quarta-feira, 20 de novembro de 2024

O QUE HÁ PARA VER ENQUANTO O BENFICA NÃO VOLTA



"Numa fase em que pouco ou nada acontece no futebol profissional, há mais tempo para investir nas modalidades e na observação das tendências internacionais. A notícia mais interessante que li esta semana pareceu chocar muitos patriotas, mas foi a que mais esperança me deu. Passo a explicar: nove jogadores convocados para representar a seleção de Inglaterra em mais uma pausa do futebol de clubes — que, para os jogadores, é tudo menos uma pausa — anunciaram simultaneamente que não estavam disponíveis para estes dois jogos, por sinal decisivos para as aspirações inglesas nesta competição extraordinária que dá pelo nome de Liga das Nações.
Os atletas entenderam que não estavam aptos, apresentaram algumas razões mal explicadas e prepararam-se para viver com a fama temporária de trabalhadores menos árduos ou patriotas falhados, isto até que as redes sociais se esqueçam do assunto ou — qual dos dois períodos mais curto — até que o selecionador interino Lee Carsley e Thomas Tuchel, futuro selecionador de Inglaterra, cheguem à conclusão óbvia de que não têm qualquer hipótese de disputar uma competição de seleções sem Trent Alexander-Arnold, Declan Rice, Bukayo Saka, Cole Palmer ou Phil Foden, para referir apenas alguns dos jogadores que faltaram à convocatória. O que têm em comum? São alguns dos melhores futebolistas da atualidade.
Este texto não é uma defesa da preguiça, nem tão pouco um desabafo contra o patriotismo, ainda que a preguiça seja um atributo manifestamente injustiçado e o patriotismo uma virtude por vezes exagerada. Parece-me pertinente, isso sim, que os principais atletas da modalidade assumam a sua vontade sem se sacrificarem como participantes de um Hunger Games futebolístico, preferindo antes cuidar da sua disponibilidade física e mental quando se preparam para disputar alguns dos jogos mais importantes da sua época desportiva, neste caso na Premier League e na Liga dos Campeões.
Se isso não bastar, podemos aprofundar o diagnóstico desta situação atentando ao valor percebido da competição que dá pelo nome de Liga das Nações: um carrossel de jogos de futebol maioritariamente intragáveis, que sobrevivem à conta da necessidade da imprensa em ter alguma coisa para acompanhar e, claro, das apostas desportivas, que seguramente encontram nestes jogos material de sobra para dar lucro à casa. Se é assim, apetece-me perguntar ao capitão Harry Kane, que, a propósito da ausência dos seus colegas, descreveu o imperativo de representar a pátria como se alguém o tivesse chamado para uma guerra: que batalha imperiosa é que a seleção inglesa travou frente à Irlanda ou à Grécia? O apuramento para a primeira divisão da Liga das Nações?
Para somar a este absurdo, relembro que a seleção de Inglaterra chegou meritoriamente à final do último Campeonato da Europa disputado nesta modalidade, há apenas quatro meses. É possível que isto seja descrito em alguns fóruns como uma medida da competitividade desta prova. A mim, parece-me uma medida do absurdo. Em suma, o meu espanto é que não tenham sido mais de nove atletas a boicotar a convocatória para a seleção inglesa. Mas lá chegaremos, inevitavelmente. É bom que os atletas, em especial os melhores, vão lembrando seleções e clubes de que o futebol não é o mesmo sem eles.
Pode o leitor ter interpretado que escrevo este texto irritado após ter lido notícias sobre as lesões de Bah e Tomás Araújo ao serviço das respetivas seleções. E interpreta muito bem. Não tão grave, mas ainda assim preocupante, foi saber que o melhor jogador do atual plantel, Akturkoglu, chegou ao fim do seu jogo na seleção em lágrimas, após ter falhado um penálti decisivo (para quem? Não fazia ideia quando li a notícia, mas suspeitei logo que envolvia o apuramento da Turquia para alguma coisa pouco relevante). Bastou carregar a página web para confirmar que ainda não é desta que a Turquia se apura para a Liga A da Liga das Nações (até nas designações utilizadas, esta Liga é má).
Podem ser patriotas à vontade, mas vamos concordar nisto: o mínimo que se exige às seleções que incluem atletas do Benfica é que ganhem sempre, idealmente de forma folgada, por forma a contribuir para o bem-estar psicológico dos jogadores do clube. Sendo absolutamente egoísta e insensível em relação ao tema, talvez seja azar meu ou alguma precipitação na matemática, mas, exceção feita a um talento absolutamente excecional — Enzo Fernández — tenho alguma dificuldade em perceber a valorização dos atletas do Benfica, enquanto representam o clube, ao serviço das seleções nacionais.
Bem sei do consenso em torno da Seleção Nacional, segundo o qual este texto se aproxima do ilícito criminal, mas estou disponível para morrer sozinho nesta colina. Poucas coisas me entusiasmam menos no futebol em 2024 do que saber quem são os possíveis adversários de Portugal nos quartos de final da Liga das Nações. Ainda assim, com humildade e respeito por quem pensa diferente, fiz questão de perguntar a amigos e familiares sobre esta competição. Pedi-lhes que me explicassem onde está o interesse, a ver se também eu me entusiasmo. A maioria não conseguiu melhor do que um tímido «é o que há para ver enquanto o Benfica não volta». Não sei se será a melhor campanha de marketing para promover um conjunto de jogadores representativos de um país, mas pelo menos seria honesto."

