na meia-final da Taça de Portugal!
DECLARAÇÕES
Filipa Patão (treinadora do Benfica): "Dar os parabéns ao Sporting, que foi um digno vencido, foi um adversário à altura. Arrisco-me a dizer que foi uma final antecipada, que tivemos nos quartos de final. Devemos um bocadinho a nós os erros que cometemos, tanto defensivamente, como ofensivamente, porque entrámos bem no jogo, tivemos as primeiras situações de golo e, depois, na única e primeira situação que o Sporting tem, acaba por fazer um golo, num ressalto de bola que acaba por sobrar para a Telma [Encarnação], que já sabemos que é letal naqueles espaços. Acabámos por fazer o empate e, depois, novamente numa desatenção, acabámos por sofrer aquele golo. Foi o que foi falado ao intervalo. Independentemente dos dois golos sofridos, estávamos bem no jogo, tínhamos o jogo controlado. Na 2.ª parte, acho que só houve uma equipa merecedora de passar à próxima fase, que foi a nossa, porque fizemos uma 2.ª parte muito boa, a criar situações de golo. O Sporting não conseguia passar do meio-campo. Fizemos o golo do empate, depois conseguimos fazer o 3-2, mas acho que só houve um sentido na 2.ª parte. Fomos muito competentes na forma como quisemos ferir o adversário, como começámos a projetar mais as nossas jogadoras ofensivamente e, depois, quando fizemos o 3-2, faltava pouco tempo para acabar o jogo, e foi conter os ataques do Sporting, que projetou muitas jogadoras. Mas, como disse, acho que foi, mais uma vez, um excelente espetáculo de futebol. Na minha opinião, por muito mérito que o Sporting tivesse ao longo do jogo, eu acho que o Benfica foi um justo vencedor por aquilo que fizemos nos 90 minutos."
Lúcia Alves (defesa do Benfica): "Sabemos que o Sporting é uma equipa supercompetente, e só um grande Benfica poderia derrotar esta equipa. Acho que, na 2.ª parte, demonstrámos que queríamos ganhar o jogo e lutar para poder chegar outra vez à final. É o meu sonho de criança poder marcar no Estádio da Luz e viver este dia."
Segue-se agora uma receção ao Racing Power, em duelo da 19.ª jornada da Liga BPI, agendado para sábado, 29 março, às 17h30, para o Campo n.º 1 do Benfica Campus.
Taça de Portugal | Quartos de final | 22/03/2025
Benfica-Sporting
3-2
Estádio da Luz
Onze do Benfica
Lena Pauels, Marit Lund, Cristina Prieto (Laís Araújo, 81'), Andreia Norton (Beatriz Cameirão, 71'), Nycole Raysla, Andreia Faria, Lúcia Alves, Carole Costa, Christy Ucheibe, Marie Alidou (Lara Martins, 81') e Anna Gasper
Suplentes
Rute Costa, Joana Silva, Beatriz Cameirão (71'), Jody Brown, Letícia Almeida, Rakel Engesvik, Catarina Amado, Lara Martins (81') e Laís Araújo (81')
Treinadora do Benfica
Filipa Patão
Onze do Sporting
Hannah Seabert, Andrea Norheim, Georgia Eaton-Collins, Joana Martins (Jeneva Gray, 87'), Ana Borges, Ana Capeta (Beatriz Fonseca, 68'), Brenda Pérez, Cláudia Neto (Maísa Correia (76'), Telma Encarnação, Maiara Niehues e Jacynta Gala (Madison Haugen, 68')
Suplentes
Catarina Potra, Jeneva Gray (87'), Rita Fontemanha, Madison Haugen (68'), Beatriz Fonseca (68'), Matilde Nave, Maísa Correia (76'), Érica Cancelinha e Miri O’Donnell
Ao intervalo 1-2
Golos
Benfica: Marie Alidou (45'+1'), Nycole Raysla (60') e Lúcia Alves (83'); Sporting: Telma Encarnação (35' e 45'+3')

sábado, 22 de março de 2025

MASSACRE...



