Natureza do jogo
1. O futebol é um jogo fácil de entender, relativamente aos seus objectivos, às variadas formas de intervir sobre a bola, às relações básicas entre colegas e adversários. A sua aparente simplicidade esconde uma fenómeno assente numa lógica complexa, em virtude de contextualidade que envolve cada instante do jogo, fruto de inúmeras fontes de incerteza (companheiros, adversários, a bola, etc.). Destas fontes radicadas num universo de possibilidades de intervenção de domínio estratégico, táctico e técnico, desenvolve-se toda uma aleatoriedade, imprevisibilidade e transitoriedade de situação para situação, que induzem a múltiplas decisões, acções e interacções plausíveis, estabelecendo a dinâmica organizacional de cada equipa.
Transformação 'v.s.' maturação
2. Apesar das duas equipas estarem em níveis de rendimento diferentes relativamente às fases, etapas e momentos de jogo, o futebol produzido foi de nível superior. Ritmo, intensidade, emoção e oportunidades. Foi assim desde o primeiro segundo, as equipas assumiram o que queriam, trabalhar para atingir a final. Jogo em aceleração constante, equipas por vezes desequilibradas no espaço, mas não na concentração sobre as incidências de jogo. Mesmo a equipa arbitragem foi posta à prova num alto nível de exigência.
Sistemas tácticos iguais, processos de jogo diferentes
3. Tanto o Benfica com o FC Porto de 4x4x2. O FC Porto realiza uma pressão alta forte e intensa, mantendo a equipa compacta, e tirou proveito dessa acção no 1.º golo. Porém, ultrapassadas as possíveis zonas de pressão, existe espaço e possibilidade de passar por situações delicadas. No ataque os padrões de jogo estão bem assimilados e são eficazes. O Benfica procura a construção baixa, contudo nesta etapa de jogo o risco terá de ser zero, não dá para ter a bola mais de alguns centésimos de segundo, principalmente quando o jogador e recebe na direcção da sua baliza. E, quando se joga longo na profundidade para ultrapassar essa zona de pressão, é essencial ter referências na frente e atacar a 2.ª bola. As transições defesa/ataque na profundidade na direcção dos diferentes corredores de jogo conseguiram desequilibrar a estrutura defensiva do FC Porto, a questão passa por definir a etapa de remate (a eterna acção que marca indelevelmente o resultado final da partida).
Jogo de equipa e de jogadores (mas também de treinadores)
4. Em função do desenvolvimento do jogo as equipas foram-se moldando às circunstâncias. Alteram-se posições, missões tácticas de base e acções num real compromisso perante os objectivos das equipas. Numa só frase: reproduziu-se a essência do futebol.
(...)"
Jorge Castelo, in A Bola
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