Vasco Mendonça, in A Bola 

INJUSTIÇA!



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 "4

O Benfica não marcava 4 golos ao FC Porto desde 31/3/1975 (vitória por 5-1, num particular disputado em Paris). Em competições oficiais, a última vez que havia conseguido 4 ou mais golos numa partida acontecera em 20/4/1972 (6-0, na Luz, nas meias-finais da Taça de Portugal). No Campeonato Nacional, ocorrera em 13/12/1964 (4-0 na Luz);
12
Di Maria passou a ser, a par de Seferovic, o 12.º estrangeiro com mais jogos oficiais de águia ao peito (188). É o 69.º neste ranking;
13
Otamendi tornou-se no 13.º com mais tempo de utilização pelo Benfica em competições oficiais neste Estádio da Luz (8950 minutos, incluindo tempos adicionais). Está a 40 minutos do 12.º Nuno Gomes;
Aursnes chegou às 13 assistências para golo em jogos oficiais no Estádio da Luz, passando a integrar o top 20 neste ranking liderado por Gaitán, que fez 56;
E passou a ser o 18.º, nas últimas 20 épocas (desde 2005/06), com mais assistências em jogos oficiais (21);
15
Com os 2 golos apontados ao FC Porto, Di Maria é agora, com Saviola, o 15.º melhor marcador do Benfica em jogos oficiais no atual Estádio da Luz (22). É o 7.º em assistência (23), o 13.º em jogos oficiais (95) e o 18.º em tempo de utilização (6910 minutos, incluindo tempos adicionais);
30
Florentino alcançou o top 30 dos futebolistas do Benfica com mais jogos oficiais neste Estádio da Luz (66), a par de David Luiz e Léo. Está a 2 jogos de igualar o futebolista formado no Benfica Campus com mais partidas, Rúben Dias. No atual plantel segue-se António Silva, com 49;
63342
Na partida com o FC Porto, o Estádio da Luz registou a maior assistências da temporada. Nos 6 jogos do campeonato, a média situa-se nos 59971,5."
João Tomaz, in O Benfica

EM BOA HORA



 "1. O facto, indesmentível, de o Benfica ter vencido por 4-1 o FC Porto depois de quase 60 anos sem ter conseguido 'dar' 4 ao seu rival da invicta não deslustra nem diminui o nome do Benfica, nem, muito menos, deslustra a exibição da nossa equipa de futebol na noite de 10 de Novembro na Luz. A vitória foi categórica e perentória.


2. Ao diagnóstico de 'reumatismo' que foi, na semana passada, endereçado a Di Maria pelo ex-árbitro-indiagnosticável a atual-comentador-indiagnosticável, Jorge Coroado, respondeu o jogador argentino com uma performance de alto nível e com 2 desses 4 golos aplicados na baliza da equipa que, em boa hora, nos calhou receber na 11.ª jornada do campeonato.