No clássico da 20.ª jornada da 1.ª fase do Campeonato Nacional, disputado num Pavilhão Fidelidade a ferver, o Benfica goleou o FC Porto, por 6-0.
O Benfica recebeu e derrotou o FC Porto, por 6-0, num duelo da 20.ª jornada da 1.ª fase do Campeonato Nacional, realizado neste sábado, 22 de março, num lotado Pavilhão Fidelidade.
No lançamento do clássico – que teve a LASO como Match Day Sponsor –, Edu Castro havia deixado uma mensagem aos adeptos das águias: "Apelo a todos os Benfiquistas para que nos deem muita energia neste jogo, e nós também a daremos a eles." E assim foi!
Moralizados pelos cânticos vindos das bancadas, os encarnados dominaram a 1.ª parte, detendo a maioria da posse e rematando com elevada frequência. Os Benfiquistas gostavam do que viam e a energia no pavilhão era excelente.
Foi neste contexto que, aos 9', a formação vermelha e branca inaugurou o marcador. Pau Bargalló intercetou um passe na defesa, subiu pela esquerda e, com classe, picou a bola para o centro, onde Nil Roca correspondeu com um remate em vólei certeiro (1-0). Espetacular contra-ataque encarnado para a primeira explosão de alegria no pavilhão!
O segundo tento não demorou muito mais, surgindo à passagem do minuto 13. Em nova transição mortífera, Diogo Rafael recuperou o esférico no meio-campo e abriu à esquerda, para Gonçalo Pinto, que galgou metros e, de meia distância, disparou cruzado e potente para o fundo da baliza (2-0).
Aos 21', o FC Porto dispôs de uma boa chance para reduzir a diferença, mas Hélder Nunes errou o alvo num livre direto.
Já a menos de meio-minuto do intervalo, Pau Bargalló cortou a bola no ataque, e esta sobrou para João Rodrigues, que tabelou com o internacional espanhol e, de posição privilegiada, não desperdiçou (3-0).
No arranque da 2.ª metade, em busca de inverter o rumo da contenda, os forasteiros aplicaram maior pressão no bloco defensivo benfiquista, que, sólido e solidário, com Pedro Henriques em bom plano, anulou a totalidade das tentativas opositoras.
Tendo sustido o ímpeto azul e branco, os comandados de Edu Castro avolumaram o desnível nos últimos 10 minutos. Aos 43', Nil Roca ganhou a bola na defesa e adiantou-a para Pau Bargalló, que, da esquerda para o meio, perfurou a defesa oponente antes de encontrar Lucas Ordoñez na cara do guarda-redes portista, o qual atirou a contar (4-0).
Já no minuto 48, isolado na frente, Zé Miranda foi rasteirado por Xavi Malián. Na cobrança do consequente penálti, João Rodrigues rematou ao lado num primeiro momento, mas, na recarga, o avançado abanou mesmo as redes (5-0).
Por fim, no derradeiro minuto de jogo, Martim Costa roubou a bola no seu meio-campo e avançou até à entrada da área, onde disparou para defesa de Xavi Malián. Todavia, na ressaca, Zé Miranda fechou a contagem em 6-0, num golo edificado por dois jovens formados no Benfica, o qual lançou uma enorme festa no Pavilhão Fidelidade, que se prolongou até ao fim da partida.
O Benfica torna a competir às 19h45 desta quinta-feira, 27 de março, frente ao Reus, no reduto adversário, no embate da 1.ª mão dos quartos de final da WSE Champions League.
