"O tribunal da Relação do Porto proibiu a divulgação electrónica do universo Benfica. Direi que foi feita justiça.
1. Esta vigésima quarta jornada da Liga NOS disputa-se, uma vez mais, de sexta e segunda. Com a consciência que com a importante presença do Sporting na Liga Europa continuaremos a ter, em regra, jogos à segunda feita ao longo do mês de Março. Que, aliás, arranca já na próxima sexta feita com um determinante derby no Dragão. Futebol Clube do Porto e Sporting medirão, uma vez mais, forças. Haverá perdas de pontos. Mas, antes, um e outro terão de ultrapassar, respectivamente, Portimonense (hoje) e Moreirense (amanhã). O Benfica ganhou, ontem, em Paços de Ferreira. Jogo bem complicado. Renhido. Mas Jonas mostrou, uma vez mais, que é um avançado do outro mundo. Classe pura. Faro único de golo. Excelência. E a unidade da equipa sente-se. É um colectivo vibrante. Que contagia as bancadas. Como aqueles em tons de vermelho que encheram a Mata Real. A forma como todos saltaram, liderados por Luisão, do banco de suplentes para a alegria do relvado, faz-nos acreditar no penta. Jiménez e Seferovic mostraram, uma vez mais, que são úteis. Muito úteis. E, perdoem-me a insistência, Rafa mostra-se, jogo a jogo, a Fernando Santos. Mas de Paços fica mais um jogo com a marca de Jonas. Quase apetece citar Ésquilo - na Grécia antiga - que «os malvados que têm sucesso são insuportáveis»!
2. Ver um jogo do Benfica na Casa do Benfica de Londres é um momento singular e um verdadeiro privilégio. Ao vibrar e degustar recordei, neste concreto tempo e nestas específicas circunstâncias, um livro de um dos mais entusiasmantes escritores portugueses do século XX, Aquilino Ribeiro. Esse livro tem um título longo: «Portugueses das sete partidas (Viajantes , aventureiros, troca-tintas)». É o que continuamos a ser mesmo neste período de uma nova emigração. Naquela casa vibra-se com o Benfica, multiplicam-se os abraços no instante do golo, questiona-se o VAR e, no meio, da Sagres e dos nossos gastronómicos sabores, a alma enche-se de paixão e de fervor, de nostalgia e também de lembranças. Esta emigração, jovem e competente, é a imagem concreta do Portugal europeu e, neste, há qualificação reconhecida, generosidade percebida e disponibilidade permanente. Estes viajantes, diferentes, sentem Portugal e percebem que Mourinho e Cristiano Ronaldo, António Damásio e José Saramago ajudaram e ajudam a evidenciar um outro Portugal. Que os títulos no futebol europeu potenciam e as novas almas do fado ou da música - como Salvador Sobral - multiplicam. Vibram com Portugal e vibram com o clube do seu coração. E nesta pausa de Londres, para além do Fernando e da Carla, do Francisco e do João, partilhei muitos momentos com o Mário e a Irene Vieira. Momentos que não esqueço e instantes que decerto se vão repetir. Cá e lá com a partilha, amiga e serena, do Paulo e da Cristina. Com a certeza que teremos de ir a Manchester ver um jogo do United e de regressar, com a alma imensa que nos acaricia e impulsiona, a esta Casa do Benfica de Londres. Espaço que acolhe todos e que, na sua diversidade, nos faz regressar, ao longo dos largos minutos de um jogo, às místicas de que também o nosso Aquilino Ribeiro nos dá nota naquele livro que merece uma leitura atenta e cuidada. E a fotografia nesta página é, tão só, a recordação de um instante. Uma memória de largos minutos. Já que a memória é o essencial. Da vida. Desta vida! Com a consciência desde Cícero (século II A.C.) que «onde se está bem, aí é a pátria»! É mesmo!
3. A situação de Rúben Semedo é bem complexa. Desde a passada quinta feita que está, em Espanha, em prisão preventiva. E o seu clube, o Villareal, anunciou a suspensão do salário do jovem e promissor jogador português e, logo, a suspensão do inerente contrato de trabalho desportivo. Permitem-me duas notas acerca deste caso. A primeira para evidenciar que, neste mundo de chorudos negócios e interessantes remunerações, parece não haver cautelas proactivas - ou, se quisermos, mecanismos preventivos - e só, surgem, em razão de dolorosas medidas de privação de liberdade, mecanismos reactivos. Aqui, tão só, de relevante acompanhamento pessoal e de necessária solidariedade. Onde se evidencia, aqui, a solidariedade dos dois Sindicatos de Jogadores e, em particular, do português. A segunda nota para constatar que a intermediação contemporânea não pode ser entendida, tão só, como uma mera realidade económica - financeira. A intermediação deve assumir uma responsabilidade social e, logo, com efectivos mecanismos de acompanhamento. E estes são mais importantes quer em razão da especificidade de cada jogador - já que cada um de nós é um ser que não se repete - quer em razão do local de trabalho e da imamente inserção pessoal e profissional. Há clubes que acompanham o dia a dia dos seus jogadores - por vezes com exageros... - e há outros, porventura a grande maioria, que apenas se preocupam com o que se passa no âmbito do seu complexo desportivo ou do seu concreto espaço de exercício do contrato desportivo celebrado... Conheço uma situação de um grande jogador que só se salvou em razão de uma solidariedade bem efectiva. Já que a detenção estava ao virar da esquina... E era mesmo ao virar da esquina! E assim é bem diferente a solidão da companhia. É bem diferente a fatalidade da solidariedade ao Rúben Semedo tem de ultrapassar as palavras ou escritos de circunstância. Determina, na medida do possível, visitas à prisão, palavras de conforto, sinais de encorajamento. É que os «ausentes nunca têm razão»!
4. Permitam uma nota acerca de patrocínios. A Liga espanhola de futebol - La Liga - depois de ténis com Rafael Nadal, da patinagem no gelo e do badminton, chegou à Fórmula 1. Patrocina a Renault e, entre eles, o Carlos Sainz. E, assim, o logótipo da Liga estará nos dois bólides e, também, nos fatos dos dois pilotos da equipa. É um casamento global. Com a velocidade da Fórmula 1 e a visibilidade global de Real de Madrid e Barcelona!
5. O tribunal da Relação do Porto proibiu a divulgação electrónica do universo Benfica. Direi que foi feita justiça. E construída uma tese jurisprudencial acerca da correspondência privada. Direi que foi tardia a proibição. Já foram divulgados muitos. E mencionados muitos cidadãos. Muitos mesmos. Recordo, tão só, e por ora, o nosso Padre António Vieira: «A justiça está entre a piedade e a crueldade: o justo propende para a parte do piedoso; o justiceiro para a de cruel»!
6. Na quarta feira teremos a outra meia-final da Taça de Portugal. Aves e Caldas procuram, numa luta decerto renhida, a presença na final do futebol de todos. E no Estádio de todos. O Estádio Nacional!"
Fernando Seara, in A Bola
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