3. O tento de honra foi obtido pelo FC Porto no final da primeira parte do clássico sob um intenso nevoeiro cerrado, tipo Choupana. Sem querer desmerecer o autor do golo dos visitantes nem ignorar o lapso de comunicação entre Otamendi e Trubin, aquele tento teve a autoria moral de uns poucos idiotas historicamente impunes que lançaram tochas para o relvado interrompendo o jogo num momento em que o Benfica dominava e pressionava o adversário.

4. Mas esta gente é do Benfica? Não há ninguém que tenha mão nisto?

5. Vamos lá então à histórica das boas goleadas. O Benfica não dá 3 ao FC Porto há 14 anos (final da Taça da Liga), não dá 5 ao FC Porto há 88 anos (Campeonato Nacional), não dá 6 ao FC Porto há 52 anos (eliminatória da Taça de Portugal), não dá 7 ao FC Porto há 79 anos (Campeonato Nacional), não dá 8 ao FC Porto há 72 anos (festa e inauguração do Estádio das Antas) e não dá 12 ao FC Porto há 81 anos (Champions Nacional). E não dá 4 ao FC Porto há coisa de 5 dias.

6. Voltemos ao verbo dar, mas desta vez pela pena de Francisco J. Marques, ex-diretor de comunicação do FC Porto condenado em tribunal pelas suas tropelias, chamemos-lhe assim. O resultado de domingo permitiu-lhe colocar em público a seguinte questão: 'Sabem quantas vezes, enquanto presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa sofreu 4 golos do Benfica?' Como? 'Quantos vezes' o seu patrono 'sofreu' 4 golos do Benfica? Mas o ex-presidente do FC Porto também foi guarda-redes do FC Porto para não sofrer golos do Glorioso? Coisas escritas muito à pressa, compreende-se dadas as circunstâncias.

7. Vem aí a pausa das seleções. No caso do Benfica abrange mesmo muitas seleções porque são 13 os jogadores que vão abandonar o Seixal para irem representar os seus países. Que voltem todos bem. Quando ao que interessa, o Benfica, só volta em 23 de Novembro para receber o Estrela da Amadora para a Taça de Portugal. Que saudades de vencer uma Taça de Portugal, vamos lá, Benfica!"

Leonor Pinhão, in O Benfica

terça-feira, 19 de novembro de 2024

O FUTEBOL É UMA SELVA



 "Não vi o clássico dos 4-1 em direto. Por motivos profissionais, encontravam-me em Manaus, no Brasil, quando decorreu a lição de futebol dada pelos jogadores do SL Benfica à equipa orientada por Vítor Bruno. Fui seguindo o que se passava através  da Internet e do ar estarrecido de três adeptos portistas com quem me encontrava no Brasil. Desde cedo percebi que os ventos nos eram favoráveis, até sentir o primeiro (e único) motivo de alegria dos nossos adversários. 'Atiraram umas tochas para o relvado, e marcámos logo a seguir', disse-me a sorrir um dos meus companheiros de viagem. Pensei que ele estava a brincar. Então, a nossa equipa marca ao rival, está por cima do jogo, e vai de atirar artefatos pirotécnicos para o relvado sagrado e, assim, fazer com que o jogo seja interrompido? Não pode ser.

Ninguém é assim tão pouco inteligente. Mas era verdade. Além do mau comportamentos e das multas pecuniárias, lá teremos de lidar (novamente) com a possibilidade de interdição da Catedral. Por causa de alguns, os poucos vão pagar os outros, os muitos. Consigo entender perfeitamente a paixão clubística, as coreografias de apoio, a maior parte dos cânticos, os adereços o esforço despendido em bilhetes e viagens, a entrega, a criatividade e a irreverência típica dos grupos de apoio, mas não compreendo esta demonstração de sei que não estou sozinho nisto, a ver e a ouvir pelo coro de assobios com que foram brincados os artistas das tochas. Provavelmente conseguiram aquilo que desejavam: ser falados. Mas, mais uma vez, pelas piores razões."

Ricardo Santos, in O Benfica

PROFETAS!