DECLARAÇÕES
Edu Castro (treinador do Benfica): "Hoje fizemos, creio eu, um grande jogo na defesa. Minimizámos muitas das virtudes do FC Porto, que são muitas, no ataque. Marcámos rapidamente e isso também nos permitiu gerir muito bem os ataques. Felicitar a equipa, mas, acima de tudo, felicitar os adeptos por nos terem nos apoiado tanto neste momento em particular, que era ganhar ou ganhar, para continuar na luta pelo 1.º lugar da fase regular. Trabalhamos para que gostem dos jogos, e agradecer a todos pela afluência e pelo apoio que nos deram hoje."

Pau Bargalló (avançado do Benfica): "Estou contente com a forma como vivenciámos o jogo hoje, com o pavilhão cheio. A verdade é que é incrível jogar aqui em casa, e contra o FC Porto. O pavilhão ficou ainda mais espetacular e ajudou-nos muito a conquistar esta vitória."
Campeonato Nacional (1.ª fase) | 20.ª jornada | 22/03/2025
Benfica-FC Porto
6-0
Pavilhão Fidelidade
Cinco inicial do Benfica
Pedro Henriques, Nil Roca, Zé Miranda, Pau Bargalló e João Rodrigues
Suplentes
Bernardo Mendes, Diogo Rafael, Martim Costa, Gonçalo Pinto e Lucas Ordoñez
Treinador do Benfica
Edu Castro
Cinco inicial do FC Porto
Xavi Malián, Ezequiel Mena, Carlo Di Benedetto, Gonçalo Alves e Hélder Nunes
Suplentes
Leonardo Pais, Tomás Santos, Telmo Pinto, Edu Lamas e Diogo Barata
Ao intervalo 3-0
Golos
Benfica: Nil Roca (9'), Gonçalo Pinto (13'), João Rodrigues (25' e 48'), Lucas Ordoñez (43') e Zé Miranda (50')

AS ELEIÇÕES NA LIGA E O IMPACTO NA CENTRALIZAÇÃO DE DIREITOS TV EM 2028



até 30 de junho de 2026 que a Federação Portuguesa de Futebol e a Liga Portuguesa de Futebol Profissional têm de entregar ao Governo e à Autoridade da Concorrência uma proposta de comercialização centralizada dos direitos televisivos das competições profissionais (Primeira e Segunda Liga).

30 de junho de 2026, esta data tem passado despercebida, mas é a chave em todo o processo.
Desde fevereiro de 2021, quando o governo aprovou o decreto-lei n.º 22-B/2021, ficou estabelecido que a partir de 2028/29 os direitos de transmissão de TV dos campeonatos profissionais seriam objeto de venda centralizada. Este longuíssimo período (7 anos e meio) visava assegurar o respeito pelos contratos que estavam em vigor — FC Porto, Sporting, Vitória de Guimarães e SC Braga, 4 das 5 SAD com mais adeptos, tinham, desde 2015, contrato assinado até junho de 2028. Mas não deve ter sido também indiferente ao governo intuir que estes 7 anos e meio também garantiam que o risco de o decreto-lei ser polémico era zero.
Ao fim de 4 anos, e a apenas 15 meses da data-limite de entrega desta proposta, o primeiro passo, o mais difícil e decisivo, parece mais distante — que todas as SAD acreditem na centralização e que todas juntas trabalhem e encontrem uma proposta única e consensual.
A divisão das SAD em duas listas nas eleições da Liga a 11 de abril pode ser revés inultrapassável para o cumprimento do prazo de 30 de junho de 2026.
O equilíbrio previsível do resultado das eleições (com a vitória tangencial a poder cair para qualquer candidato) e o facto de serem intercalares, com as próximas já marcadas para 2027, podem inviabilizar um consenso em junho de 2026.
Imaginemos então que, na data de 30/06/2026, a FPF e a LPFP não conseguem apresentar uma proposta ao Governo.
Do decreto-lei, resulta que os termos de modelo serão unilateralmente definidos pelo Governo — o que vai resultar das eleições legislativas de 18 de maio. Neste cenário, qualquer que seja o Governo (mesmo que resulte da maioria absoluta de um só partido), a decisão seria adiar a centralização, mantendo cada clube a possibilidade de negociar individualmente.
