"... até à palhaçada final. Ou como, enquanto se achar normal o que se tem passado, mais vale sorrir enquanto vemos o futebol definhar.
1. Desta vez António Salvador nem precisou de citar Bernard Shaw para merecer, ele próprio, uma citação. «Isto é uma vergonha», disparou o presidente do SC Braga durante a Assembleia Geral da Liga. Foi, de facto, uma vergonha o que se passou numa reunião que deveria servir apenas para discutir temas de superior importância para o futebol português. Transformou-se, contudo, em mais um espaço para lavar roupa suja - como se já não os houvesse em número mais do que suficiente. Atenção, tem direito o Sporting, ou qualquer outro clube, a recusar-se discutir qualquer tema com alguém que considere não ter condições para fazê-lo. Mas tinha, se fosse esse o caso, bom remédio: viam os seus representantes quem não queriam ver, levantavam-se e abandonavam os trabalhos. Não era, sequer, a primeira vez que o clube de Alvalade assim procederia. Deixar aquele reparo para o final da AG foi desnecessário. E arranjou, como só podia arranjar, mais uma confusão que o futebol português dispensava bem. Custa, até, a crer que foi sem querer...
2. Mantenhamo-nos na Assembleia Geral da Liga. Disse Mário Costa, responsável pela condução dos trabalhos, que nada de especial se tinha passado. «Foram discussões acesas, próprias de uma Liga que está viva a três jornadas do fim», foi a frase escolhida para comentar o incidente entre Bruno Mascarenhas (Sporting), Paulo Gonçalves (Benfica) e António Salvador (Braga). Daria, até, para rir se não fosse deprimente. Mas na tentativa (falhada, como se percebeu) do presidente da Mesa da Assembleia da Liga de desvalorizar o que se tinha passado encontramos, porventura, a explicação para o facto de nada mudar em Portugal: há gente com responsabilidades a pensar (e a acreditar...) que «uma Liga viva a três jornadas do fim» justifica insultos, ameaças e, um dia, até agressões - não vale a pena dizer nunca, quando pensamos que já vimos tudo aparece sempre alguém disposto a surpreender. Assobiamos, portanto, para o lado que afinal está tudo bem. É tudo normal. É, só, uma Liga muito competitiva. Ou estão todos cegos ou não lhes interessa ver...
3. Continua a moda das denúncias anónimas. É a última palhaçada deste enorme circo em que se transformou o futebol português. É, também, a mais desonesta, por colocar em causa, sem qualquer tipo de remorsos, a honra e o profissionalismo dos jogadores, apanhados numa guerra que não é sua e que não têm como ganhar. Ao mesmo tempo os ataques a árbitros, rivais e Comunicação Social, via canais e comentadores mais ou menos (muito mais do que menos) oficiais, continuam, violentos como sempre, indiferentes a quem apanham no seu caminho. Já lá vai, pelo menos, um ano desde que o clima ultrapassou todos os limites do razoável. Motivou umas reuniões, umas comissões, uns grupos de trabalho onde se fala, fala e fala sem que se chegue a qualquer conclusão. Enquanto não há vontade de agir continuemos, portanto, a falar. Pode ser que a coisa desapareça por magia.
4. Para os responsáveis de comunicação do FC Porto todas as notícias que dão conta do interesse de clubes estrangeiros em jogadores do líder do campeonato fazem parte de uma estratégia pensada pelo Benfica e executada pelos jornais. O objectivo? Desestabilizar o dragão nestes três jogos que faltam para o final do campeonato. Não faz, convenhamos, muito sentido. A não ser que os responsáveis do FC Porto entendam que os jogadores que tanto elogiam não têm, de facto, qualidade para despertar a atenção de clubes mais endinheirados que olham, desde sempre, para Portugal como um mercado apetecível. É assim tão estranho?"
Ricardo Quaresma, in A Bola
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