 


"A nova bandeira da lagartagem é a última projeção da UEFA em que da uma possibilidade de 62% do Sporting acabar no top-8 da atual edição da Champions League.
Motivo para festejarem como se não existisse amanhã, lançar foguetes e beber champanhe..
As projeções da Liga Europa davam o FC Porto como favorito à vitória. Passado umas semanas desceram para UM DOS favoritos, depois passou a ser AINDA favorito e agora é jogo a jogar a ver se passam à próxima eliminatória.
Estes lagartos não aprenderam nada...😏"

Alberto Mota, in Facebook

A OUTRA LIGA DOS CAMPEÕES



 "Entre as épocas de 2013/2014 e 2018/2019, o Benfica juntou a liderança desportiva no futebol nacional, a uma aceitável performance económica. Venceu cinco Ligas e obteve um 2º lugar, domínio que coincidiu com resultados económicos sempre positivos, acumulando nesse período 131M de euros de lucro.

Em 2020/2021 deu-se uma queda abrupta, um 3º lugar na Liga, a nove pontos do vencedor e, no exercício económico, prejuízos avultados de 34M de euros. A gestão do clube não foi capaz de reduzir os custos operacionais, de molde a enfrentar a quebra de rendimentos, causada pela pandemia.
Entre 2021/2022 e 2023/2024, com a atual Direção, o desempenho do futebol foi insuficiente (apenas uma Liga em três épocas) e, na óptica dos resultados económicos, acumularam-se 71M de euros de prejuízos, dos quais 31M em 2023/2024.
No universo empresarial, a função de dirigente desportivo é talvez a única em que é possível acumular-se prejuízos sucessivos e passar-se razoavelmente despercebido.
Na época em curso, após o arranque medíocre que levou, finalmente, à saída de Schmidt, Bruno Lage, com muito mérito, recuperou a equipa oferecendo a perspetiva de ainda se alcançar o triunfo na Liga.
Contudo, o Benfica necessita não apenas de dominar as competições nacionais, mas também de ser competitivo na Liga dos Campeões. Neste plano, Bruno Lage foi amplamente criticado, sobretudo após a derrota na Alemanha, frente ao Bayern de Munique. Não tenho a fineza de análise de outros benfiquistas, igualmente não ligados profissionalmente à área do futebol, que depois dos acontecimentos, têm a perspicácia de identificar as táticas e planos de jogo alternativos e a distinta composição do onze titular, que o treinador, que decidiu a priori das ocorrências, supostamente deveria ter utilizado.
Mas a meditação sobre a fraqueza histórica do treinador profissional de futebol faz parte da riqueza intelectual destes comentários, que se repetem ao longo do tempo, contemplando sucessivos treinadores.
Na Liga dos Campeões, sem retirar valor aos enérgicos comentários críticos transversais ao "futebolês", para se ser competitivo, de uma forma constante, não parece suficiente focar-se na equipa de campo ou na figura do treinador. A competitividade tem de ser gerada a partir das Direções dos clubes.
Nas últimas cinco edições, das 20 vagas de semifinalistas, apenas duas (10%) foram ocupadas por equipas "atípicas". Os recursos financeiros não asseguram o êxito supremo (exemplo do PSG, com três meias-finais nesse período, mas sem nenhuma vitória), mas o sucesso constante não se se assegura sem recursos financeiros. Num jogo avulso, como na excelente vitória do Benfica frente ao poderoso Atlético de Madrid, tudo é possível. No conjunto dos jogos, cinco anos das últimas edições, dizem-nos que em 90% dos casos, quem tem músculo financeiro é quem alcança o top-4 da Europa.
Esta é a outra Liga dos Campeões, que não se joga no campo, mas sim na qualidade e eficiência da gestão dos dirigentes. Nessa Liga, o Bayern de Munique alcançou em 2023, 419M de euros de receitas das atividades comerciais, dos quais 264M de patrocínios. O Barcelona, outro rival na Champions atual, obteve em 2023/24, 370M de dólares apenas em patrocínios. Recentemente, fechou um contrato de Naming do seu estádio por 70M anuais (Spotify). Há quantos anos está o Benfica à procura de uma parceria deste tipo? Há apenas uns dias Joan Laporta, Presidente do Barça, fechou um contrato com a Nike de 127M de euros anuais e um bónus de assinatura de 158M. O valor total do contrato de longa duração é de 1700M de euros.
Segundo o Relatório e Contas, o futebol do Benfica encaixou em 2023/2024, 22M de euros de patrocínios, 12 vezes menos que o Bayern de Munique e cerca de 15 vezes menos que o Barça. Estas diferenças abismais, não podem ser apenas explicadas pela habitual remissão para a escassa dimensão nacional. Espanha tem uma economia de cerca de 35% da economia alemã. Contudo, tanto o Real Madrid (+13%), como o Barcelona (+69%) superaram o Bayern no total dos seus rendimentos operacionais em 2022/2023. O fator critico decisivo, pois, tem que ver com a eficiência da gestão empresarial dos clubes.
Após a recente grande vitória sobre o FCP, os dirigentes do Benfica, simpaticamente, anunciaram que, jogando a equipa sempre com o mesmo empenho, será possível ganhar todos os jogos no futuro.
Porém, talvez mais importante que dissertar sobre metas irrealistas, seja fazer um avanço significativo e constante na recuperação do diferencial de receitas, sobre as quais assenta hoje a dominância dos nossos rivais atuais, Bayern, Barça e Juventus, e de outros colossos europeus. Basta consultar o Relatório e Contas do Barcelona 2022/2023 para encontrar uma vasta panóplia de atividades geradoras de receitas, incluindo inovadoras iniciativas no digital.
Isso amenizaria a tentação mercantilista em que assenta o atual modelo de negócio do Benfica: a venda anual do melhor jogador da época. Um ano, Ramos, depois Neves, amanhã Tomás Araújo. Com o correspondente empobrecimento desportivo do plantel e a instabilidade da equipa-base.
Não é pois apenas, nem principalmente, Bruno Lage, que deve estar em avaliação na Liga de Campeões.
Esta Champions oculta, distante da atenção mediática, determinará, no horizonte dos próximos anos, o sucesso da Champions desportiva. Nesta outra Liga de Campeões, que se disputa no terreno da competência da atuação empresarial, estamos hoje em situação precária, longe da norma de efetividade do topo europeu, como se viu nos indicadores acima. Cada função tem a sua Liga dos Campeões para enfrentar e, no final, todos, treinador e dirigentes, cada um no momento apropriado, deverão ser avaliados pelos resultados que alcançaram e pelo legado que deixaram."
Nuno Paiva Brandão, in Record