Nunca um governo irá definir unilateralmente uma chave de repartição, que será sempre polémica e controversa. Muito menos tem conhecimento e competências para definir modelos competitivos (que têm impreterivelmente de ser alterados), calendário das competições, horários dos jogos e pacotes de transmissão.
Neste provável cenário, haverá dois caminhos possíveis:
A - Todos os clubes negoceiam individualmente;
B - Benfica, FC Porto e Sporting negoceiam individualmente e todos os outros se juntam e vendem centralizadamente.
Se os 3 maiores não se entenderem com os outros, a probabilidade de se entenderem entre si é zero, pelo que venderiam 17 jogos da I Liga cada um (5,5% do número total de jogos).
Já o pacote que 15 sociedades desportivas da I Liga e 16 da II Liga venderiam centralizadamente teria 255 dos 306 jogos da I Liga (83% do total) e 272 dos 306 da II Liga (88,8%) — é muito mais valioso.
SC Braga, Vitória de Guimarães, Famalicão, Santa Clara, Rio Ave e Estoril são 6 dos 18 clubes da I Liga. Têm 102 dos 306 jogos (33% do total) e devem receber 15% do total da receita de direitos TV. O que os impediria de se juntarem e fazerem uma venda centralizada? Mesmo sem os 3 maiores, o que impediria que 31 sociedades desportivas conduzissem um processo centralizado até ao fim?
A evolução dos clubes para SAD, resultou em que várias têm proprietários muito mais fortes economicamente que os 3 maiores — são totalmente independentes. O facto destes proprietários serem estrangeiros, na sua esmagadora maioria, e participem em outras competições que há muito fazem a venda centralizada de direitos TV, torna esta hipótese muito provável.
Para os 3 maiores, venderem individualmente e permitirem aos outros 31 venderem centralizadamente, é um risco cujo impacto desconhecem. Mesmo que não fosse pela receita, não estariam no centro da decisão do modelo competitivo e da definição do calendário. E as 31 sociedades desportivas sabem que um processo com os 3 maiores é muito mais seguro, sólido e lucrativo.
A proposta de centralização dos direitos TV tem de ser entregue em junho de 2026, e ser aprovada por unanimidade por todas as sociedades desportivas — para todas ganharem mais. Quanto mais rápido todos se convencerem disso, mais tempo poderão dedicar ao que vai fazer a diferença e permitir a sua sustentabilidade — e sobrevivência.
A centralização será mesmo melhor para todos? Até para o Benfica?
O Benfica é, de longe, o clube que tem mais adeptos e gere a Benfica TV há mais de 15 anos. Em 2028, até pode vender o seu canal próprio em streaming (como a Netflix, por exemplo) e não através de operadores de telecomunicações — já não precisam deles. Esta solução seria o princípio de uma terrível perda de receita dos operadores de telecomunicações, que passariam a correr o risco do mercado evoluir vertiginosamente e passarem a ser apenas vendedores de banda larga.
O Benfica não precisa da centralização, mas pode beneficiar dela, até porque também tem desvantagens em continuar a vender isoladamente, como por exemplo:
A - Os adeptos do SLB, atualmente, pagam mais que todos os outros adeptos para assistirem aos jogos da sua equipa (têm de subscrever a Sport TV para ver os jogos fora de casa). A diferença do que o Benfica recebe dos operadores compensa o custo acrescido aos seus adeptos? Estarão eles, na verdade, a subsidiar o que se paga às outras SAD?
B - Com 300 mil clientes, a BTV tem uma audiência potencialmente muito mais limitada que os canais do FC Porto e Sporting que estão no pacote básico, com 4,5 milhões de casas. E isso é uma grande limitação na comunicação, como foi visível quando durou a guerra dos emails com o FC Porto.
