Glória benfiquista, o Luvas Pretas esteve no Estádio da Luz e deu uma grande entrevista ao Jornal O Benfica.
Espalhou classe pelos relvados nos anos 70 e 80. Hoje com 65 anos é lembrado como um dos melhores médios encarnados. Em entrevista exclusiva ao jornal O Benfica, João Alves falou sobre a sua história com o Clube.
Como recorda a sua primeira chegada ao Benfica?
Espalhou classe pelos relvados nos anos 70 e 80. Hoje com 65 anos é lembrado como um dos melhores médios encarnados. Em entrevista exclusiva ao jornal O Benfica, João Alves falou sobre a sua história com o Clube.
Como recorda a sua primeira chegada ao Benfica?
Eu vim para as camadas jovens do Clube com 14/15 anos. O meu primeiro ano de futebol passa-se nos juvenis do Sanjoanense, depois tive um convite para ir treinar ao FC Porto, mas fui indicado, por um amigo do Fernando Cabrita, ao Benfica. Acabei por ir na mesma fazer uns treinos no Porto, fui convidado para ficar, mas, aparecendo o Benfica e tendo em conta que vivi a minha infância numa altura em que estávamos na época em que o Benfica foi campeão europeu acabei por ir para Lisboa.
Jogou em Espanha, onde brilhou no Salamanca. Deve ter sido o único jogador da história do futebol a preferir o Benfica ao Real Madrid…
Sem a menor dúvida. Em Espanha fui o melhor jogador estrangeiro e o jogador do ano, mesmo estando todas as grandes vedetas no campeonato espanhol. No fim da temporada, entre Salamanca e Real Madrid estava tudo acertado, mas apareceu o Benfica. Eu tinha metido na cabeça que haveria de ser campeão com aquela camisola e, de facto, preferi o Benfica ao Real Madrid.
Foram bem mais de 100 jogos pelo Clube. Qual o significado de realizar tantas partidas de águia ao peito?
Poderia ter feito muitas mais. No ano em que volto do Salamanca não fomos campeões e fiquei muito desiludido. Depois vou para o PSG, que me tinha feito uma grande proposta. Em França partem-me uma perna e fico muito tempo parado. O que me levou a ganhar vontade de voltar a Portugal, até porque continuava com vontade de ser campeão pelo Benfica, e regressei. Recupero muito bem da lesão e ganho vários títulos com o Lajos Baróti, logo no primeiro ano. Curiosamente no dia 14 de Março fez 37 anos em que marquei o golo da vitória frente ao FC Porto que me deu o meu primeiro título de campeão no Benfica, e na noite anterior tinha nascido a minha filha, logo é uma data muito simbólica. Foram quatro anos magníficos.
É capaz de eleger os momentos que mais o marcaram na sua passagem pela Luz?
O primeiro momento positivo é a final do torneio internacional organizado pelo Benfica. Na final ganhámos por 1-0, sou considerado o melhor jogador da prova e nesse dia conheci a minha mulher. O jogo que referi frente ao FC Porto, no dia em que nasce a minha filha, também foi muito especial. Um momento importante foi também a primeira vez que fui eleito o melhor jogador do Campeonato. Uma grande desilusão foi a final da Taça UEFA, com o Eriksson. Outra foi a lesão num jogo de preparação antes do campeonato da Europa de juniores, em que fomos vice-campeões.
Foi uma das grandes figuras na campanha do Benfica em 1982/83 na Taça UEFA. Contudo, na final a duas mãos acabou por jogar apenas cerca de 30 minutos no segundo jogo. Ainda sente alguma mágoa por Eriksson o ter deixado 150 minutos de fora frente ao Anderlecht?
Foi realmente uma grande desilusão. A minha única final europeia e, logicamente, quem é titular uma época inteira e quer jogar em grandes palcos gosta de participar. Acabei por jogar meia hora na Luz, mas foi uma grandedeceção em termos futebolísticos. Contudo, esta questão com o Eriksson está ultrapassada e aproveito para dizer que foi um dos meus mentores enquanto treinador.
Houve, ou há, algum jogador do Benfica em que encontre semelhanças consigo?
Enquanto futebolista eu era alguém que marcava muitos golos. No Benfica quem jogava atrás de mim era o Shéu, um jogador fabuloso. O meu papel era de pautar o jogo da equipa, e talvez nesse aspeto fossem Pablo Aimar e o Rui Costa os mais parecidos comigo. Pode-se dizer que eu era um misto dos dois.
Por falar em treinadores, qual aquele que mais o marcou na Luz?
Como já referi, o Eriksson teve um papel muito forte. O Mário Wilson foi alguém com quem gostei muito de trabalhar, assim como os meus treinadores de Formação.
Ganhou vários títulos, realizando sempre temporadas brilhantes. Qual foi a época em que sentiu que se viu a melhor versão do João Alves?
Na temporada em que ganhámos tudo com o Lajos Baróti (1980/81), em que marquei 14 golos. Também aquela em que regresso do Salamanca, em que não fomos campeões mesmo à justa. Essas duas foram as minhas grandes épocas no Benfica. Os anos com o Eriksson também foram muito bons mas aí já sou um jogador diferente, mais posicional, menos ofensivo e não atingi o meu máximo.