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

O MELHOR ESTÁ NO FIM😂😂😂😂


ANÁLISE AO BENFICA: DO AUTOCARRO BÁVARO AO ATROPELO HISTÓRICO

 


"A última semana de futebol de clubes antes de mais uma paragem para Selecções revelou um Benfica de duas faces. Por um lado, um tropeção em Munique, que ficou longe de deixar a melhor imagem na Europa. Por outro, um jogo clássico na Luz frente ao FC Porto, no qual as “águias” se agigantaram como não o faziam há seis décadas.

1. Descaracterização total na Baviera
Bruno Lage colocou em prática um 433 que lhe garantiu várias vitórias de seguida, mal chegou ao Benfica. Posteriormente, o mesmo 433 viria a sofrer mudanças estratégicas consoante o adversário, mas sempre na base de alteração de dinâmicas ou jogadores. O que se viu em Munique foi uma descaracterização do trabalho feito até então. O Benfica não só entrou muito defensivo e muito baixo no terreno, como também abdicou de atacar. Lage alterou o sistema para um 532 que nem isso chegou a ser porque a equipa nunca o conseguiu interpretar. Pelo mapa abaixo, é vísivel a “confusão” revelada pelos posicionamentos médios dos jogadores encarnados. O Benfica terminou esse jogo com 0 (zero) remates enquadrados. Por sua vez, no jogo com o FCP, na Luz, O Benfica voltou ao seu sistema (433) e com isso o conforto chegou e todos os jogadores estiveram confortáveis para expor em campo tudo o que sabem. No clássico o Benfica anulou tacticamente a equipa de Vítor Bruno e mostrou sempre muita vontade em atacar e chegar ao golo.
[ Em baixo: o mapa de posicionamento das acções dos “encarnados” em Munique, um autocarro confuso e votado ao insucesso ]