C - Não são só os jogos da principal equipa masculina que estão na BTV. Seria melhor, e mais valioso, ter os jogos do futebol feminino, da equipa B na II Liga, dos sub-23, dos escalões de formação, das modalidades (andebol e hóquei em patins, por exemplo) num dos 9 primeiros canais do pacote básico? Aumentariam as audiências e as receitas comerciais. E, institucionalmente, beneficiaria de poder distribuir todos estes conteúdos pelos vários canais.
Cada uma das sociedades desportivas beneficiará com a centralização. Valorizando, na justa medida, a importância e os interesses de cada um.
O futebol português precisa de uma discussão intensa e participada, para que se consiga o consenso necessário. Vale a pena jogar em janeiro, ao frio e chuva, mas também o mês em que as famílias têm menos dinheiro, em vez de jogar mais nos meses com bom tempo? Faz sentido, em cada fim de semana, o interminável arrastar de jogos sem interesse de sexta até segunda à noite?
A alteração dos modelos competitivos tem sido sinónimo de tentativas de redução do número de equipas na I Liga, das atuais 18 para 16.
A acontecer, teria várias péssimas consequências, sendo que três sobressairiam:
1 - O número de jogos da I Liga reduziria de 306 para 240 (menos 21%do total). O número de jornadas passaria de 34 para 30 e o número de jogos por jornada de 9 para 8. A esta redução do número de jogos corresponderia uma inerente redução na receita da venda (mais de 21%, provavelmente).
2 - Aumentaria o desemprego (menos 2 equipas técnicas, menos 60 jogadores, menos dezenas de trabalhadores de staff, menos árbitros, etc...);
3 - Haveria perda de valor na venda de jogadores — com menos 4 jogos, e com equipas teoricamente mais acessíveis, haveria menos golos (e menos assistências). Gyokeres, por exemplo, marcou 4 golos aos dois últimos classificados, em apenas 2 jogos.
Os modelos competitivos têm de ser alterados, mas reduzir o número de equipas na I Liga é um erro crasso, diminui a receita, que é o contrário do que se pretende.
Em 2025, o futebol português já não tem a atenção exclusiva dos portugueses, como há apenas 30 anos.
Agora, disputa a atenção dos adeptos com as melhores competições de futebol do mundo, às quais também têm acesso em direto. Mas os adeptos também têm tempo e dinheiro limitados, o que os obriga a fazer escolhas. Gostam de viajar, ir a restaurantes, assistir a concertos e festivais — o que fazem em família. Os mais jovens têm mais cultura desportiva e seguem fervorosamente a NBA, o Rugby e a NFL.
Como vamos atrair mais adeptos ao estádios e vamos aumentar as audiências dos jogos das competições profissionais de futebol?
Nos últimos 10 anos, as SAD ultrapassaram três momentos em que estavam a aproximar-se do abismo, e sempre através do diálogo franco e aberto entre todos, o que permitiu chegar-se a consensos, em que todos ganharam.
A - Em 2014, evitou-se a bancarrota da Liga e a paragem das competições;
B - Em 2018, as equipas B mantiveram-se a participar na II Liga, o que esteve iminente deixar de acontecer;
C - Em 2020, poucos meses após ter sido decretado o isolamento devido à pandemia de Covid, conseguiram a retoma da I Liga, aceitando os clubes da Liga 2 não recomeçar e sendo compensados por isso — praticamente todos os setores económicos estavam parados.
Nestes 3 momentos, havia presidentes que não se falavam, e sentaram-se na mesma mesa.
Cada SAD tem de fazer a sua parte, mas quanto mais rapidamente começarem a trabalhar na centralização de direitos TV em conjunto, melhor.
Faltam 15 meses para o dia 30 de junho de 2026, as SAD estão a tempo. Se não conseguirem apresentar uma proposta consensual, vai incorrer em custos, e problemas, irrecuperáveis.
Rui Pedro Soares,in a Bola