Ao falar com o João Alves, é praticamente impossível não falar das luvas pretas, herança do seu avô. Existiu algum jogo em que sentiu que foram mesmo um amuleto de sorte?
As luvas sempre foram o meu amuleto, em todos os jogos em que joguei. Se há um encontro que culminou com todas as intenções que tinha na minha carreira desportiva, é o tal jogo com o FC Porto. Pois a minha filha nasce na noite anterior e marco um golo muito difícil, um tento fantástico devido a essa dificuldade, que me dá o primeiro título de campeão.
A poucas jornadas do fim do Campeonato, acredita no Penta?
Sim. O Benfica melhorou muito. Andou titubeante durante uns tempos, a saída de jogadores importantes até ser definitivamente ultrapassada foi um pouco complicada. Mas a transição de um sistema de jogo para outro veio trazer ao de cima as características principais da maioria dos grandes jogadores que fazem parte do plantel. Jogadores versáteis, muito habilidosos e com muita mobilidade.
Se fosse Rui Vitória, o que aconselhava aos jogadores para atingirem o título?
É muito fácil perceber o que acontece no Benfica. O toca a unir na equipa já se deu há muito tempo e, por isso mesmo, o Clube está com todas as condições para ser campeão nacional. O pior foi quando andou algum tempo sem depender de si próprio. Para esta melhoria há duas coisas que são fundamentais. Uma é o espírito de equipa, que se nota que é familiar e demonstra que todos eles lutam por um objetivo. O segundo é o peso do Clube e a grandeza que empresta aos seus atletas. Digamos que os jogadores se sentem campeões, pois jogar neste estádio obriga os jogadores a sentir a envolvência entre os adeptos e o próprio cenário do espectáculo que os galvaniza.
Qual a sua opinião sobre o técnico encarnado?
A primeira coisa é que foi uma grande surpresa para mim. Conheço o Rui Vitória desde os juniores do Benfica e depois disso andou a “comer feijão com arroz” para subir a pulso. Ganhou uma final da Taça de Portugal ao Benfica, com um banho de bola ao treinador da altura. Tudo isso deu-lhe arcaboiço para dar passos para chegar a outro lugar. Ao princípio foi uma aposta de risco do presidente, mas ganhou por mérito toda a confiança que é depositada nele. Gosto muito de ver toda a atenção que tem para com as camadas jovens. Isso significa muito para o Clube em termos de política desportiva. Tem conquistado títulos com a equipa a jogar bom futebol mesmo superando todas a contrariedades que lhe têm surgido. Por outro lado, é um excelente colega de profissão, que sabe estar no seu lugar.
Tem um passado com ligações à Formação do Clube, tendo já trabalhado no Caixa Futebol Campus. Qual a sua opinião sobre o trabalho que se tem vindo a desenvolver nos escalões mais jovens?
Tem um passado com ligações à Formação do Clube, tendo já trabalhado no Caixa Futebol Campus. Qual a sua opinião sobre o trabalho que se tem vindo a desenvolver nos escalões mais jovens?
O Caixa Futebol Campus foi um sonho realizado e é algo fundamental para o Clube. Comecei a trabalhar nos primeiros anos do Seixal e desde muito cedo começaram a aparecer grandes jogadores, sendo que alguns deles estão fazer uma boa carreira. Contudo, há casos de outros jovens que poderiam ter tido outro tipo de oportunidades no Benfica, mas a política na altura era completamente diferente. Destaco o papel dos torneios internacionais, como a Youth League, que dá aos jogadores o passo que é preciso para posteriormente chegarem aos seniores.
Como analisa o atual momento do futebol em Portugal, cada vez mais marcado pelos jogos de bastidores.
Acho nojento o que está a acontecer. Não se está a olhar a meios para atingir os fins. O futebol é o mais bonito desporto que existe, e a pureza da modalidade tem de voltar a ser transportada para o público. Os jogadores têm de voltar a ser os artistas, têm de voltar a ser o Robert de Niro do futebol.
E sendo comentador desportivo no ativo, considera que alguns os programas televisivos estão a ajudar a este clima mais tenso?
Alguns sim, sem dúvida. Mesmo aquele em que participo deveria ter mais imparcialidade, mas compreendo que existam pessoas a quem seja difícil manter a neutralidade. Enquanto puder dar a minha opinião, e a mesma servir para abrir mentes e favorecer o Clube, logicamente que o farei.
Há alguma mensagem que queira deixar para o mundo benfiquista?
Nasci benfiquista, chorei muitas vezes por este emblema e tive um orgulho enorme por ter representado este Clube. Após ter andado um pouco à deriva, vejo novamente que existe suporte, estaleca e capacidade. Estou com uma grande fezada de que vamos ser campeões, pela demonstração que tem vindo a ser realizada por esta equipa.
Grande João Alves.Conheci-o no "CHEZ DANIEL"na Lagoa de Santo André,com ele estava também o Carlos Manuel.Um forte abraço desde o Brasil.
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