2. Defender? Sim, mas bem
Mesmo recorrendo a uma equipa com cinco defesas e um meio campo com três elementos que tinham como missão bloquear a organização ofensiva do Bayern, o Benfica acabou por conceder muitos lances dentro da sua área. É verdade que o Bayern não teve muitas bolas de golo, mas quando se chega às 51 acções dentro da área adversária, o difícil será não mercar. Voltando ao jogo na Luz, o mindset foi diferente (também porque o poderio do adversário era outro). O Benfica quis sempre ganhar e aplicou uma pressão eficaz na saída de bola do FC Porto que fez com que a equipa azul e branca nunca conseguisse construir ou até esticar na frente em Samu. Defendeu muito mais à frente, procurou ter iniciativa do jogo e retirou dividendos disso marcando relativamente cedo nas duas partes.
[ Em baixo: o mapa das 51 acções com bola permitidas pelo Benfica em Munique, o quinto pior registo da Champions 24/25 ]

3. Tomás a “10”
Tomás Araújo tem sido provavelmente o jogador mais regular do Benfica desde o arranque da temporada. No clássico foi para muitos o melhor em campo. Defensivamente esteve bem, mas é o seu jogo de pés que entusiasma. Acabou o jogo com 10 passes progressivos executados. Entre passes verticais pelo chão e passes longos pelo ar, Tomás é um farol. Estas entregas podem parecer simples, mas poucos centrais as fazem com tanto sucesso (exemplo: é o factor que mais distingue, pela positiva, o jogo do rival Gonçalo Inácio). O jovem português quebra linhas de pressão adversárias ao encontrar o homem solto nas costas da pressão. Assistiu para o golo inaugural (num grande passe de trivela) e lança Bah para o golo dividido entre Pavlidis e Pérez. É claro que tem de melhorar alguns aspectos, nomeadamente o seu jogo aéreo, mas a qualidade com que constrói é muitas vezes essencial para o Benfica.
[ Em baixo: os 10 passes progressivos eficazes de Tomás Araújo no clássico, ninguém somou mais no jogo grande ]

4. Di Magia, dos jogos grandes!
Depois de estar ligado a várias finais de clubes e selecções, Di María voltou a aparecer num jogo grande. Desde cedo que se percebeu que Ángel compareceu no clássico com energia para abanar o jogo. Nem sempre decidiu bem, mas a verdade é que saiu com dois golos e muitos lances de perigo. Até mesmo na disponibilidade física esteve acima dos últimos jogos, fazendo vários piques onde tinha muito campo para correr. Além de tudo isto, Di Maria pincelou o jogo com vários pormenores dignos da carreira de um tecnicista, como sempre foi. Certamente que Francisco Moura se vai lembrar desta noite durante muito tempo porque não foi fácil lidar com o argentino: o lateral portista perdeu os quatro duelos que disputou com o MVP da partida.

Um Benfica de duas faces, o que se mostrou nos dois jogos “grandes” antes da paragem. Num jogo, Bruno Lage quis defender e procurar uma transição que lhe permitisse pontuar em Munique e no outro os encarnados quiseram dominar desde o inicio e rectificar a imagem deixada na semana europeia. Lage tem optado por adaptar a equipa ao adversário que tem pela frente. É um treinador que estuda muito os adversários e por isso, consegue colocar em prática uma vertente estratégica que Schmidt nunca teve, porém, é preciso cuidado porque quando a estratégia é demasiado complexa ou algo que a equipa nunca fez, acaba por resultar numa exibição pobre como a de Champions. Para o treinador do Benfica a tarefa é “simples”, já descobriu a fórmula que resulta agora é ir gerindo sem grandes invenções que deixem a equipa desconfortável."

Bruno Francisco, in GoalPoint

DEPOIS DOS CARTÉIS COLOMBIANOS E MEXICANOS, PORQUE NÃO OS BRASILEIROS?

Preocupante!