Os promotores da contratação de Jesus venderam a ideia de provocarem rombo irreparável no Benfica, mas verificou-se o contrário: fizeram-lhe um favor impagável
Em primeiro lugar quero pronunciar-me sobre uma frase de Jorge Jesus na conferência de imprensa depois do empate nos Barreiros, ao indicar o segundo lugar no campeonato como objectivo a perseguir no que falta preencher da temporada desportiva.
Parece-me uma precipitação, a quente, na medida em que, apesar do quadro problemático, que é visível e reconhecido, ainda agora começou a segunda volta. Há dezasseis jornadas por disputar, os três candidatos têm de defrontar-se entre si, em jogos sempre especiais e à margem de todas as projecções, além de ter de contar-se com outros intervenientes, casos de SC Braga, Vitória de Guimarães, Rio Ave e Marítimo, por exemplo, com argumentos para interferirem nas contas do título.
Por outro lado, há o respeito pela grandeza da instituição Sporting e um plantel formado por profissionais de diferentes sensibilidades e capacidades que, na sua esmagadora maioria, de certeza, não deve ter gostado do que ouviu, principalmente a cerca de duas semanas do próximo clássico, no Dragão.
Quero acreditar que não passou de um frase irreflectida, dita em ambiente de tensão e não tradutora do pensamento de quem a proferiu. Julgo ser este o comentário que fará mais sentido, dado entender-se mal que por detrás dela possa haver uma segunda intenção.
Sobre o desempenho da equipa, além de estar a tentar transferir-se o ónus para os jogadores, ele só pode espantar quem não se deu ao trabalho de pensar um pouco na relação benefícios/prejuízos quando se anunciou a extravagante aquisição, ou quem nem sequer deitou um olhar ligeiro ao currículo de Jesus. Se o tivessem feito, depois de um ano fracassado e de outro caminho disso, saberiam que a sua época forte é a primeira, a do tratamento de choque.
Nesse período é eficaz, por ser um treinador que prefere as corridas curtas às maratonas. O efeito surpresa dilui-se, portanto, assim que é resolvida a chamada situação de emergência, entre outros factores regra geral desvalorizados e que mais tarde ou mais cedo começam a fazer mossa ao nível da coabitação desejável entre a liderança que se quer natural e discreta e o diálogo que se pretende sem ruídos entre todos os elementos da comunidade futebolística.
Com tudo a ser posto em causa, emerge uma conclusão que até os mais recalcitrantes devem sentir dificuldades em contrariar: muita parra e pouca uva. Os promotores da contratação de Jesus venderam a ideia de provocarem rombo irreparável no Benfica, mas verificou-se o contrário: fizeram-lhe um favor impagável, ao libertá-lo do adamastor por ele criado e que se transformara num obstáculo à prossecução da política de crescimento estabelecida para o emblema da águia, como Luís Filipe Vieira já explicou.
Ano e meio depois - o futebol é feito de momentos, hoje é assim, amanhã logo se vê -, o Benfica lidera a classificação no campeonato, está na Liga dos Campeões e mantém no seu horizonte a Taça da Liga e a Taça de Portugal. Continua em todas as frentes. Afirmou Rui Vitória, em conversa com o jornalista Hélder Conduto, que não existem prioridades, há a vontade de ganhar aliada à noção de se poder perder. Ou seja, a garantia de que a solidez do projecto vermelho se sobrepõe ao sentido de um qualquer resultado. Em contraposição à realidade leonina, em que a fragilidade do projecto verde ameaça colapsar sob o peso de promessas em cima de promessas por cumprir.
O título do segundo lugar é o que Jesus alvitra - ou do terceiro, porque no FC Porto Nuno Espírito Santo não dá sinais de cedência -, o que suscita um questão intrigante e para a qual ainda não consegui resposta minimamente esclarecedora. O vencimento de Jesus era escandaloso no Benfica e subiu para ofensivo no Sporting face à realidade social do nosso país, mas, tudo bem, faria parte de uma encenação para sustentar a espaventosa operação. O que não enxergo é a razão por que, decorrido menos de um ano, o presidente resolveu aumentá-lo e prolongar-lhe o contrato. Como prémio por ter conquistado nada? Ou quase: venceu uma Supertaça, o legado que Marco Silva lhe deixou. Que deve estar a sorrir, tal como Leonardo Jardim.
Markovic está a caminho de Inglaterra. Constava na lista de dispensáveis em Janeiro, da qual fazem também parte Azbe Jug, André, Elias, Meli, Petrovic e Douglas. Poupar é preciso, de aí a tentativa de colocar no mercado quem convence pouco. E o misterioso Bruno Paulista? Alguém se lembra dele? Não está na lista e, no entanto, chegou ao Sporting no verão de 2015. Joga muito raramente e nem se fala dele, embora a seguir à derrota de má memória com o Skenderbeu, na Albânia, ainda na época passada, o seu trabalho tivesse sido elogiado por Jesus, creio que o único jogador a merecer esse privilégio. Vá lá perceber-se..."
Fernando Guerra, in a bola
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